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Em nossa história várias mulheres diferentes e revolucionárias não se curvaram aos regimes totalitários e fascistas e por isso foram tratadas como loucas e banidas da sociedade. A escritora Annacarla Valeriano conta em seu livro Malacarne-Mulheres e Asilo na Itália Fascista as histórias de algumas dessas mulheres e como viveram em manicômios, por conta de serem contra o fascismo.
Este livro mostra mulheres marcadas pela vida em um manicômio, onde eram encaminhadas e ali ficavam porque combatiam e contrariavam o Estado Fascista, e por isso eram taxadas de loucas. Para tratar dessa loucura era aplica a terapia do aprisionamento, com a pretensão de libertá-las das condutas que conflitavam com as regras impostas pelo regime fascista da época.
O pretexto de usar o asilo, a fim de diagnosticar, medicar e tratar os “desajustes psicológicos” transformou os cuidados psiquiátricos em mecanismo de anulação e eliminação daqueles que contrariavam ou não serviam ao sistema. Nesse contexto, mulheres revolucionárias, ou vítimas do abuso imputado pelo sistema, acabaram em hospital psiquiátrico.
Este livro resgata a história dessas existências perdidas, através do uso sábio de uma documentação rica de arquivos: fotografias, diários, cartas, relatórios médicos, materiais inéditos que contam como foi essa triste experiência sobre o enfoque feminino das mulheres confinadas no manicômio. Mulheres distantes do ideal de esposa e mãe imposto pelo regime fascista como modelo e moral a serem rigorosamente seguidos.
Estas mulheres eram vistas como uma ameaça que poderia afetar o patrimônio moral do Estado. O asilo no manicômio tinha a função de restaurar a “normalidade”. Sobre isso a escritora Annacarla Valeriano escreve:
“Um dos locais para implementar uma política de vigilância que cancelava os direitos individuais em nome da ordem pública”,
As mulheres que se recusaram seguir os ideais propostos pelo fascismo, de acordo com esse sistema, precisavam ser reeducadas através da disciplina do asilo, para mudarem sua conduta dentro dos requisitos e padrões aceitos pela moral fascista.
Malacarne – Mulheres e asilo na Itália fascista (Donzelli Editora , 2017), de Annacarla Valeriano, relata o contexto de quarenta anos atrás, na Itália fascista, no qual as mulheres sofreram asiladas em hospitais psiquiátricos, que foram fechados em 1978 pela lei Basaglia.
Mulheres, as quais, a autora faz reviverem através de cada página de seu livro, onde nos é contado o modo como a sociedade usou e ainda usa como forma de exclusão, aqueles que ameaçam seus padrões ultrapassados, falsos valores e moralidade hipócrita.
Para contar essa história, Anna Carla Valeriano faz uma pesquisa nos prontuários de mulheres internadas no asilo Sant’Antonio Abate de Teramo (na época a maior instituição psiquiátrica da Itália, levando em conta o período a partir da última década do século XIX até 1950.
Os acontecimentos relatados no livro sobre esse asilo giram em torno do período fascista, quando as mulheres avessas às idéias do sistema fascista, foram consideradas Malacarne (mães inadequadas, rebeldes e histéricas) e por isso foram afastadas da sociedade, para não corromperem o “patrimônio biológico e moral” do Estado.
Na maioria das vezes, eram as próprias famílias, pais e maridos que julgavam e condenavam a conduta dessas mulheres, pois o comportamento delas podia prejudicar, diante do sistema, quem estivesse com elas.
Essas mulheres rebeldes só almejavam independência e liberdade, por isso desobedeciam, fugiam de sistema familiar rígido e hostil, tinham temperamento libertário e emancipado, o que para o Estado e as autoridades fascistas eram uma grande ameaça e afronta.
Para contê-las, o sistema fascista as tirou de circulação, internando-as como loucas.
A liberdade dessas mulheres só veio com a morte, provocada pelo sofrimento e tortura, efeitos de tanta repressão.
Anna Carla Valerian e Costantino Di Sante, organizaram uma exposição intitulada “As Flores do Mal – Mulheres em um asilo no regime fascista “, com fotos das mulheres, meninas e jovens que foram internadas no asilo Sant’Antonio Abate de Teramo, como loucas, sem assim serem!
A exposição resgatava olhares que revelam, na expressão de cada pessoa feminina, seja criança, jovem, adulta ou mais velha, a dor e a limitação provocada pela injustiça e opressão de um sistema perverso, preconceituoso e estereotipado.
A exposição esteve na Casa della Memoria e della Storia di Roma, na Itália, em 2016 com entrada franca.
A autora desse livro teve por objetivo restaurar a humanidade e a dignidade de todas aquelas e foram expulsas, presas e removidas da sociedade no período fascista.
Estas foram condenadas à reclusão, por não perderem o senso crítico e a lucidez, ao contrário de quem apoiou cegamente o fascismo na Itália. Este livro enaltece todas que se rebelaram e não se adequaram a uma sociedade insana e corrompida.
E, já dizia o sábio indiano Jiddu Krishnamurti:
Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.
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