A violência no Brasil não é somente uma problema de segurança pública. É, também, uma questão cultural, pois a violência é uma prática institucionalizada no nosso país.
Somos herdeiros de um sistema escravocrata e de governos ditatoriais que usaram a violência como política de Estado. Por isso, são alarmantes os dados levantados pelo relatório Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil, elaborado pelo sociólogo e coordenador do Mapa da Violência, Julio Jacobo Waiselfisz: no ano de 2013, a cada 24 minutos, uma criança ou jovem morreu vítima de “causas externas”, como homicídios, suicídios, acidentes e outras ocorrências não naturais.
Em comparação com dados de 1980, houve um aumento de 34% no número de mortes. Já em relação a 1993, houve uma queda de 30% no índice de acidentes fatais contra jovens e crianças. Entretanto, os homicídios contra eles cresceu 77,5%.
O estudo mostra que o Brasil investiu para diminuir o número de mortes por causas naturais, mas não teve a mesma eficiência para combater a violência que vitima o grupo. Os dados da pesquisa, referentes ao período entre 1980 e 2013, mostram que 689,5 mil crianças e jovens perderam suas vidas para a violência e 3,8 milhões para causas naturais.
Em uma comparação com um levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com 85 países, o Brasil ocupa a terceira posição em taxa de homicídios, perdendo apenas para México (26,7) e El Salvador (17,5).
O homicídio é a maior causa de morte entre jovens de 16 e 17 anos. Em 2013, 1 em cada 3 assassinatos de menores de idade atingiu essa faixa etária. O relatório diz que o homicídio é “o calcanhar de Aquiles dos direitos humanos no país, por sua pesada incidência nos setores considerados jovens ou de proteção específica: crianças, adolescentes, jovens, idosos, mulheres, negros etc”.
A violência, no Brasil, é seletiva. Os jovens negros de 16 e 17 anos morrem três vezes mais do que os jovens brancos da mesma idade. O Distrito Federal é a unidade da federação onde adolescentes negros mais morrem: mais de dez crianças e adolescentes negros morreram para cada branco.
“Se o assassinato de qualquer ser humano, seja criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso já é inaceitável, que qualificativo merecem muitas de nossas taxas de homicídio que superam, de longe, o que é considerado nível epidêmico; que superam, também de longe, o que é considerado pela OMS uma pandemia mundial?”, indaga o texto.
Um questionamento posto pelo estudo é a proposta de redução de maioridade penal ser baseada em estatísticas de criminalidade juvenil, conforme vem sendo discutida no Congresso. “Esquece-se, de forma muito conveniente, que não foram os adolescentes que construíram esse mundo de violências e corrupção. Esse está sendo nosso legado. Será que devem ser eles a pagar a conta?”, diz o texto.
Ao final de um ano, o Brasil perde 10,5 mil vidas.
ONU MULHERES BRASIL CONTRA A VIOLÊNCIA SEXISTA
OLIMPÍADAS NO RIO: CHEGA DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS (PETIÇÃO)
Fonte: g1
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