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Hoje em dia está difícil emitir uma opinião e não ser rotulado de “careta”, “quadrado”, “de direita”, “de esquerda”, “moralista”, “machista”, “feminista”. Enfim, essas categorizações essencializam visões de mundo e reduzem um debate social que poderia ser muito rico.
Por exemplo, como falar sobre a exposição nas redes sociais, sem querer parecer um impositor de limites à liberdade de expressão?
É verdade que, hoje, as mulheres têm mais meios de denunciar abusos, de se expressar e exigir respeito sobre as suas escolhas e sobre o seu corpo. E as redes sociais têm um papel fundamental nisso, porque através delas as mulheres puderam encontrar uma rede de sororidade, mas, também, foram expostas a toda uma cultura de misoginia que existe no Brasil e no mundo.
Fatos recentes atestam este problema social e cultural, como os casos de estupro coletivo (um deles tornou-se notório por ter sido filmado e postado no Facebook), de feminicídio e, esta semana, de um jovem cisgênero, vítima de violência sexual, que ouviu de seu agressor “Você salvou uma mulher”.
Todos esses episódios mostram a vulnerabilidade, sobretudo das mulheres – e, também, da comunidade LGBTTI (lésbicas, gays, travestis, transexuais e intersexuais), fora e dentro dos domínios da internet.
A exposição nas redes sociais atinge todo mundo, brancos, pretos, ricos, pobres, católicos, muçulmanos, mas, no caso de menores, e, especialmente no caso das meninas, a vulnerabilidade pode ser ainda maior.
É bem difícil você censurar o short, o decote sem parecer machista, afinal, o corpo é dela, certo? E nenhuma violência contra as mulheres pode ser aceita ou atenuada por conta da sua vestimenta, certo? Certíssimo!
E, tratando-se de adolescentes, fotos em festinhas com bebidas alcoólicas, além de o consumo ser ilegal para essa faixa etária, podem comprometer os jovens e toda a sua família. E quando os meninos fazem comentários machistas e têm atitudes machistas, como postar vídeos e fotos de intimidade com alguma garota?
Pode ser difícil tocar nessas questões quando elas são voltadas para as meninas, porque ficamos inseguros sobre como lidar com as imposições sociais que as mulheres sofrem e como combater o machismo.
Como fazer com que as meninas se sintam confiantes e confortáveis com o seu corpo e a sua identidade e os meninos respeitem-nas da forma como elas são e querem ser?
O machismo é herdado culturalmente, e os pais de meninos são responsáveis pela perpetuação dele, por isso, devem ficar atentos aos conteúdos, às atitudes e aos exemplos a que os rapazes são expostos e serem responsáveis por uma formação não machista. Pois é fato que são as mulheres os principais alvos de crimes e exposições vexatórias, humilhantes e degradantes nas redes sociais (e fora delas).
A exposição na rede pode trazer consequências desastrosas e para a toda a vida… E os pais, amigos, educadores precisam saber falar sobre isso com seus filhos adolescentes.
A sexualidade para muitas pessoas é um tema tabu, sobretudo em ambientes mais conservadores. Muitos pais e muitas escolas têm dificuldade de tratar desse assunto com crianças e jovens, mas ele é fundamental para a formação da subjetividade de qualquer pessoa. Uma sexualidade mal resolvida pode acarretar problemas por toda a vida.
A sexualidade está presente em todas as etapas da nossa vida, inclusive, na infância, mas apresenta características diferentes entre elas. Por ser algo tão natural, a sexualidade deveria ser um assunto conversado também de forma natural, para que as pessoas se sintam seguras, confiantes e possam se desenvolver com responsabilidade.
Segundo o site Netica, a palavra inglesa “sexting” é uma forma de expressão da sexualidade pela qual os jovens fazem uso na Internet, em seus aparelhos celulares, para produzir e publicar fotos sensuais de seus corpos (nus ou quase nus). A prática também envolve a troca de mensagens de texto eróticas, brincadeiras sexuais entre namorados(as), pretendentes e/ou amigos(as).
É muito importante que pais e educadores abordem a diferença entre sexualidade e sexo. Sexo é uma das formas de expressões da sexualidade que envolve a escolha de um(a) parceiro(a) e que deveria acontecer a partir do amadurecimento emocional e do corpo.
Por falta de diálogo com pais e amigos, muitos jovens descobrem a sexualidade nas redes sociais, em buscadores e em conversas íntimas com desconhecidos. A sensação de anonimato que a tecnologia pode dar, faz com que as pessoas fiquem desinibidas para falar certos assuntos e se mostrar um pouco mais. O problema é que quem está do outro lado pode ser uma pessoa bastante mal intencionada. Por isso, deve-se tomar muito cuidado ao postar algo de cunho pessoal nas redes sociais.
Faça uma comparação entre o que você faria na vida off e on line: você colocaria fotos íntimas no mural da escola ou sairia distribuindo essas fotos por um shopping center? Por que, então, fazer isso na Internet, que também é um espaço público? É papel de pais e educadores conversar com os adolescentes sobre a complexa relação entre público e privado em época de tanta exposição.
Já está comprovado que não existe segurança nas redes sociais, haja vista o caso Snowden, que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da NSA americana, e o WikiLeak, uma organização transnacional sem fins lucrativos, que publica, em sua página, postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis.
Muita gente acredita que basta usar as configurações de privacidade, permitindo o acesso ao seu conteúdo pessoal somente aos “de casa” para estar seguro na web mas, pense que qualquer amigo querido, infelizmente, pode sim usar uma tua foto, mesmo que na melhor das intenções, e fazê-la cair na rede. E mesmo que aplicativos como Instagram não permitam copiar fotos, um screenshot resolve qualquer problema, ou uma foto da tela, feita pelo celular.
A partir do momento em que uma informação ou foto cai na rede, perde-se totalmente o controle sobre ela. “A internet é uma grande praça pública. Tudo o que você fala ou mostra nela se espalha rapidamente e pode chegar aos ouvidos de gente que você não conhece. Como toda praça, está cheia de pessoas maravilhosas, mas também de gente mal-intencionada”, alerta Rodrigo Nejm, psicólogo da ONG SaferNet.
Por isso, é preciso muito diálogo para que os filhos entendam a importância de serem responsáveis pelas suas atitudes, inclusive em relação ao que fazem no mundo virtual.
Infelizmente, não há como apagar uma foto íntima que vazou na internet, mas dá para minimizar os danos.
A orientação é imprimir todas as páginas onde as imagens podem ser encontradas, anotar o endereço de internet e enviar uma carta registrada à empresa que hospeda o site solicitando a retirada do conteúdo.
Pode-se acionar a Justiça, indo a um cartório com as cópias impressas das páginas e dos os endereços e solicitando a autenticação do conteúdo. Feito isso, vá a uma delegacia e registre um boletim de ocorrência.
Há probabilidade de que a imagem seja direcionada para um site de conteúdo erótico, se for sensual ou íntima. Nesse caso, também é recomendado registrar um boletim de ocorrência seguindo os passos acima. Hoje em dia, já existem delegacias especializadas em crimes cibernéticos preparadas para receber esse tipo de denúncia. Você pode consultar a lista de endereço dessas delegacias, que já estão atuando em 11 estados, no site da SaferNet. A SaferNet é uma ONG brasileira de defesa dos direitos humanos na internet. Ela oferece um serviço 100% gratuito de orientação para vítimas de perseguição virtual.
Mas não apenas conteúdos eróticos podem ser usados contra o seu filho, que pode ser vítima de bullying virtual, uma forma de ridicularização via internet (desenhando chifrinhos, distorcendo o corpo, mudando o fundo ou fazendo qualquer coisa que torne aquilo constrangedor.
Se a ofensa foi grave e estiver registrada, denuncie!
Algumas dicas de segurança são fundamentais na nossa vida, off e on line. Assim como não devemos “dar bobeira” na rua, também temos de ser precavidos nas redes sociais, onde circulam várias informações pessoais a nosso respeito.
Evite informar onde o filho estuda, o endereço de onde vai se hospedar nas férias, onde vai sair para jantar… Enfim, menos é mais: menos detalhes, mais privacidade e mais segurança. Um estudo publicado no Ietec mostra que 40% dos usuários dão acesso livre a seus perfis, permitindo que qualquer um veja suas informações.
É preciso cautela sobre o que escrever e postar nas redes sociais, para que um comentário ou uma foto não se transformem em um transtorno e, até mesmo, em uma tragédia.
Deve-se evitar publicizar conversas pessoas, informações corporativas, fotos íntimas, detalhes familiares, informações financeiras, senhas, etc.
Há pessoas que criam perfis falsos nas redes sociais à espera de uma distração dos internautas.
Não há como evitar usar a internet. Até mesmo as crianças podem fazer bom uso dela em atividades escolares, por exemplo. Elas devem ter o acesso restringido pelos pais, visto que ficar logado o tempo todo não faz nada bem à saúde.
Existem outras atividades para serem feitas e outras formas de socialização interessantes, divertidas e instrutivas. Os pais devem estimular os filhos a encontrarem os seus amigos, a praticarem uma atividade física, a verem um filme, a lerem um livro…
Quando a internet e as redes sociais são utilizadas para informar, mobilizar e ajudar, torna-se nossa aliada. Aos pais, cabe orientar os filhos sobre como se comportarem nas redes sociais, da internet e fora dela, claro.
Bom senso é fundamental para discernir o adequado do inadequado, mas para isso é preciso dialogar com crianças e jovens.
Tomando algumas precauções, a internet pode ser usada de forma muito proveitosa! Pense nisso!
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