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Da lama ao caos do caos à lama, cantava a saudosa Nação Zumbi, visionária e ainda atual, que usava a expressão “estar na lama” como uma condição brasileira. No Brasil ainda não sabemos quem nasceu primeiro: a lama ou o caos e menos ainda sabemos qual seria o limite desta lama.
O povo desconfiava mas a própria Vale admitiu, a lama da Samarco levou chumbo, arsênio, cromo e níquel às águas do Rio Doce. Porém, a empresa sustenta que tais metais foram liberados das próprias margens e do fundo do rio. Querem minimizar a culpa. A água, por suposto, estaria contaminada, mas segundo a diretora de Recursos Humanos, Saúde e Segurança, Sustentabilidade e Energia da Vale, Vania Somavilla, essas substâncias não se dissolvem na água, portanto não gerariam contaminação.
Fato é que a lama da Samarco segue seu curso e não se sabe até onde pode chegar, com que companhia de metais pesados caminha nem como e quanto prejudicará os ecossistemas por onde passar.
Enquanto isso, a lama condicional brasileira também segue seu curso com mais um episódio de violência policial que choca o Brasil e torna, mais uma vez evidente, o seu racismo histórico.
Os casos de microcefalia, ao momento, chamam a atenção para um problema nada novo e nunca resolvido ou minimizado, o Aedes aegypti, que agora ganha status de urgência mas precisamos ver até onde vai a urgência. Esta lama tem que ser bloqueada antes que nos acostumemos com esta nova doença. Nova, pois apesar de antiga e rara, tornou-se nova com a evidência de poder ser causada pelo vírus carregado no mosquito, e já vem sendo considerada como epidemia.
Crianças nascidas com microcefalia precisarão de acompanhamento médico e educacional por toda a vida. Cada caso é um caso, mas em geral a doença pode causar epilepsia, ou seja, os portadores pela vida inteira tomarão anticonvulsivos. A doença comporta um atraso no desenvolvimento cognitivo, ou seja, as crianças precisarão de um acompanhamento educacional de qualidade. O Brasil estaria preparado para esse outro mar de lama? Claro que não, pois a nossa educação…
Em São Paulo, o estado que abriga umas das melhores universidades do Brasil e do mundo, USP, UNICAMP, UNESP, tem alunos da escola pública do ensino médio que estão dando lição de democracia e participação popular em contraste ao governador do estado, que contra tudo e contra todos, pretende impor regras que a maioria interessada discorda, como se democracia não fosse o regime politico adotado na Constituição brasileira que prevê, fundamentalmente, a participação cidadã nos assuntos de Estado.
Em um programa televisivo, o governador se diz aberto ao diálogo mas lembra que as mudanças educacionais “já estão feitas” e serão mantidas, ou seja, diálogo aberto para falarmos do tempo, da novela, do que quisermos, menos sobre a reorganização escolar proposta por ele.
Sem que precisemos mencionar a triste previsão econômica no Brasil para os próximos anos, e muito menos sem mencionar o mar de lama de corrupção que assola o país desde sempre, mas que agora atingiu patamares oceânicos, seguimos cantando: “da lama ao caos…eu nunca vi tamanha desgraça. Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”.
Fonte foto: reuters
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