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Quem tem pelo menos 30 anos sabe que a comunicação mudou muito. Se quiséssemos, há uns 25 anos, entrar em contato com alguém da nossa rede social, tínhamos que fazer uso do arcaico telefone de disco. Até um fato chegar a se transformar em notícia demorava um tempo cuja medida, hoje, muita gente desconhece.
Os dispositivos eletrônicos, a internet e as redes sociais nos permitem acompanhar e interagir instantaneamente com os fenômenos da vida social. Com os isso, os modelos de negócio em comunicação também mudaram, pegando carona nos variados formatos de se produzir conteúdo, sejam informativos, sejam de entretenimento, dando origem a uma nova forma de narrar conhecida como narrativa transmídia.
Num passado nem tão distante, com exceção de alguns programas de rádio, os jornais e a televisão funcionavam sem a participação interativa do público. Com a internet, essa comunicação quase unilateral mudou. Os consumidores de informação e de entretenimento (que, sim, são um produto) passaram a ter voz nos gêneros informativos e publicitários. Isso permitiu que as empresas, por um lado, começassem a conhecer mais os seus clientes e estes, por sua vez, começaram a ter mais força para ajustarem os produtos e serviços utilizados às suas necessidades.
Mas não apenas a internet provocou uma grande mudança na comunicação. A integração dos meios de comunicação em pequenos dispositivos móveis e ubíquos fez com que empresas e consumidores se tornassem entidades onipresentes, já que ambos podem interatuar a qualquer hora e lugar.
Para as empresas, isso representa ter em mãos estratégias de marketing multifacetadas, já que elas podem estar em mais de um meio de comunicação ao mesmo tempo difundido seus produtos e ideias. Ou seja: um único conteúdo pode ser distribuído em diferentes canais. Para isso, é preciso criar novas possibilidades de contar uma história, considerando, ainda, que ela será recontada pelos usuários e consumidores, os quais podem, até mesmo, modificá-la. Mais do que contar uma mesma história em diferentes canais, a mesma história deve ter partes distribuídas e complementares entre si. Uma estratégia emocional da mais sofisticada para alcançar mais pessoas.
Casos notáveis de narrativas transmídia podem ser vistas nas séries. Aliás, desde Star Wars elas já vêm sendo usadas, assim como em Matrix e Harry Potter. Mais recentemente, a Netflix fez disso um grande negócio. Suas séries ultrapassaram as telas do computador tendo chegado, este ano, a Cannes, gerando uma grande polêmica levantada pelo diretor espanhol Pedro Almódovar.
Duas séries que estão sendo muito discutidas agora são “Cara gente branca” e “13 Reasons Why”. Elas passaram a ser debatidas pelos seus espectadores nas redes sociais chegando a ser notícias de jornal pelos seus conteúdos polêmicos.
“Cara gente branca” é uma série que fala sobre racismo dentro de uma universidade dos Estados Unidos, um microcosmo do que acontece na sociedade desse país. A série retrata, de forma satírica, a vida de estudantes negros em uma renomada universidade cujos alunos são predominantemente brancos. Logo após ser lançada, começou a receber inúmeras críticas, positivas e negativas, aumentando o debate racial que já ocorre na terra do Tio Sam. Chegou-se ao ponto de “Cara gente branca” ser boicotada por ser considerada racista com pessoas brancas! Algumas pessoas cancelaram suas assinaturas no Netflix e começaram a usar a hashtag #NoNetflix como forma de protesto ao canal.
A polêmica com a Netflix atingiu outra séria, “13 Reasons Why”, que promoveu um debate sobre ciberbullying e suicídio, gerando ampla repercussão. A história é sobre uma adolescente que, antes de cometer suicídio, envia fitas a pessoas que, supostamente, têm relação com a sua morte. Como sugerido pelo título, são 13 gravações ao longo de 13 episódios.
Essas séries trazem à tona problemas entranhados nas sociedades contemporâneas, sobretudo, na estadounidense. Por um lado, elas ajudam a tornar mais visíveis problemas que podem estar sendo mascarados ou pouco difundidos em forma de debates, levando os espectadores não apenas a refletirem sobre eles, como colocando-os em discussão. Por outro lado, a circularidade da narrativa transmídia, nesse caso, serve às empresas, que lucram bastante com o trânsito de seus produtos nos mais variados âmbitos, mas do ponto de vista social tais discussões podem ser usadas de forma positiva.
Mas não apenas as séries promovem a visibilidade de temas importantes. As redes sociais também são usadas pelas pessoas para contarem, elas mesmas, as suas histórias e darem suas opiniões. O recente caso da figurinista da TV Globo que relatou nas redes sociais ter sido vítima de abuso sexual por um dos atores mais famosos do país mostrou como um relato pode alcançar tantas pessoas identificadas com essa forma de opressão cotidiana na vida de tantas mulheres, um crime que, na maioria da vezes, culpabiliza a vítima.
As mídias alternativas também contribuem na contação de outras histórias silenciadas pelos interesses econômicos da chamada grande mídia. Se não fossem as mídias alternativas, se não fossem as pessoas com seus smartphones, muitos manifestantes, nos recentes protestos ocorridos no país, seriam identificados como vândalos.
Quantos movimentos fundamentais na luta pelos direitos humanos e pela democracia, no Brasil e no mundo, tiveram a abrangência e o alcance que tiveram por causa da internet, das redes sociais e dos dispositivos eletrônicos que nos acompanham a todo momento?
Pudemos saber do movimiento YoSoy132, um movimento cidadão organizado por estudantes da educação superior no México que captou a simpatia de várias instituições e pessoas em todo o mundo. O YoSoy132 lutou pela democratização dos meios de comunicação, um maior debate entre os candidatos à eleição presidencial no país em 2012, já que os meios de comunicação hegemônicos mexicanos eram tendenciosos ao candidato e hoje presidente do México Enrique Peña Nieto.
Outro movimento de alcance mundial foi o NiUnaMenos, um grito coletivo contra a violência machista que começou na Argentina em decorrência de um crime bárbaro de feminicídio. Em várias cidades do mundo, mulheres não foram ao trabalho por um dia como forma de protesto. O tema do feminicídio entrou na agenda pública e política do país latino-americano.
São vários os exemplos de lutas que, atualmente, se dão nas redes sociais em defesa dos direitos humanos, de mulheres, transexuais, gays, lésbicas, negros, indígenas, quilombolas, enfim, as redes sociais mostraram que o mundo é cheio de gente diferente, que o mundo é plural e que todos têm de ser tratados de forma igual na sua diferença.
Além de dar visibilidade a atores invisíveis ou estereotipados na grande mídia, as redes sociais também têm sido usadas em defesa das democracias, fortemente ameaçadas por uma onda de fascismo em todo o mundo. É claro que as redes sociais também são palco de muitos dissensos que se tornam agressão, insulto, injúria. Mas elas também podem ser usadas para construirmos algo melhor, bem melhor do que o cenário no qual estamos hoje.
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