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Embora aqui no Brasil se venda a ideia de que o modelo universitário dos Estados Unidos é uma maravilha, esconde-se que há um custo muito alto para bancar a excelência de algumas universidades estadunidenses e quem banca isso são as famílias dos jovens universitários.
Ou seja, um estudante formado, na faixa etária dos 22 anos, inicia a sua vida com uma dívida milionária decorrente do investimento feito para ter um diploma de graduação. Isso quer dizer, na prática, que se você (e sua família) não tem condições de pagar cerca de U$ 25 mil semestralmente (custo que, a depender do curso e da instituição, pode chegar a quase U$ 50 mil), você estará fora do mercado dos melhores empregos.
O que essa geração de jovens, no início da vida e com uma grande dívida, tem feito? Voltado para a casa dos pais. É o caso, por exemplo, de Grace Chang, que, após três meses de formada, decidiu voltar para a casa dos pais. Chang, que se graduou em Geologia e recebe um salário de U$ 39 mil ano, entendeu que, com a dívida de U$ 50 mil que tinha contraído por causa da faculdade, era melhor retornar à casa da família. Segundo ela: “Pagar a dívida estudantil já é estressante. Ter que pensar no aluguel além disso pode acabar com uma pessoa”.
Chang é uma das milhões de jovens adultos que têm retornado à casa dos pais após a faculdade. Essa é a realidade de um terço dos jovens norte-americanos entre 18 e 34 anos – proporção que, em 1975, era de um quarto, segundo matéria do Vice.
Esse cenário também tem se tornado cada vez mais comum no Brasil, desde que os financiamentos estudantis, como o FIES, fizeram com que os novos graduados saíssem da faculdade endividados. Diferentemente dos EUA, onde mesmo as instituições públicas cobram uma taxa de seus estudantes, no Brasil, os jovens endividados cursam instituições privadas, as quais, em geral, recebem avaliações de qualidade inferiores em relação às universidades públicas. Além de esses jovens pagarem para estudar em instituições de qualidade muitas vezes criticável, o perfil desse grupo é composto, em grande parte, por estudantes que já são trabalhadores antes mesmo de se formarem.
Para alguns jovens, voltar a viver com os pais após a faculdade, longe de ser um sinal de “derrota”, pode ser uma forma de estreitamento da relação. É o que pensa Libby Collyer, de 26 anos, médica e mestra. Como ela não conseguiu entrar para a escola de medicina, voltou para a sua cidade-natal. Segundo a jovem, esse retorno “fortaleceu meu relacionamento com meus pais”, além de ela comer melhor.
Recentemente, aliás, um estudo, publicado pela BBC, alertou sobre geração de jovens estadunidenses que vive em situação de insegurança alimentar e em moradias precárias. Isso se deve aos altos custos com moradia, alimentação, mensalidade, livros que os estudantes têm que bancar mas que muitos não conseguem.
Se por um lado as mordomias da casa do pai e da mãe são bem-vindas, no quesito privacidade sobram críticas. Collyer diz que, ainda aos 26 anos, os pais a enchem de perguntas. Essa é a mesma opinião de Roy Rosas, 25 anos, que teve de colocar limites na relação com os pais. “Sou tratado como se tivesse voltado pro colegial, mesmo depois de ser independente na faculdade”, conta o jovem desempregado, cujos pais arcam com todas as suas despesas, incluindo os U$ 170 mensais da sua dívida de U$ 40 mil.
A situação de Rosas é similar a de muitos jovens com curso superior que não consegue arrumar um emprego satisfatório. Muitos deles acabam trabalhando em serviços precários ou incondizentes com a sua formação. Segundo ele, “Às vezes eu explodo com os meus pais ou eles explodem comigo porque eles questionam meu diploma e minha ética de trabalho. Eles não veem quanto tempo passo mandando currículos só para ser rejeitado toda vez, sem nem conseguir fazer uma entrevista.” O jovem, que trabalha como especialista em redes sociais na indústria de turismo, ganha apenas U$ 8,25 por hora.
Mesmo chateado com a sua situação, ele tenta se animar, pois, afinal, cada um tem o seu caminho para seguir e o tempo de percorrê-lo. “As pessoas têm ritmos diferentes, então não tente se comparar com os outros”.
É claro que cada um tem a sua história e os seus instrumentos para realizar-se profissionalmente. Mas essa situação que, hoje, é comum nos Estados Unidos e que, mais recentemente, instalou-se no Brasil não pode ser encarada apenas com o discurso da meritocracia, como prevalece no país do norte.
A lógica capitalista é perversa e, cada vez mais, o que vemos no mundo todo, inclusive na Europa, é a precarização dos empregos e a insegurança jurídica nas relações de trabalho, ao mesmo tempo em que temos um aumento da profissionalização no mercado de trabalho.
Embora seja muito bom ter o carinho dos pais, cama comida e roupa lavada, todo adulto que estuda e se dedica para ter uma profissão quer trabalhar e ter a sua independência. Temos que ser críticos de um modelo que está sendo moldado para nos submeter a uma precarização contra a qual devemos lutar. Jovens precisam de perspectiva, isto é, saber que existe um horizonte no qual há uma possibilidade de vida digna e para a qual seu empenho seja valorizado.
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