Orgulho Curvy Não Justifica Obesidade


Muito interessante um artigo que eu li no site The Vision intitulado “O orgulho curvy não pode transformar a obesidade em um valor a ser glorificado” (tradução livre). O texto de Alice Oliveri nos faz questionar até onde o assim denominado body positivity pode justificar um problema de saúde.

Alice levanta fatos objetivos como, por exemplo, o caso da modelo curvy Ashley Graham, uma das modelos mais bem pagas do mundo, e a primeira plus-size a ter sido capa da Sports Illustrated, que foi massacrada por ter emagrecido, por sua legião de fãs nas redes sociais.

Um outro caso, porém grave, é o de Sarah Rout, modelo oversize que precisava emagrecer pelo menos 30 quilos para salvar sua própria vida mas tinha medo de perder os seus followers e de receber insultos da comunidade curvy.

Até onde o orgulho de ser o que é, pode entrar em choque com um modelo nada saudável de beleza?

As coisas deveriam ser muito simples: a anorexia não deve ser um modelo de beleza assim como a obesidade não pode ser motivo de orgulho.

Existe um índice que todos conhecem, que é adotado pela OMS, e que aliás tem uma grande margem de valores, que é o IMC (índice de massa corporal). O IMC pode não ser perfeito mas dá uma dimensão dos limites que beiram a magreza excessiva da gordura exagerada, ambos casos que alertam perigos à saúde.

Quem já viveu um pouquinho (quem tem mais de 40, digamos) deve se lembrar do que os modelos de beleza adotados pela grande mídia podem representar. Modelos exageradamente magras figuravam e continuam ilustrando capas de revistas de moda, ainda que alguma coisa tenha sido feita, por exemplo na França, que adotou um lei contra as modelos magras demais, ou seja com IMC abaixo de 18 (uma média de 55 kg para quem mede 1,75m).

Quem viveu e tem memória, deve se lembrar das críticas que foram feitas em um determinado momento da história em que grandes marcas luxuosas da moda faziam figurar com glamour modelos aparentemente drogados, maquiados com olheiras, demasiado magros, resumindo, com uma aparência nada saudável. Este modelo de beleza, infelizmente, ainda vira e mexe se vê por aí.

E saindo do mundo da moda, quem se lembra do quanto as mulheres tiravam as sobrancelhas, pouco tempo atrás, quando a moda era sobrancelha bem fininha. Hoje a moda é fazer tatuagem de sobrancelha, implantar pelos ou enfim, contornar os efeitos da moda passada que acabou com a sobrancelha de muita gente.

Ter orgulho de ser o que é

O orgulho curvy, ou o body positivity, de fato não poderia justificar um modelo tão nada saudável quanto é a magreza excessiva. Um modelo não apaga o outro como direito de sermos o que somos sem precisarmos lutar, física ou moralmente que seja, para melhorarmos a nossa condição em termos de saúde.

Ter orgulho de ser o que é deveria ser ter orgulho de seu próprio biotipo: alto, baixo, magro ou robusto, preto, branco ou ruivo que seja. E de lutar para que a diversidade de tipos e de beleza que possuímos, seja motivo de orgulho humano, que nos leve a respeitar as diferenças que nos enriquecem como pessoas, simplesmente porque a diversidade é bela e só faz bem!

O orgulho deve ser o de se sentir bem independentemente do que dizem os outros, a mídia, etc, mas sempre dentro daquilo que objetivamente é considerado saúde. Na dúvida, um exame de sangue explica.

E dentro de tudo isso, como humanos e inteligentes que somos ou que deveríamos ser, os extremos de gordura ou de magreza excessiva, devem ser tratados com tanto respeito como são tratados quaisquer problemas de saúde. Ser obeso ou ser anoréxico não pode ser motivo de piada, de maus tratos, de insultos, etc.

Healthy is the new sexy

“Sexy” na mídia já foi ser anoréxico, já foi ter aparência junk (de drogado), ter sobrancelha fina e por aí vai. Hoje, no Brasil tem essa nova moda das pessoas bombadas, mulheres que fazem leg press de meia tonelada para parecerem “saradas” quando o termo “sarada” significa tudo menos que saudável se, para aumentar a massa muscular, for necessário se entupir de suplemento hiperproteico. O mesmo para os homens. Sarados à custa de tanta coisa não natural, suplemento, medicinais, etc. Pra quê tudo isso?

Saudável deveria ser o novo sexy e por saudável não se entende magro, curvy, sarado, musculoso ou bombado. Por saudável se entende, primeiramente, estar de bem consigo mesmo, aceitando o seu próprio biotipo, estando dentro do peso considerado normal e se sentindo com energia e alegria para enfrentar a vida.

O orgulho curvy não justifica a obesidade nem o sobrepeso, e se este novo conceito de beleza está sendo aceito pela nova geração de jovens, isso é uma tristeza porque se com 18, 20, 30 anos ou pior, se já de criança se está com sobrepeso ou obeso, pode ter certeza de problemas de saúde à vista: diabetes, problemas cardiovasculares, de circulação, de coluna, enfim…

Fica a questão para se pensar e debater.

Fonte foto: Modelo plus-size Natalie Hage




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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