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As chamadas igrejas neopentecostais parecem uma epidemia: proliferam-se em progressão geométrica sem que prestem contas de sua atuação e de seus recursos. Não que as demais instituições religiosas – como a católica – não façam o mesmo, mas a proliferação dessas igrejas a cada esquina faz pensar quem as financia, com qual intuito e por que seus recursos não são declarados?
Se pensarmos no contexto brasileiro, sobretudo a partir da década de 1990, quando essas igrejas passam a dominar praticamente as esquinas de todas as cidades e todos os rincões do país, o questionamento sobre a origem e o destino dos recursos capitaneados às custas daqueles que creem devem ser seguidos com uma lupa.
Angola, que importou do Brasil grande parte das igrejas neopentecostais que estão em seu território, está dando um exemplo que deveria ser absorvido por nosso país: extinguir aquelas que atuam ilegalmente, a fim de “normalizar o exercício da liberdade da religião, crença e culto”, conforme previsto na Constituição da República de Angola, informa o jornal português Diário de Notícias.
A decisão do governo angolano passou a vigorar no final de 2018, após anúncio do diretor nacional dos Assuntos Religiosos do Ministério da Cultura, Francisco de Castro Maria, que alertou que a moratória para a legalização de cerca de 1.220 confissões religiosas não reconhecidas oficialmente no país estavam prestes a terminar.
De acordo com dados oficiais do governo de Angola, em 2018, havia 81 igrejas reconhecidas no país, enquanto outras 1.100 aguardavam pelo reconhecimento legal. O documento que regulamenta a norma estabelece que as confissões religiosas cujos processos tenham sido desmembrados, cindidos e que exercessem atividade religiosa que desrespeitasse a lei teriam um prazo de 30 dias para “suprimir as inconformidades”.
O diretor explicou que: “Todas as igrejas ilegais têm a possibilidade de constituir até ao próximo mês os processos para legalizar, através de uma comissão instaladora e depois submeterem ao Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos para posterior reconhecimento”, e salientou, ainda, que cerca de 50% das igrejas em funcionamento no país são oriundas da República Democrática do Congo, Brasil, Nigéria e Senegal.
Castro Maria disse que Angola passou a considerar inadmissível a existência de igrejas sem registro e que exercem atividades comerciais contrárias aos direitos humanos e aos princípios da boa convivência. As igrejas estão proibidas de realizar propaganda enganosa durante os cultos que atente a direitos econômicos, sociais e culturais. Isso engloba, também, a proibição de cobrança de bens, serviços e os famosos dízimos em troca de bênçãos divinas, terrenos no céus e similares.
Para a manutenção das igrejas, a lei permite que solicitem e recebam contribuições voluntárias dos fiéis, assim como doações de empresas públicas ou privadas nacionais e estrangeiras. Entretanto, as entidades terão de declarar os bens que receberem a título de doações, em conformidade com a lei.
Outro ponto alto da nova legislação é que os líderes religiosos terão, também, que passar a declarar os seus bens. Os ministros de cultos de origem estrangeira terão que cumprir, de acordo com a lei, uma série de requisitos, entre eles: formação em teologia, experiência missionária e situação migratória regularizada antes da entrada em território angolano.
Para defender-se de acusações de que o Estado estaria interferindo na gestão interna das igrejas, o governo reafirma que: “A República de Angola é um Estado laico, havendo separação entre o Estado e as confissões religiosas”, de acordo com site Angola 24h.
A República de Angola deu um exemplo corajoso de enfrentamento a facções religiosas que, em geral, além de interesses econômicos, têm ambições políticas.
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