Bandido bom é bandido morto? Quase 60% dos brasileiros acham que sim


Aquela imagem do brasileiro, povo humilde, sofredor, acolhedor, religioso que coloca a palavra DEUS em 4 de 5 palavras, esconde uma realidade assustadora. Não obstante as religiões (em geral, mas principalmente a católica) preguem a paz, o amor e a irmandade, o povo quer mesmo ver o sangue do bandido escorrer, um pensamento que remonta a época da inquisição, à qual a igreja já pediu perdão pelos crimes cometidos.

Os números são do Instituto Datafolha e fazem parte do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados pela Folha de São Paulo:

* 57% da população brasileira (um panorama nacional que inclui cidades com menos de 50 mil habitantes) concordam com a frase “bandido bom é bandido morto”;

* 34% discordam desta frase

* 6% são indiferentes

* 3% não souberam responder

O perfil dos entrevistados mostra que:

* Quanto menor o grau de escolaridade maior a concordância com a frase

* Os homens concordam mais com a frase (60%) do que as mulheres (55%)

* Os mais jovens são os que menos concordam com a frase e os mais velhos são os que mais concordam.

No entanto, as diferenças entre estes estratos sociais não são grandes (menos de 10 pontos percentuais entre um perfil e outro).

Falta de empatia, de conhecimento ou de educação?

Para se deparar com o lado mais sombrio do brasileiro, basta ler os comentários sobre esta notícia na página FB do UOL. Um leitor diz que por ele não haveria prisão e sim açougues e, como este, a maioria segue no mesmo discurso da violência pura do “olho por olho, dente por dente”.

Este pensamento é tão ultrapassado que vem de aproximadamente 1750 a.C. do Código de Hammurábi, na antiga Babilônia, conhecido como Lei de talião.

Que a população esteja farta de violência é completamente compreensível. Dados deste mesmo Anuário revelaram que a “guerra” no Brasil mata mais que a guerra na Síria. O Brasil tem um assassinato a cada 9 minutos! Em termos absolutos é o país que mais mata no mundo!

Mas até aí, achar que bandido bom é bandido morto revela falta de empatia, de educação ou de conhecimento mesmo.

Enquanto nós quisermos resolver nossos problemas começando pelo fim, será assim, sempre tapando o sol com a peneira. Seria possível começarmos construir um país mais justo para todos para depois fazermos de novo a pesquisa? Como é que a maioria do brasileiro tem dificuldade de enxergar que uma criança (criança!) que cresce em um ambiente violento, sem água, sem tratamento de esgoto, sem escola, sem lazer, sem nada, possa crescer um adulto “normal”, que estude e seja um doutor ou mesmo um trabalhador assalariado comum?

E a maioria deste povo sofrido consegue não ser bandido ainda que lhes tenha faltado TUDO na vida. Ninguém quer ser bandido, embora muitos queiram e até se vangloriem disso, mas o que precisamos deixar claro são alguns conceitos básicos antes de concordarmos ou não com a frase:

* Se bandido bom é bandido morto, se eu matar um bandido logo eu também sou bandido, o ciclo vicioso é esse que os números mostram, o olho por olho, dente por dente está ultrapassado porque não tem fim, não resolve o problema da violência.

* Onde está o perdão, a empatia desse povo religioso? Falta conhecimento aí porque como dito acima, a igreja católica pediu perdão pela inquisição, o crime, a vingança não têm a ver com Deus, religião, etc.

* Para falar de desigualdade é preciso dar igualdade de oportunidade. O perfil da violência no Brasil mostra que os mais prejudicados são os pretos, jovens e pobres e as políticas públicas seguem sempre no mesmo caminho de proteger poucos, de maquiar o problema.

* As mortes, a violência dos estratos mais pobres da sociedade só levam o país mais para baixo porque os jovens, que são os que mais cometem crimes e os que mais sofrem crimes, são os que mais podem gerar rendas à suas familias. Logo acabar com a violência é também uma questão econômica. Os jovens são também os mais propensos a serem reeducados se tiverem oportunidades de emprego, educação, cultura…

Vivemos uma epidemia de violência e achar que bandido bom é bandido morto é apenas jogar lenha nessa fogueira de sangue. Pensemos!

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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