Ciganos do Mar, o povo Bajau da Malásia não tem pátria


São apátridas todos os integrantes do povo Bajau, conhecidos como ciganos do mar. São pescadores e coletores com capacidade de mergulhar em profundidades de até 20 m em apneia. Vivem sobre o mar, ali nascem e morrem.

Mas, por isso mesmo não são reconhecidos como pertencentes a nenhum lugar de terra. Nenhum país lhes dá a nacionalidade. Não têm documentos, não frequentam escolas, não têm acesso à saúde pública. Quando estão em terra firme podem ser presos pela polícia pois não têm documentos nenhum. São apátridas, ou seja, gente sem pátria, sem direitos.

O organismo do povo Bajau se adaptou à vida marinha. É por isso que eles conseguem executar mergulhos que nenhum outro o faz sem aparelhos de respiração. Quando mergulham podem ficar sem respirar até 5 minutos.

Crianças invisíveis

Mas o que mais chama a atenção sobre a vida do povo Bajau, são as crianças. A ACNUR – Alto Comissariado da ONU para os Refugiados as denomina “crianças invisíveis” pois, oficialmente não existem para o Estado.

As crianças invisíveis são os filhos de migrantes filipinos, indonésios ou pertencentes a tribos nômades que, apesar de terem nascido e sido criados na Malásia, herdam a apatridia de seus pais. Para poderem estudar, essas crianças frequentam escolas de ONGs em terra.

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O povo Bajau vive na zona marítima da costa de Bornéu, em palafitas de madeira onde comem, dormem, nascem e morrem. O seu trabalho possível é no mar, qualquer trabalho em terra é na ilegalidade com os riscos inerentes.

De acordo com as organizações não governamentais asiáticas as crianças invisíveis na Malásia são 50 mil. Os pais muitas vezes entram ilegalmente no país e trabalham ilegalmente, formando a principal força de trabalho na região, especialmente nas plantações de óleo de palma, onde são explorados como escravos.

“As autoridades frequentemente realizam verificações e as crianças vivem em constante medo. Elas aprendem desde pequenas a fugir das autoridades e, quando são presas, acabam em centros de detenção”, diz Flora Yohanes, professora em uma escola administrada por uma ONG em Sabah, o segundo maior estado da Malásia.

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“Quando há inspeções policiais pode acontecer de as crianças não irem à escola, porque mesmo lá não se sentem protegidas”, disse Yohanes.

“Às vezes, quando você sabe que alguns dos nossos jovens estudantes é preso, não podemos dormir pensando qual será o seu futuro. Não só isso, as crianças estão tão desesperados que preferem passar a noite dormindo sozinhas na floresta em vez de ser encontradas pelas autoridades” .

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“Em alguns casos nós professores podemos ajudá-las e libertá-las, mas isso acontece apenas em muito poucos casos. Evadir aos controles policiais pode trazer consequências muito graves”, diz a professora.

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Ema Mandingo, mãe de 10 filhos nascidos na Malásia, conta que 3 deles, adolescentes, foram mortos. Eles estavam escondidos no mercado de peixes de Lahad Datu, seus pais haviam chegado na década de setenta, em Sabah fugindo da guerra civil filipina.

Segundo as autoridades, as crianças se atiraram à água para evitar serem encontradas e se afogaram. Povos marinhos, grandes nadadores, não se afogam, claro. Também há relatos de que a polícia pulveriza gases tóxicos nas crianças encontradas causando-lhes a morte.

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Abdul Rashid Harun, chefe do Comando de Segurança Leste de Sabah, explica: “Nós realizamos verificações diárias para rastrear imigrantes ilegais e seus filhos. No ano passado, 180 mil pessoas foram repatriados.” Segundo o comandante, os migrantes sem documentos são autores de crimes, incluindo o contrabando de armas. Os cidadãos malaios também reclamam das crianças invisíveis: “Elas são ignorantes e muitas delas se tornam viciadas em drogas e para alimentar o vício, elas roubam.”

Poucos são os apátridas malaios que conseguem documentação. Este é o caso de Jerry Abbas, de 37 anos. Seu pai e sua mãe, do povo Bajau, nunca registraram seu nascimento por medo de serem identificados e expatriados – para onde é expatriado alguém que não tem pátria?

Finalmente, 5 anos atrás, Jerry Abbas conseguiu se documentar. “Este documento é a minha vida.” Hoje é um professor em uma escola improvisada para crianças Bajau e não é mais um cigano do mar, mas a memória de seu passado está viva nele.

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“As crianças invisíveis crescem na pobreza, cheiram cola para evitar a fome, mendicância e à procura de comida no lixo.”

Mas, os Bajau não perdem as esperanças, apesar de seu futuro já estar escrito e não ser nada auspicioso. Este é o caso de Maslina, que frequenta a escola de uma ONG e vende sacos de plástico no mercado para ajudar a sua grande família de 26 pessoas. Ela espera se tornar uma oficial de imigração para dar os documentos para sua família e sair da sua condição de invisibilidade.

Fonte: Al Jazeera

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Redação greenMe

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