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O Complexo do Alemão é uma região grande e complexa na zona norte do Rio de Janeiro. Ele abrange cinco bairros (Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso e Inhaúma) e um conjunto de 12 favelas (Morro da Baiana, Morro do Alemão, Alvorada, Matinha, Morro dos Mineiros, Nova Brasília, Pedra do Sapo, Palmeiras, Fazendinha, Grota, Vila Cruzeiro e Morro do Adeus). Quais são as imagens daí que são apagadas do cartão postal da Cidade Maravilhosa?
O jornalista Matias Maxx deu voz à diversidade do Alemão em uma matéria para o Vice, que merece ser lida (clique aqui para ler), na qual conta a história da comunidade desde o início:
As terras do complexo, até os anos 40, eram de uma fazenda pertencente a um polonês. Na década de 50, algumas indústrias instalaram-se na região, e, aos poucos, a fazenda foi sendo desmembrada e loteada, sendo os principais compradores dos lotes os trabalhadores das indústrias locais. Com a abertura da Avenida Brasil, em 1946, outras indústrias foram para a região, que se tornou o principal polo industrial do Rio de Janeiro até os anos 1980.
Com a crise econômica dos anos 1980/1990, muitos fábricas fecharam e o desemprego chegou à casa de muitas famílias, bem como o aumento da criminalidade, criando as condições para a maior facção criminosa do Rio Janeiro, o Comando Vermelho, instalar-se no Complexo nos anos 90/2000. Com isso, uma verdadeira guerra entre a polícia e a comunidade começou.
Recentemente, a Copa do Mundo e as Olimpíadas serviram de pretexto para a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (as UPPs). A primeira delas começou a funcionar em 2008, no Morro Santa Marta, na zona sul carioca. Hoje, elas são 38 e um efetivo de 9.543 policiais é destinado a elas. Na zona sul, a implantação da UPP no Santa Marta e na Rocinha ocorreu sem troca de tiros, realidade bastante diferente da do Alemão e da Maré, onde a ocupação ocorreu em parceria com as Forças Armadas, acarretando a morte de muitas vidas na região. O resultado da ocupação no Alemão, que ocorreu em 2010, foi feita por uma tropa de 2,7 mil homens, 1,2 mil deles policiais militares, 400 policiais civis, 300 policiais federais e 800 militares do Exército.
Muitos grupos de resistência nasceram desse cenário. Entre eles o Coletivo Papo Reto, que reúne jovens ativistas, desde 2013, para ajudar as vítimas de deslizamentos provocados pela chuva. Eles atuam na comunicação em guerrilha, revelando a má atuação da política (e polícia) de segurança pública no Rio de Janeiro, e na comunicação afirmativa, a fim de dar visibilidade às pessoas da comunidade e às ações positivas realizadas por elas no Complexo. O coletivo produz conteúdos publicados e divulgados pelo YouTube no canal Tal do ao vivo e Retrato Falado, o que rendeu ao Papo Reto uma parceria com a ONG Witness, que os apoia com equipamentos e com o intercâmbio entre pessoas.
Pela voz de um de seus moradores, a Agência de Notícias da Favela conta como foi a instalação do teleférico no Complexo do Alemão, em 2011, o primeiro transporte de massas por cabos do Rio de Janeiro. O momento foi de puro êxtase para as comunidades locais: imprensa internacional, a presença de políticos, inclusive da presidenta na época, e a expectativa de mudanças.
Os moradores fizeram festa para inaugurar o início de uma nova era que, infelizmente, não veio. O que aconteceram foram desapropriações dos locais onde seriam as estações, remoções para a implantação de torres, tráfego de caminhões e de operários, o que acabou levando emprego para muita gente da região e a abertura de muitos pontos comerciais.
Os turistas, que nunca tinham pisado ali, apareceram aos montes, assim como muitos moradores do Rio de Janeiro que desconheciam a sua própria cidade atraídos pelo “Portal Aéreo Via Cabos”. A favela foi ganhando visibilidade e as pessoas puderam ver e conhecer outras realidades.
Cinco anos depois, o Teleférico do Alemão está fechado e abandonado. Como resultado, 90% dos trabalhadores foram demitidos, sendo que a maior parte deles é do próprio Complexo, e os milhões em recursos públicos investidos foram pelo ralo. A facilidade de locomoção deu lugar para o isolamento. Não só a comunidade do Alemão saiu perdendo, mas todo o Rio de Janeiro e o Brasil, já que os recursos provenientes para essa obra social foi mal gerenciada.
Mas essa e tantas mais não destrõem a esperança e a luta por melhores condições para as comunidade do Alemão. Por isso, a formação de coletivos, como o Papo Reto, e a criação de redes sociais para a partilha de informação e para o ativismo é fundametal para o Alemão e para todos nós que lutamos por um Brasil melhor.
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