Eutanásia Psiquiátrica: Quando Transtornos Mentais dão Direito à Morte


Um assunto muito polêmico: o direito à morte, o direito à liberdade de decidir pela própria morte, sobretudo em situações de doenças terminais graves, quando não há esperança de recuperação e quando a intenção é das melhores e mais éticas possíveis: evitar o sofrimento humano. Se para muitas pessoas a eutanásia é um assunto impensável pela ótica religiosa, imagine o que essas pessoas diriam sobre a eutanásia psiquiátrica. Se você nunca ouviu falar sobre isso, conheça esse novo termo que tem tudo para se tornar cada vez mais comum.

Eutanásia ou Suicídio Assistido

Nos últimos anos, a discussão em torno da eutanásia ou do suicídio assistido tem se expandido para incluir não apenas pacientes com doenças terminais, mas também aqueles que sofrem de transtornos mentais debilitantes. Esta evolução no debate ético e médico levanta questões fundamentais sobre autonomia, qualidade de vida e o papel dos médicos e outros profissionais na prestação de cuidados de saúde mental.

A eutanásia psiquiátrica, como é conhecida, permite que indivíduos com doenças mentais graves e incuráveis possam solicitar ajuda médica para pôr fim à suas próprias vidas. Este procedimento é permitido em países como Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Espanha e, provavelmente em breve, no Canadá.

O suicídio assistido difere da eutanásia porque nele é o paciente quem se mata, mesmo que tenha sido assistido, é ele quem aciona o dispositivo que o levará à morte, seja uma injeção ou um remédio dado pelo assistente. Nós falamos sobre isso aqui: Sarco: a polêmica cápsula criada para cometer suicídio.

Uma Prática Polêmica

A questão da eutanásia psiquiátrica é altamente controversa e suscita debates acalorados em toda a comunidade médica e na sociedade em geral.

De um lado, há defensores que argumentam que a eutanásia é um direito fundamental do indivíduo, garantindo-lhes autonomia sobre suas próprias vidas. Por outro lado, há críticos que veem a eutanásia como uma violação dos princípios médicos éticos e uma desvalorização da vida humana.

Dois casos emblemáticos, o de Aurelia Brouwers e o de Zoraya ter Beek, ambas jovens holandesas que decidiram morrer por eutanásia devido a um sofrimento psicológico insuportável, ilustram a complexidade e a sensibilidade dessa questão.

Antes de completarem 30 anos de idade, essas jovens decidiram morrer não porque tinham doenças terminais incuráveis, mas porque sofriam de transtornos mentais como ansiedade, depressão e psicose (no caso de Aurelia); e de depressão, autismo e transtorno de personalidade borderline (no caso de Zoraya).

Zoraya ainda está viva, mas com a eutanásia marcada para maio desse ano.

Transtorno ou Doença Mental?

Transtornos mentais não são considerados doenças propriamente ditas: não há uma patologia física, causada por agentes patogênicos externos como vírus ou bactérias. Os sintomas não são objetivos, pelo contrário, são subjetivos. Mesmo assim, alguns transtornos podem ter bases biológicas ou psicológicas e podem ser tão debilitantes, insuportáveis e intratáveis, que alguns médicos sustentam que a eutanásia seja aceitável por evitar o sofrimento humano.

Mas enquanto alguns defendem o direito de determinar seu próprio destino, outros questionam se a eutanásia é a única opção disponível para aliviar o sofrimento de pacientes psiquiátricos, ou com transtornos mentais.

Como Estabelecer Critérios?

Um dos principais desafios associados à eutanásia psiquiátrica é estabelecer critérios claros e objetivos para determinar a elegibilidade dos pacientes. A capacidade do paciente de tomar uma decisão informada, a gravidade e a incurabilidade do transtorno mental e a eficácia dos tratamentos disponíveis são alguns dos fatores considerados. No entanto, essa avaliação pode ser complicada pela natureza subjetiva e fluida dos transtornos mentais.

Além disso, a eutanásia psiquiátrica levanta questões éticas sobre o papel dos médicos na prevenção do suicídio versus a prestação de assistência para morrer. Enquanto alguns argumentam que os médicos têm o dever de proteger a vida e promover o tratamento e o cuidado dos pacientes, outros defendem que a autonomia do paciente deve ser respeitada, desde que todas as opções de tratamento tenham sido exploradas.

À medida que mais países consideram a legalização da eutanásia psiquiátrica, é crucial continuar o diálogo aberto e respeitoso sobre este assunto delicado. É importante considerar uma ampla gama de perspectivas e opiniões, garantindo ao mesmo tempo a proteção e o cuidado adequado dos pacientes que sofrem de transtornos mentais graves.

Em última análise, o objetivo deve ser oferecer apoio e tratamento compassivo para aqueles que estão lutando contra problemas mentais, enquanto se respeita sua dignidade e autonomia como seres humanos.

Procure Ajuda

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando dificuldades emocionais ou pensamentos suicidas, é fundamental buscar ajuda e apoio profissional. Recursos como CAPS, Unidades Básicas de Saúde e linhas de apoio emocional, como o CVV (Centro de Valorização da Vida), estão disponíveis para fornecer suporte durante momentos difíceis.

Ainda que no Brasil a eutanásia não seja permitida, é fato que no mundo todo a saúde mental passou a ser um debate de primeira importância, devido ao aumento dos diagnósticos e dos fenômenos da patologização e da medicalização social.

Nada impede que em um futuro bem próximo, a eutanásia, psiquiátrica ou não, passe a ser um direito comum. O que você pensa sobre isso?

Fonte: BBC Brasil

Talvez te interesse ler também:

Nossas vidas não são empresas: depressão é o transtorno que mais adoece pessoas no mundo

20 transtornos mentais representados por incríveis ilustrações

Em nome da saúde física e mental: jovens estão bebendo menos




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...