O texto que segue foi inspirado nessa ilustração de Steve Cutts, um artista que vive em Londres e que entre tantas outras imagens satíricas, denuncia a terrível verdade sobre a nossa sociedade moderna. A ilustração denominada Happy Halloween retrata zumbis apegados aos seus smartphones e está girando a internet no mundo inteiro certamente porque nos toca: somos assim?
Antigamente… bem, não é preciso ir tão longe assim. Talvez há uns 5 anos ainda não tínhamos essa fartura de smartphones no mercado. Há 10 ou 15 anos então, eram poucos os que tinham um celular de uso permanente. Em geral, o celular era usado só para fins profissionais – eu também tinha um que, enfim, não adiantava de muito pois, como agrônoma, gestora ambiental, passava mais tempo nas matas ou em áreas rurais do que na zona urbana, onde havia bom sinal de conexão.
Bem, mas o que eu queria mesmo falar é que, hoje em dia uma enorme quantidade de pessoas, de todas as idades, anda com um smartphone na mão, permanentemente conectados com a sua realidade virtual. Sim, só com a virtual porque a realidade mesmo, essa da vida do dia a dia, passa ao largo. É impressionante de se observar os grupos de jovens, reunidos na praça da cidade, em rodinhas, bares, como antes nós fazíamos mas…sim, o grande problema está aí: hoje já não conversam! Aliás, hoje já não se conversa em lugar nenhum, nem nas mesas de bar, nem na beira da praia e, também já não se conversa nas salas das casas, nas mesas durante as refeições em família.
Os telefones antes eram usados para dar recados, avisar que íamos visitar alguém e algumas raras vezes para bater papo.
Em contrapartida, brincávamos no quintal, corríamos na calçada, ou mesmo na rua, jogando bola, apostando corrida com carrinhos de rolemã. Enfim, as crianças da minha época brincavam, se sujavam, interagiam com a natureza e entre elas mesmas. Os jovens também aproveitavam muito a convivência – tocávamos violão na praça, cantávamos em roda, conversávamos a noite inteira. E em casa, claro, as famílias conversavam entre si, à mesa, na sala, no quarto, varanda. Enfim, nos tempos longínquos de “no smartphone” nós nos comunicávamos muito e bem.
Não sei o que será da geração dos meus netos. Hoje vejo crianças pequenas com um smartphone na mão, que não aprendem a conviver com os outros seres de carne e osso que estão à sua volta.
A tecnologia, que nos leva a uma realidade virtual, nos distancia não só do outro, daqueles com quem poderíamos, e deveríamos, interagir no quotidiano mas, por esse mesmo motivo, também nos distancia de nós mesmos quando, pelo uso excessivo de smartphones e outros semelhantes, perdemos a capacidade de interagir.
No touch dos smartphones, nos apps disponíveis, na sensação de estarmos permanentemente conectados estamos é desligados da vida, e isso é terrível.
A geração que nasceu sem smartphone ainda tem a opção de viver, porque sabe o que é não ter um celular na mão. Mas e as gerações futuras? Serão permantemente os zumbis da ilustração de Steve Cutts? Ou já somos assim?
Corpos disformes alimentados pelos venenos da indústria alimentícia, empresas multinacionais, pessoas de negócios que consomem a Terra obcecadas apenas pelo ganho, ratos, muitos ratos a bordo do metrô. Estas e outras ilustrações de Steve Cutts podem ser vistas aqui. Vale a pena!
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Fonte foto: stevecutts.wordpress.com
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