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Nos últimos dois anos, os brasileiros, talvez, nunca tenham discutido tanto sobre política. Isso seria ótimo, porque a política, como qualquer questão social, deve ser debatida pela sociedade. O problema é que quando as pessoas já chegam com suas certezas em uma discussão, sem levar em conta a opinião de outras pessoas, perdem, até mesmo, a oportunidade de aprender algo. Não adianta nada participar de uma discussão se você não está disposto a ouvir.
Por causa dos debates políticos acalorados, sobretudo, em redes sociais como o Facebook, tem se tornado cada vez mais comum as pessoas fazerem aquela “limpa” em amigos com divergências ideológicas. Mas a ciência pode nos ajudar a entender essa questão e até a salvar algumas amizades.
Uma pesquisa feita pela Universidade do Sul da Califórnia (EUA), publicada na revista Nature, explica como as nossas crenças ativam certas áreas do cérebro ligadas à identidade e à emoção. A propósito, a pesquisa tem um nome bastante sugestivo: Neural correlates of maintaining one’s political beliefs in the face of counterevidence (algo como “correlaçõees neurais na manutenção de crenças políticas em face de contraevidências”) e explica a razão pela qual algumas pessoas defendem com unhas e dentes seus pontos de vista.
Quando uma crença política é desafiada, o cérebro ativa as áreas relacionadas à identidade pessoal e às respostas que damos a ameaças, de acordo com a pesquisa, da qual participaram 40 pessoas que se declararam liberais. Por meio de uma ressonância magnética, os cientistas puderem ver como o cérebro dos participantes respondem quando as suas crenças são desafiadas.
No teste, os participantes foram apresentados a oito declarações políticas nas quais acreditavam e a oito declarações não-políticas e, ainda, foram mostrados cinco fatores desafiadores de cada afirmação.
Os participantes tiveram que avaliar a força de sua crença na declaração original em uma escala de 1-7, após terem sido apresentados às declarações políticas. A ressonância mostrou que as áreas do cérebro ficaram mais ativas durante os desafios.
Ao receberem evidências que contrariavam as crenças, os participantes se colocavam mais em dúvida sobre as afirmações não políticas, do tipo “Thomas Edison foi o inventor da lâmpada”.
As pessoas mais resistentes a mudar suas crenças tiveram a amídala e córtex insular mais ativos, em comparação com as pessoas mais abertas a mudarem de ideia.
De acordo com a pesquisa, essas duas áreas do cérebro estão relacionadas à emoção e à tomada de decisões. A amídala tem como função detectar ameaça e ansiedade, enquanto o córtex insular filtra os sentimentos. A interpretação dos cientistas é que, quando uma pessoa se sente ameaçada ou ansiosa, ela questiona menos a sua própria opinião.
Os pesquisadores acreditam que o conhecimento sobre como persuadir e mudar as crenças políticas das pessoas é crucial para o desenvolvimento da sociedade, pois a partir dele será possível saber como a emoção ajuda a tomar decisões sobre o que é ou não verdadeiro.
Questionar sempre é importante, não para defendermos o nosso ponto de vista de forma egocêntrica, mas para aprendermos com o outro e termos uma opinião mais bem formada.
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