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O domínio que os homens exerceram, historicamente, sobre as mulheres fez surgir um dos movimentos mais importantes do século XX, o feminismo, um conjunto heterogêneo de movimentos políticos, culturais, econômicos e sociais que têm um objetivo comum: reivindicar os direitos femininos.
Muitas conquistas legais e simbólicas foram conseguidas, nos últimos, pelas mulheres, e aqui no Brasil podemos mencionar a Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, visto que milhares de mulheres são agredidas e assassinadas por seus parceiros.
Embora os homens não sofram o mesmo tipo de opressão que as mulheres, uma reportagem da BBC chama a atenção para o fato de os homens matarem a si próprios, ou seja, os homens praticam mais o suicídio do que as mulheres.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou 804.000 casos de suicídio em 2012. A diferença entre a taxa masculina e feminina aumentou nos últimos anos: enquanto 8 de cada 100.000 mulheres decidiram acabar com suas vidas, 15 para cada 100.000 decidiram fazer o mesmo.
A psiquiatra Anne Maria Möller-Leimkühler assegura que “o suicídio é um fenômeno masculino“. A taxa entre homens é ao menos três vezes mais alta que a taxa entre as mulheres, e assim é em todos os países, com poucas exceções, como a China. “O suicídio é a principal causa de morte em homens entre 25 e 45 anos e é três vezes mais frequente que os acidentes de trânsito”, acrecenta a médica.
A psiquiatra é autora do estudo The Gender Gap in Suicide and Premature Death or: Why Are Men So Vulnerable? (O salto de gênero no suicídio e a morte prematura ou: Por que são os homens tão vulneráveis?), que é respaldado pelo informe A prevenção do suicídio. Um imperativo global, publicado pela OMS em 2014. Conforme o documento, a relação entre suicídio e desequilíbrio de sexos se dá em todas as regiões, salvo no Pacífico Sul.
O fenômeno abarca as regiões de alta renda, média ou baixa, embora nos países mais ricos a diferença da taxa entre os sexos seja maior. Europa e América são os continentes onde a diferença entre a taxa de suicídio masculino e feminino é mais significativa.
Segundo a psiquiatra, nem sempre as taxas de suicídio são confiáveis, porque nem todos os casos são registrados ou registrados adequadamente. “Por exemplo, nos casos de afogamento ou de overdose não é fácil saber se a morte foi acidental ou suicida”, adverte.
Há diversas razões para se cometer o suicídio, de acordo com os especialistas. A idade mais crítica é entre os 25 e 50 anos, acredita John Murphy, coordenador de Suicide, Harm, Awareness, Recovery and Empathy (Suicídio, dano, consciência, recuperação e empatia – SHARE). SHARE foi criada na Escócia devido ao alarmante número de suicídios masculinos. Ela oferece aos homens que tentaram se matar ou se veem tentados a fazê-lo opções de assessoria financeira e prática, como jogos de cartas e futebol.
“Com soluções práticas, somos capazes de desviar a atenção da tormenta perfeita, na qual a angústia emocional se cruza com circunstâncias pontuais gerando um ambiente no qual o suicídio se converte em uma opção”, explica Murphy. “E que a ideologia do suicídio – assim chamada pelos especialistas as condições que fazem do suicídio uma opção – inclui tendências biológicas, predisposição, traumas prévios e desencadeantes, eventos que ocorreram durante a idade adulta, como a perda de trabalho, a ruptura de uma relação amorosa e os problemas financeiros”, explica.
Entretanto, a principal causa do suicídio é a depressão, muitas vezes não diagnosticada nos homens.
Para os homens, ser o responsável pelo provimento da casa ainda é um valor relacionado à sua identidade como homem e à sua autoestima.
As normais sociais para os homens dizem que eles devem ser “fortes, racionais, dominantes, autônomos, independents, ativos, competentes, poderosos, invulneráveis”, enumera Möller-Leimkühler.
Isso faz com que os homens queiram resolver seus problemas por eles mesmos, e a busca de ajuda acaba sendo vista como um indicativo de falta de masculinidade.
Por isso, de acordo com a especialista, a depressão é pouco diagnosticada nos homens, o que faz com o risco de suicídio seja maior entre eles.
“Sentir-se fora de controle pode resultar em suicídio, considerado uma maneira de recuperar o controle”, assegura a psiquiatra. Murphy concorda com essa visão, mas tematiza: “Tem mais a ver com que os homens não sabem com quem falar e com não quererem ser uma carga para ninguém”.
Existir pode-se tornar extremamente difícil, independentemente do gênero. As questões associadas às causas da depressão e do suicídio masculino estão relacionadas com uma reconfiguração de papéis que homens e mulheres tiveram que assumir – ou estão tentando assumir.
Os homens precisam se encontrar nesse caminho de descoberta de si, em âmbito pessoal e social.
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