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Um trabalho etnográfico com foco nas relações de troca e ajuda, dentro da comunidade, realizado pelo antropólogo Roberto Sanchez Resende, na Reserva Extrativista do Alto Juruá, extremo oeste do Acre, nos mostra que as relações de afeto e necessidade, na comunidade, definem as soluções econômicas escolhidas.
“Camponeses da bacia do rio Tejo: economia, política e afeto na Amazônia“, como foi intitulado o trabalho de Resende, virou tese de doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), sob orientação do professor Mauro William Barbosa de Almeida.
A Reserva Extrativista do Alto Juruá é a primeira reserva extrativista criada no Brasil. Os estudos nela realizados durante vários anos sempre tiveram a “preocupação com o monitoramento da qualidade de vida e da biodiversidade“. Resende foi um dos escolhidos para analisar as condições ambientais e sociais, a dieta e outras materialidades da vida da comunidade no projeto de transcrição de cadernos produzidos por seringueiros da região: eram cerca de 900 diários temáticos sobre atividades cotidianas como de trabalho, caça, pesca e agricultura“. Após o estabelecimento da Reserva Extrativista na área foi criado o município de Marechal Thaumaturgo – a reserva ocupa 65% do território municipal – que tem, atualmente 14 mil habitantes, 5 mil dos quais, na reserva do Alto Juruá.
Esta região foi palco da luta dos seringueiros por respeito e dignidade, luta essa liderada por Chico Mendes na década de 1980: ” “Patrões que se diziam proprietários das terras arrendavam os seringais e controlavam a comercialização tanto da borracha como de mercadorias. O movimento dos seringueiros dos anos 1980 foi contra esta relação com os patrões: no Juruá, não queriam ser mais obrigados, por exemplo, a pagar pelo uso das estradas de seringa (33 quilos de borracha por ano como ‘renda’); em outra frente, em Xapuri (região de Chico Mendes), lutavam contra as ocupações de madeireiros e fazendeiros. Este movimento em todo o Acre resultou na criação das primeiras reservas extrativistas, sendo a primeira delas a do Alto Juruá, onde atualmente moram cerca de cinco mil pessoas.”
Com o fim da atividade extrativista de seringa, na década de 1990 as relações na comunidade começaram a se modificar – já não havia a borracha para sustentar a vida de cada um, era preciso descobrir uma nova maneira de subsistir sem cair, uma vez mais, no controle de mercado: “Antes as pessoas viviam espalhadas pela floresta, em pequenas colocações de três ou quatro casas, extraindo o látex das seringueiras naturalmente dispersas (não eram plantadas). Com a queda do preço pago pela borracha iniciou-se uma transição para atividades agropastoris. As pessoas começaram a ir para a beira do rio a fim de facilitar o escoamento dessa produção. Ao mesmo tempo, a prefeitura municipal instalava escolas e postos de saúde em localidades à beira do rio, o que incentivava ainda mais as pessoas a se concentrar nas margens. Formaram-se comunidades de até uma centena de casas.”
Como conclui Resende, a importância desta forma de intercâmbio sem dinheiro se fundamenta nas “relações de troca e ajuda: no período da colheita do roçado, por exemplo, um irmão solicita o auxílio do outro, e assim se estabelece uma espécie de dívida”. Esta rede de “dívidas contraídas entre moradores” é que mantém equilibrada a comunidade em seu contato com o meio externo, e capaz de resistir a pressões que a poderiam destruir.
É interessante a maneira como os moradores do Alto Juruá entendem suas prioridades de vida: “quem deseja ter maior conforto material e uma vida com “padrão de novela” trabalha na agricultura para vender o produto no mercado da cidade.”
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