Antes mesmo da 88ª edição do Oscar, premiação considerada a mais importante do cinema, realizada na noite deste domingo (28/2), a polêmica já havia ganhado destaque. Atores e diretores, como Spike Lee e Will Smith, se recusaram a ir ao evento para protestar contra a perpetuação do racismo pela indústria cinematográfica hollywoodiana, que ajuda a estender um problema social para o mercado da criação ficcional.
Na noite da premiação, o ator Chris Rock, que pela segunda vez apresentou o evento, fez um discurso criticando situação: “O que quero dizer é que não se trata de boicotar as coisas. O que a gente quer é oportunidade. Queremos que atores negros tenham as mesmas oportunidades. E só. Não só de vez em quando. Leo [DiCaprio] consegue um grande papel todo ano. Todos vocês conseguem grandes papéis o tempo todo. E os negros?”, disse.
Ao mesmo tempo em que a crítica põe em evidência as escolhas da Academia, as declarações do comediante deixaram muitos da plateia constrangidos. Entretanto, pôde-se perceber no tom do discurso como Hollywood soube aproveitar a polêmica a seu favor, escolhendo um ator negro para apresentar e criticar o Oscar. A presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Cheryl Boone Isaacs, retratou-se sobre o tema durante o evento. Em seu discurso, ela afirmou que a instituição precisa refletir as mudanças na sociedade dos Estados Unidos. “Nosso público é global e rico em diversidade, e todas as faces da nossa indústria deviam ser também. (…) A inclusão nos fará mais fortes”.
#OscarsSoWhite e, de fato, a foto acima diz tudo, com todo respeito e com todas as congratulações que os premiados merecem.
E o problema não está apenas ali. No Brasil a campanha que é parte do projeto “Senti na Pele”, criado pelo ator e jornalista Ernesto Xavier, pede para que os negros denunciem os casos de racismo que já sofreram. A campanha recebeu a adesão da atriz Solange Couto, que, na página do Facebook da campanha, postou uma fotografia em que segura uma lousa com os seguintes “dados” sobre a sua carreira: “37 personagens, 25 empregadas ou escravas, 5 dançarinas e 7 não-estereotipados”.
A atriz relatou, ainda, um caso de racismo que sofreu aos 19, quando a gerente de uma loja mandou ela se retirar do local alegando que ela não tinha dinheiro para comprar no lugar. “Cheguei e perguntei para a vendedora: ‘Quanto custa aquele vestido amarelo da vitrine?’. Ela não me respondeu. Por quatro vezes, eu perguntei e ela não me respondeu. Até que me dirigi a uma senhora do caixa. Era uma loja bem bonita. Eu perguntei à senhora se ela era dona ou gerente. Ela disse que era gerente. E eu falei: ‘É porque estou querendo comprar aquele vestido da vitrine e a menina insiste em não me dizer o preço. Ela parece que não está me vendo.’ Aí, a senhora disse: ‘Você com certeza não tem dinheiro para comprar esse vestido. Se retire da nossa loja, por favor.'”
O texto de Solange segue com sua reflexão sobre o episódio: “Eu não tinha essa consciência, na verdade. Essa maldade. Eu senti que ela estava achando que eu era uma empregada doméstica, o que era considerado ‘feio’ na época. Na hora, eu não tive a consciência de que era uma coisa absurdamente racista, que era por causa da minha pele. Eu saí da loja irritada, chateada, porque não comprei o meu vestido amarelo do réveillon. Só anos depois, me dei conta do que eu realmente havia passado. Eu tinha 19 anos. Portanto, isso foi há 40 anos.”
As campanhas com tom testemunhal vêm ganhado espaço e força nas redes sociais. Além do “Senti na Pele”, há campanhas de mulheres relatando casos de machismo, como as que viralizaram com as hashtags #meuamigosecreto e #meuprimeiroassédio, esta incentivando mulheres a relatarem as experiências de assédio sexual das quais foram vítimas.
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