Pandemia da Solidão e um Chamado à Reconexão Humana


Em novembro de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a solidão como uma ameaça urgente à saúde global, criando a Comissão Internacional para Conexão Social. A iniciativa visa combater o crescente isolamento, que afeta pessoas de todas as idades e regiões do mundo. Estudos indicam que uma em cada quatro pessoas idosas vive em isolamento social, e entre 5% e 15% dos adolescentes enfrentam solidão crônica.

Uma pessoa aprecia, sozinha, a paisagem. Imagem em preto e branco representa a pandemia da solidão

©Jeswin Thomas/Pexels

A solidão não é apenas uma sensação passageira; ela está associada a riscos sérios à saúde física e mental. Pessoas sem conexões sociais fortes têm maior probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão, demência e doenças cardiovasculares.

A Heroica Solidão

Em um vídeo que viralizou, o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral aponta que a solidão não se resume à ausência de amigos ou familiares. Ela está enraizada em uma cultura que exalta a superação individual e a resiliência como formas de heroísmo humano. Essa visão ignora o papel fundamental das comunidades e dos vínculos sociais no apoio durante momentos difíceis.

Além disso, vivemos em uma sociedade que frequentemente retrata o “outro” como uma ameaça. Mensagens cotidianas, especialmente em aplicativos de mensagem, reforçam o medo do diferente — o estrangeiro, o desconhecido. Isso tem nos tornado mais fechados, mais desconfiados, mais indisponíveis para o encontro.

A vida moderna, com sua velocidade e demandas de trabalho, dificulta o cultivo de vínculos profundos. Temos centenas de contatos no WhatsApp, mas na hora do aperto, falta coragem para buscar alguém de confiança e dizer “eu preciso de você agora”, até porque, provavelmente ninguém estará disposto a ajudar.

Mais Pet, Menos Família

A cultura contemporânea, com sua ênfase na individualidade e na eficiência, tem enfraquecido — senão destruído — os laços familiares e comunitários. Fenômenos como o movimento childfree e a genitorialidade de pets — mães e pais de pet que abrem mão da ideia de família porque cachorro é fiel, dá menos trabalho, adoece menos, morre mais rápido e não contraria — refletem uma sociedade que foge do compromisso e da complexidade das relações humanas. Relações exigem esforço, escuta, paciência. Pet, não. Pet é fácil. Pet abana o rabo sempre.

Ao mesmo tempo, cresce a substituição de vínculos reais por interações digitais, feitas por meio de redes sociais, aplicativos de namoro, mensagens instantâneas e figurinhas de bom dia. A vida afetiva virou interface, e o afeto, mercadoria. Gente que prefere o previsível ao imprevisto, o algoritmo ao acaso, o controle à vulnerabilidade. E, no fim, sobra o quê? Uma multidão conectada 24h por dia, mas emocionalmente órfã. O “bom dia” de um influencer não substitui o abraço de um amigo.

Psicoterapia Não Substitui Amizade

A busca por apoio emocional tem levado muitas pessoas a fazer psicoterapias que, embora benéficas, não substituem os laços afetivos genuínos, construídos fora do ambiente clínico. A dependência de relações mediadas por pagamento pode reforçar a sensação de que o cuidado e a atenção são mercadorias — não expressões de afeto e solidariedade.​

Dito isso — e não é tudo — tem-se que a pandemia da solidão é um reflexo de uma cultura que valoriza o individualismo em detrimento da coletividade. Para enfrentá-la, precisamos reconstruir o tecido social, promovendo empatia, cuidado e conexão. Nem que seja por egoísmo, afinal, ninguém constrói grandes coisas sozinho.

Como Acabar com a Pandemia da Solidão?

Cada pessoa precisa refletir sobre suas relações e assumir responsabilidade por elas. A reconexão humana é fundamental para construir uma sociedade mais saudável e solidária. E aqui, culpar o outro — aquele que se afastou, que te exclui ou não te quis — pode até ser verdadeiro, mas não resolve o problema.

Como diz Alexandre Coimbra Amaral, é preciso desconstruir a cultura da solidão e reconstruir uma cultura de sociedade. O ser humano é, por natureza, um animal social. Negar isso, ou esperar que o outro se mova primeiro, só aprofunda o abismo.

Depressão, ansiedade, suicídio, melancolia, pânico, burnout, etc, são sintomas de um modo de vida solitário, doente, desumanizado. Vamos acordar e reconstruir uma vida de laços verdadeiros. Para o bem de todos — inclusive o seu.

Fontes:

WHO Commission on Social Connection

Solidão é uma epidemia e afeta jovens e idosos, alerta OMS – Jornal da USP

Agência Brasil. OMS lança comissão sobre conexão social para lutar contra solidão

Correio Braziliense. Epidemia de solidão é ameaça à saúde pública, diz OMS

Fala do psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, disponível no vídeo abaixo, publicado no YouTube:

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Redação greenMe

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