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O assassinato de lideranças sociais e ambientais é o pão nosso de cada dia em terras onde o “capitalismo selvagem” manda. Nilcinha “sumiu” em janeiro (07), no 15 de janeiro a polícia prendeu quem a matou, o corpo só apareceu ontem, 22 de junho. Amarrado, de pés e mãos, a uma pedra, no fundo do lago da barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) de Jirau, em Porto Velho (RO).
Já se sabia, o assassino, preso no 15 de Janeiro, tinha confessado o crime: Nice tinha sido morta com 3 tiros após ser levada de sua casa em Mutúm Paraná. O assassino, Edione Pessoa da Silva, preso após confessar o assassinato da militante, fugiu há 2 meses da Penitenciária Estadual “Edvan Mariano Rosendo”,também em Porto Velho (RO). Não há justiça que possa devolver Nicinha a sua família e à comunidade de pescadores à qual pertencia.
Não há justiça que possa nos devolver, viva e intacta, essa maravilhosa mulher de 58 anos que, por toda a sua vida lutou contra as injustiças de que eram alvo a população ribeirinha, pescadores da sua região.
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Nicinha era conhecida por sua luta junto ao Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB em defesa das populações atingidas denunciando as violações de direitos humanos cometidas pelo consorcio responsável pela Usina de Jirau, Energia Sustentável do Brasil (ESBR). Ela era filha de seringueiros da Xapuri de Chico Mendes (no Acre) e já morava em Rondônia há mais de 50 anos. Era pescadora, como todos os da sua comunidade, a Velha Mutum.
São irreparáveis os danos causados pelos projetos hidrelétricos, pela construção de barragens, na vida das famílias ribeirinhas, para não falar aqui naqueles que afetam, destruindo, os ecossistemas que invadem. As populações atingidas por barragens perdem tudo: sua casa, suas plantações, seus caminhos, seus horizontes. E recebem, quando recebem, míseras indenizações “avaliadas” por quem não tem o menor apresso pela vida alheia.
O preenchimento do reservatório de Jirau desalojou a comunidade de Mutum Paraná, à beira do rio Madeira e da BR 364, e a hidrelétrica trata os ribeirinhos como “invasores” – lhes tomaram a terra, grilaram suas plantações, arrebentaram suas redes de pesca. Isso é o que significa “ser atingido por barragem”: significa você ser expulso de sua vida e ainda ser tratado como invasor.
A vida de Nicinha foi denunciar esses desmandos (tão comuns onde o grande capital impera, não é?) e os graves impactos ambientais ocasionados na atividade pesqueira artesanal no rio Madeira (construir barragem mata peixe, polui águas, extermina a ictiofauna, e por aí vai) e o “não cumprimento das condicionantes da licença do empreendimento que obrigam o consórcio a reparar a situação socioeconômica das famílias de pescadores afetados”.
Um dos inquéritos que foi aberto pelas denúncias de Nicinha é criminal, o federal – tem a ver com a manipulação de dados em relatórios de monitoramento da atividade pesqueira (número de pescadores, contagem de peixes, etc) feita para “demonstrar” que não havia impacto da barragem sobre esta. O outro inquérito, estadual, versa sobre “a não realização do Programa de Apoio à Atividade Pesqueira”, dinheiro público que deveria ser repassado à comunidade e não o foi.
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Nicinha também denunciou “a existência de diversas áreas de floresta alagadas pelo reservatório da barragem, onde diversas espécies de árvores nativas encontram-se mortas, inclusive aquelas essenciais ao extrativismo como as castanheiras, além da presença de madeiras ilegalmente enterradas, que estão contaminando a água e gerando a emissão de gases efeito estufa”. E lutou pelo direito das famílias alagadas de Abunã, que perdeu suas praias, terras e poços de água potável, que agora não tem o que comer, onde trabalhar, nem o que beber .
Nicinha pisou em inúmeros “calos”, não há dúvida. E cutucou a onça com vara curta, certo!
Fazer o quê, não é? Se pretendemos lutar pela justiça social e um meio ambiente saudável, correremos esses riscos.
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Não é por acaso que o Brasil é um dos países mais perigosos para ser-se ambientalista, ativista social e mulher.
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Fonte: Terra Sem Males, MAB Nacional
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