A transmissão oral dos princípios e valores humanos vêm se perdendo junto com o avanço das tecnologias digitais. Mas, é preciso que reflitamos na importância da conversa para que a humanidade continue sendo humana.
Li, há dias, sobre uma atividade do “Ciranda de Filmes” que eles chamaram de “Roda de Conversa – Mediador de Mundos” e, me chamou muito a atenção esta frase do Ailton Krenak:”Perguntar para uma criança o que ela quer ser é uma ofensa. Isso é apagar o que ela já é”.
Ailton é uma pessoa que eu admiro há tempos, tem história, coerência e coragem de ser quem é. Um mestre! Então, nada estranho que uma frase dele me chame a atenção e que me leve a um assunto qualquer. E desta vez, ele me levou à importância da transmissão oral – forma que os indígenas de todos os povos usam para manter sua história viva e a comunidade, solidária em sua essência original. Claro, não são letrados os indígenas, nem por isso faltos de conhecimentos (com eles aprendemos tantas formas de curar, de trabalhar a terra, de usar e retribuir o que nos dá a Natureza) e de sabedoria (que é a aplicação do conhecimento, de forma coerente, à vida. Daí vem o respeito pela criança e sua capacidade de ensinar pois sua visão de mundo é pura, isenta de preconceitos).
Na roda estavam presentes também o educador José Pacheco e a cantora de cantigas populares Lira Marques, outros dois mestres em suas artes, a de viver e ensinar aprendendo. E, como tal, os três nos aparecem como figuras de lideranças comunitárias, guardiões de tradições originárias e educadores das práticas democráticas.
E, pergunto eu, que coisa pode ser mais importante do que a educação para o respeito à vida, à natureza que só podem estar, ser, em uma sociedade verdadeiramente democrática?
Ailton Krenak disse que o mestre dos mestres é a natureza – e ela quem nos ensina a viver (e a sobreviver também) no seio desta realidade que é sermos uma espécie, humana, parte do ecossistema terrestre. E diz Ailton: “a natureza me ensinou o sentido da liberdade e que reconhece todos os outros como iguais. Isso é liberdade. E como vivo num mundo de iguais, não tenho do que ter medo”. Ele é índigena, da etnia Krenak, do Vale do Rio Doce, Minas Gerais, rio que eles chamam de Uatu, o rio avô.
José Pacheco, educador português, fundador da Escola da Ponte, referência mundial de uma pedagogia inovadora contou de seus mestres na vida, difícil: “Eu nasci num cortiço onde não entrava polícia nem ambulância. O senhor Cardoso me livrou de um destino horrível, pois, na rua da minha infância, o ele era o único que lia livros. Todos os meus companheiros de infância morreram com menos de 30 anos e eu fui salvo pelos livros.
Mais adiante fui encontrando outros mestres e hoje vejo que os maiores mestres são as crianças”. Ele se salvou de um destino traçado para os que nascem entre os mais desfavorecidos, aprendeu com a vida o respeito à criança, a ouvir, escutar, entender, e educa, para a formação de cidadãos planetários, que é tudo o que a humanidade mais precisa.
E Lira Marques, da linda voz das cirandas do Vale do Jequitinhonha, ceramista que transmite “seu recado” em verso, prosa e gestos que a argila perpetua, contou que foi sua mãe a sua mestra: “Se eu sou uma artesã hoje é porque tudo que sei eu aprendi com minha mãe.
Em época de Natal, ela fazia presépios para doar às famílias. Eu observei muito até começar a trabalhar com cera de abelha. Foi minha mãe também que me ensinou os cantos de roda. Nós sentávamos nas calçadas para cantar e brincar de roda com adultos e crianças. Minha mãe foi minha principal mestra. Com ela aprendi a valorizar o que é próprio do nosso povo”.
Como concluíram eles nessa roda de conversa: “Há mestres de sabenças ancestrais, como os avós, e mestres de saberes ligados ao embrião da humanidade, as crianças, aquelas que nascem mais para ensinar do que para aprender”.
Sobre tudo isso é que eu te convido a refletir e deixo algumas perguntas que também me faço:
2) Quais princípios norteiam os valores humanos que queremos para a humanidade?
3) Você acha que sabe, mesmo, conversar?
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