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Oh! Como é bela a vida virtual! Em um click e pronto! Tudo desaparece. O fenômeno tem um nome: ghosting, e outras variantes terríveis como haunting e benching, usadas sempre com o mesmo intuito: desaparecer, sumir sem deixar rastro ou ficar no chove-não-molha. Mas por que as pessoas agem assim?
Pra quê brigar com aquele amigo que discorda da tua visão política? Melhor deixar ele pra lá, simplesmente deletando-o da sua lista de contatos. Para quê explicar ao crush que ele não era aquilo que aparentava ser nos aplicativos de encontro?
Cada vez mais podemos ser, e somos, meros fantasmas que desaparecem quando bem nos convêm.
Uma pesquisa da Fortune revelou que 78% das pessoas com 20-30 anos já foram, pelo menos uma vez na vida, vítimas do fenômeno que acontece nas redes sociais, o chamado ghosting.
Em que consiste este fenômeno?
A palavra vem do inglês ghost que significa fantasma.
O fenômeno ocorre quando simplesmente apagamos, deletamos, matamos metaforicamente tudo o que nos incomoda sem nenhum problema, sem nenhuma ética, sem nenhum peso na consciência porque a vida virtual não é a vida real…
Só que não é bem assim que a banda toca, porque pode ser que um dia a gente tenha sim que enfrentar em carne e osso a pessoa “fantasma” que está por trás das telas.
Desaparecer de tudo e de todos pode ser ótimo, pois proporciona certas vantagens à quem comete o ghosting: senso de onipotência, de poder, de controle.
Por outro lado, muitas pessoas que sentem na pele o que é ser cancelado, eliminado da vida de outra pessoa injustamente, sem ter tido o direito de conversar, talvez de se explicar, podem acabar traumatizadas pela angústia de não saber quais seriam os motivos de tal atitude tão radicalmente egoísta.
O trauma que fica acaba por se espalhar como erva-daninha em uma sociedade que tira proveito da situação muito cômoda, a de não ter de dar satisfação a ninguém.
Assim, quem sofre ghosting também se sente no direito de sumir, e o “desaparecer do mapa” vira o novo normal.
E aí, o novo normal também passa a ser o não confiar em ninguém….
Por mais triste que isso seja, a comodidade paga: o verdadeiro motivo do ghosting pode ser o simples aproveitar que existe esta possibilidade de apagar relações, sem choros, nem velas, nem fitas amarelas. Simples assim!
Pra quê complicar se podemos simplificar as coisas, partir pra outra sem delongas, com desculpas e explicações inúteis?
Muito cômodo!
Em primeiro lugar lugar é bom deixar bem avisado: NÃO SE CULPE PELO SUMIÇO DO OUTRO.
O outro é o que é, e você não pode mudar o comportamento de ninguém. Aliás, o mau comportamento do ghosting tem a ver com quem o pratica, e não com você.
Diz a psicanalista Maria Homem que quem pratica ghosting tem dificuldade de finalizar relações, porque o ghosting impede a pessoa de fazer o fim necessário para a vida seguir.
Interessante entender isso para não se culpar e dar o fim dentro de si, sem precisar dizer tchau ao outro que evaporou. Porque a intenção de quem dá o perdido é fazer com que o outro fique tramando os porquês de um elo perdido, que não foi claramente rompido.
Os motivos para alguém sumir são inúmeros, pois cada um é cada um. Mas, para ajudar na reflexão, estes podem ser alguns motivos plausíveis para o sumiço de alguém:
Os motivos são realmente inúmeros e, de qualquer forma, não vale a pena ficar confabulando hipóteses: lembre-se que o problema do sumiço não é teu, e sim, de quem pratica o ghosting.
A verdade é que sumir é fácil, principalmente em relações de Amor Líquido, onde se busca por relações onde se dá o mínimo esperando receber o máximo.
Um pesquisa do Pew Research Center analisou 2.277 perfis nas redes, desde 2009, e constatou que 68% dos usuários já apagaram de suas “vidas” ex namorados e afins e ou amigos. Mais mulheres (67%) que homens (58%) utilizaram tal recurso, mas a coisa mais impressionante é que ninguém se arrependeu de ter feito tais eliminações, ao contrário, para 11% das pessoas estudadas, fazer uma “limpeza” é absolutamente necessário.
O estudo foi denominado Privacy Management on Social Media Sites.
É o novo “saiu para comprar cigarro” onde relações rápidas não chegam a ter tempo de desenvolverem as fases necessárias para que as pessoas se conheçam e, dessa forma, tais relações acabam assim, sem ao menos ter de dizer tchau.
Mas o que se deve considerar nisso tudo, sem que se caia em depressão, pois muita gente fica mesmo muito triste quando eliminada por alguém, é analisar o quão verdadeira era esse amor/ amizade.
Principalmente em casos de crush, paquera, amores virtuais, etc, é fácil pegar o bonde da fantasia.
A gente se apaixona pela ideia do que o outro pode ser, e não pelo o que o outro é de fato!
Virtualmente tudo pode ser lindo, fazemos sonhos, imaginamos coisas, viagens, romances, tudo. Não damos o devido tempo para que se desenvolvam as etapas reais que nos levariam a uma desilusão, ou a um verdadeiro enamoramento, quando… pluft, percebemos que nos relacionamos com um fantasma.
Sem contar que este fantasma era pintado de ouro pois é mais provável que as pessoas se apresentem como verdadeiros anjos, lindas ou perfeitas, muitas vezes contando mentiras, inventando ou aumentando histórias.
O mesmo com os amigos de infância que “reencontramos” no Facebook e em outras redes. De repente, o amigo te exclui e você fica todo chateado, sem saber o porquê. Mas entre a infância e a idade adulta passaram-se tantas coisa que realmente não dá para ficar buscando motivos. O melhor mesmo é aceitar essa nova mania e não ficar mirabolando motivos e, menos ainda, ficar se culpando com “eu errei”, “eu deveria ter feito diferente”.
A vida de fantasma é fácil, aliás esse era um sonho nosso infantil: poder sumir quando bem quiséssemos, um sonho inclusive representado em tantos desenhos animados.
Para não perdermos a nossa humanidade, precisamos enfrentar situações realmente chatas porque a comunicação e a sociabilidade do homem fez com nossa espécie chegasse onde chegou.
É melhor valorizar mais as relações reais, com todas as suas dificuldades.
Quem não se envolve não se desenvolve!
Uma observação final: o ghosting às vezes é necessário em casos de relacionamentos abusivos, tóxicos e perigosos. Não é sobre esses que falamos aqui. Nestes casos, sumir talvez seja mesmo a melhor estratégia…
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Categorias: Sociedade
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