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O governo federal brasileiro não para de defender a importância da economia. Parece ser mais importante salvar o sistema financeiro do caos provocado pela pandemia do novo coronavírus do que vidas humanas.
Entretanto, o sistema financeiro não é o único que está ameaçado neste momento – como todos nós. O crime organizado, que também movimenta a economia e foi afetado pelo coronavírus, está se reorganizando para evitar ainda mais a queda de lucratividade.
Cartéis, máfias, gangues, milícias estão vendo seus negócios serem impactados e seus lucros reduzidos. Autoridades judiciárias e policiais de todo o mundo relatam que as atividades criminais ligadas ao tráfico de drogas e contrabando reduziram, embora alertem para o aumento de crimes cibernéticos, como golpes online e pedofilia.
De acordo com a Exame, o narcotráfico foi uma das primeiras atividades a ser golpeada com a medida de fechamento de fronteiras e isolamento social. Consoante Frédéric Massé, um dos diretores da Red Coral, que monitora o tráfico de drogas na América Latina:
“Agora, os carregamentos estão mais fáceis de serem monitorados. Não há carros nas ruas, aviões não decolam e navios não zarpam. Qualquer movimento suspeito é detectado facilmente”.
Comerciantes de materiais falsificados também estão sentindo a redução de seus negócios. A maioria dos produtos considerada “bugigangas” é oriunda da China, onde as fábricas foram fechadas. Toda uma cadeia foi afetada por causa disso: o fornecedor, o comprador, o distribuidor, o pagador de propina…
O “mercado” dos roubos e assaltos também está em queda por causa do isolamento social. Segundo John MacDonald, criminologista da Universidade da Pensilvânia, apenas nos Estados Unidos, na semana entre 15 e 21 de março, houve uma enorme queda de furtos e roubos nas principais capitais do país. A razão é que não há vítimas nas ruas.
Na Bósnia, onde o roubo de veículos é uma atividade criminal típica, os bandidos estão reclamando da dificuldade de roubar carros com as ruas vazias, diz o relatório Crime e Contágio da Iniciativa Global da Organização das Nações Unidades (ONU) contra o Crime Organizado Transnacional.
Crimes contra propriedades também tiveram queda, já que os bandidos preferem assaltar casas vazias.
Entretanto, o FBI tem monitorado o aumento de crimes pela internet. De acordo com o agente do órgão, Rich Jacobs, especialista em crimes cibernéticos:
“Uma é a solicitação de dinheiro para kits de teste e vacinas. A outra são ataques tradicionais, envolvendo phishing e sites falsos, projetados para instalar malware ou para fazer com que as pessoas revelem senhas bancárias.”
Um outro crime que está chamando a atenção é o aumento da pedofilia. A Europol está recebendo denúncias de vários países da União Europeia sobre materiais de exploração de menores pela internet.
A máfia italiana também reviu seus negócios com a pandemia que assolou tão fortemente a Itália. O instituto de previdência italiano foi hackeado várias vezes e, em apenas um dia, recebeu 440 mil pedidos de pagamento do bônus para trabalhadores autônomos concedido pelo governo em razão da Covid-19 – todos eles fraudulentos. O governo italiano declarou que os hackers não conseguiram roubar nada, mas criaram muita confusão.
O jornal italiano La Reppublica alerta que, quando o imperativo é a sobrevivência, conhecer os interesses dos criminosos é fundamental, mas a Europa está se mostrando totalmente despreparada para enfrentá-los. As máfias não respeitam as fronteiras e parecem não ter medo da suspensão do Tratado de Schengen.
Um outro crime destacado pela criminologista da Universidade de Essex, Anna Sergi, que pode ser preocupante é a agiotagem. Pessoas endividadas podem recorrem a essa atividade, que é bastante perigosa, sobretudo, quando a dívida não consegue ser paga devido aos altos juros.
“Quando a economia está suspensa, o maior perigo é que as empresas em crise não consigam sair dela e as máfias comecem a pescar nesse aquário”, disse o procurador italiano Federico Cafiero de Raho.
Com a falta do poder de decisão do Estado, as comunidades periféricas estão se auto-organizando para enfrentar o Covid-19. Na favela da Rocinha, por exemplo, a comunidade está realizando uma campanha de arrecadação de alimentos e material de higiene. E ela não é única, há uma rede de solidariedade por todo o Brasil:
Mas os traficantes também se “engajaram” no combate ao vírus, ordenando o toque de recolher após as 20h. Os criminosos usam carros de som e batem de porta em porta avisando que quem desrespeitar o toque pode ser punido com violência, informa o UOL.
O toque de recolher é uma medida adotada quando há mortes de lideranças do tráfico local. Entretanto, desta vez, ele está sendo usado para evitar o contágio do Covid-19 nas favelas, locais afetados pela falta de saneamento básico e moradias adequadas.
O problema é que a medida afetou o negócio dos traficantes. Para contornar a situação, os pontos de vendas de drogas foram alterados, sendo deslocados para fora das comunidades.
De acordo com a Veja, a Polícia Federal (PF) está atenta às mudanças de táticas de criminosos nas fronteiras brasileiras. Segundo a PF, o crime organizado está funcionando, mesmo com a pandemia do coronavírus. Na fronteira com o Paraguai, o contrabando de cigarro tem sido feito, por exemplo, pelo rio Paraná.
As apreensões seguem sendo realizadas pela PF, em ação conjunta com as polícias estaduais, a Força Nacional e o Exército, que monitoram as vias de acesso ao Paraguai por terra e por água.
O crime sempre trabalhou pelas margens, e não será agora que não buscará criar outras.
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