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A Analista Ambiental do ICMBio, Raquel Mendes Miguel, chefe da Unidade de Conservação Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, em sua ousada dissertação de mestrado – agora publicada em um livro – discorre sobre a ligação entre a espiritualidade e o meio ambiente, como chave para superação da crise ambiental que nos bate à porta, com toda a força da natureza.
A tese é ousada porque o espiritismo, ou a ciência espírita, não é considerada ciência pela Academia. A existência de espíritos, segue sem ser considerada comprovada, ainda que muitos cientistas renomados, principalmente da aérea da parapsicologia, tenham evidenciado a existência de fenômenos do tipo, através de métodos científicos, os quais também se baseou Raquel Mendes Miguel para discorrer e sustentar sua pesquisa.
E qual seria a ligação entre o espiritismo e as questões ambientais que hoje nos preocupam? Os problemas ambientais que enfrentamos, desastres naturais extremos, seca, aumento da temperatura, etc, seriam uma espécie de “castigo” ou um simples reflexo da nossa maldade perante à natureza? Seria um nosso “karma” sofrermos pela má administração de nossos recursos naturais?
Essas e outras questões vamos ver um pouquinho na entrevista que fizemos abaixo.
No mais, o assunto é muito interessante e não poderia ser exaurido aqui, mas o Livro de Raquel Mendes Miguel: “QUESTÃO AMBIENTAL À LUZ DO ESPIRITISMO: Um novo olhar para superação da crise” pode ser baixado neste link.
Sim, divido o entendimento de que estão todas interligadas.
Trago essa proposta como a contribuição que ofereço da minha experiência em Ecologia Profunda. Metaforicamente nos comparemos a árvores cuja plena expressão de suas raízes solidificam suas estruturas em um tronco, em que os galhos e folhas são a expressão e realização de si e que o ápice dessa plena expressão sejam seus frutos.
Assim é a experiência da ecologia profunda, indo até nossa “raiz” e constituindo “troncos”, depois “galhos” e “folhas”, transbordamos nosso ser nos “frutos”. É algo que fazemos naturalmente.
E essa experiência de ecologia profunda, que explico na introdução do livro, vem banhada de muitas vivências. Vivências no mundo empresarial, familiar, dos movimentos sociais e das instâncias públicas, bem como dos saberes acadêmicos e transcendentais; sem contar as vivências das necessidades da minha atual escolha profissional na conservação ambiental.
Ademais, entendo que o vigente paradigma da matéria, que é a “lente” que vestimos, apresenta rachaduras dando espaço ao novo, mas já atual, paradigma holístico abarcando outras linguagens para traduzir a vida que não apenas a linguagem da matéria tangível.
Banhada em todas essas questões (vivências nas diversas instâncias, novo paradigma, conservação ambiental e nossa atual crise sócio-economica-ambiental e a experiência da ecologia profunda) floresceu um desejo de respostas cujo fruto é esse livro.
Esse fruto tem como base construtora, assim como o oxigênio das árvores, o entendimento e a vivência do paradigma do espírito ou da inteligência. Ou seja, o fato de que há uma força na natureza que praticamente desconsideramos em nosso racional. Essa força e esse paradigma foram vividos, provados e comprovados por um movimento chamado espiritualismo moderno que envolveu diversos cientistas e estudiosos basicamente da Europa em meados do século XIX.
Assim, esse livro vem de uma proposta natural das minhas experiências, não busca convencer ninguém de que seja relevante, importante ou verdadeiro. E ele será, assim como os frutos, saboreado e interessante para os que gostarem de seu “sabor” ou tiverem curiosidade ou afinidade com ele para experimentá-lo.
Na realidade, entendo que é o mesmo desprezo aqui citado que influencia nossa visão da matéria ambiental.
Ao se desprezar um fator da natureza, interagimos com a natureza de maneira parcial e enviesada. Essa relação, seja ela na matéria ambiental ou mesmo social, fica prejudicada, uma vez que é moldada por um racional construído numa visão enviesada.
Vejamos… Na medida que nos relacionamos achando que a vida é, digamos, “X” e desconsiderando que ela está mais para “xX”, nunca temos uma relação apropriada com ela. Sempre temos que esconder o “x” que sobra, e uma hora esse monte de “x”, antes ignorados, começam a ficar em tal quantidade que não conseguimos mais nos relacionar com nada, já que até mesmo a realidade “X” que antes apenas enxergávamos, passa a ficar nublada pelos “x” ignorados e nada mais é claro, nada mais funciona, nada mais responde adequadamente, nada mais conseguimos resolver. Esse cenário chamamos de crise…
Em realidade não trato de religião nos meus estudos. Na visão proposta no livro, ou seja, no “meu fruto” está considerado que os cientistas do século XIX já provaram e comprovaram a existência da inteligência incorpórea. Assim, entendo com naturalidade essa realidade e não como uma religião, mas como um novo paradigma ou até cosmovisão.
Nessa questão de crenças não ouso dissertar por não ser especialista, mas trago o saber de Humberto Maturana* (que cito algumas vezes no livro) que diz que todo sistema racional (seja religião, seja visão científica) é aceito pelo indivíduo, pois nele já há, a priori, um gostar daquela visão. Nas palavras de Maturana: “Todo sistema racional se baseia em premissas ou noções fundamentais que aceitamos como ponto de partida porque queremos fazê-lo”.
Tudo muito interessante não é mesmo? Entendo que isso é reflexo dos infinitos “x” que deixamos de considerar ao longo de nossos dias, pensamentos, vivências e ações. Me faço entender? Tentarei explicar melhor…
Não vivenciamos o aqui chamado “xX”, ou seja, não vivenciamos o melhor entendimento que temos capacidade de ter a respeito da vida. Já podemos entender que a vida não é “X” e então cada um vem colocando sua leitura, e isso é algo natural. Assim, temos os “XX”, os “yX”, os “xx”, os “zx”… enfim uma infinidade de visões que naturalmente criamos ao sentirmos que aquele “X” não está mais nos servindo. E essas expressões estão todas sendo vivenciadas ao mesmo tempo. Assim o seu “xx” não me parece adequado, e o meu “yX” não lhe parece adequado. E de fato não são, pois no sistema “xX” ambas estão imprecisas. E aí vêm os incômodos que sentimos uns em relação aos outros e também com a vida.
O que tento expressar aqui é o surgimento da necessidade de termos mais humildade em relação às nossas visões de mundo e mais compreensão em relação às visões de mundo dos outros. Entendermos que nem a nossa visão está super certa, nem a visão dos outros está super errada; e que a intenção do outro em ter a visão dele é natural e que a minha intenção em ter a minha visão é natural. Esse cenário mais leve é, no fundo, o sabor que este “fruto” (livro) busca deixar. Ao dividir uma possível nova cosmovisão, pretendo dividir com os leitores que a vida pode ser vivida com mais leveza, amor, respeito. O amor é a grande conclusão desta obra. Conclusão que nem eu mesmo esperava chegar quando iniciei meus estudos! Vemos que as chamadas religiões, ao pregar o amor, não estão tão distantes da ciência, não é mesmo?!
Sem ousar responder com precisão tal questionamento, mas trazendo a visão construída na experiência de ecologia profunda, nos estudos e nas reflexões vividas, digo que os inúmeros cenários serão construídos dentro de cada ser.
Voltando à nossa metáfora do “xX” e aos resultados de nossas visões de mundo (“xx”, “yX”, “X”, “zx”,…) e na interação delas com as demais visões e com os inúmeros “xxxxxxxx…” que ignoramos até então, teremos que cada um irá vivenciar essas infinitas interações de uma forma particular.
O fato é que as sensações de pressão, de desconforto, de insatisfação irá surgir em todos (se é que já não surgiu); mas, a reação que cada um terá é impossível de prever. Uns ficarão mais revoltados, outros ficarão nervosos, outros amedrontados, outros se isolarão, etc.
O empacar nesses estados é o que considero perda de oportunidade. A migração desses estados para um estado de maior compreensão, fraternidade, amor e, por fim, plenitude será o caminho que vejo como o mais completo.
É esse caminho que as sábias inteligências incorpóreas estão a nos explicar. E é por considerar a realidade, inclusive científica, dessas inteligências incorpóreas é que as “escuto” e as estudo.
* MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Tradução: José Fernando Campos Fortes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005 – página 16
Muito obrigada Rachel, por nos oferecer palavras de amor e esperança para um mundo melhor! Adoramos 🙂
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