Estamos todos prontos para expressar nossas opiniões e pontos de vista sobre o conflito israelo-palestino? Por que tendemos sempre a tomar partido, seja em qual assunto for?
Lembro-me do poema de Cecília Meireles:
“Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!(…)
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.”
No mundo contemporâneo, onde temos acesso a uma ampla gama de informações e o direito de opinar sobre qualquer assunto, parece que estamos presos em um dilema semelhante ao do poema de Cecília Meireles, onde somos constantemente pressionados a fazer uma escolha, tomar partido e abrir mão de algo:
Ou você vota no Lula ou no Bolsonaro
Ou você toma vacina ou é novax
Ou você é de direita ou você é de esquerda
Ou você se solidariza com as vítimas de Israel ou está do lado dos palestinos em Gaza.
Não! Em vez de usar a conjunção alternativa “OU,” podemos optar pela aditiva “E” ou pelas adversativas “MAS,” “PORÉM,” “CONTUDO,” e “ENTRETANTO.”
Voto no Lula MAS respeito quem vota no Bolsonaro
Tomei a vacina E compreendo quem não a tomou
Não sou de esquerda NEM de direita, pois acredito que os extremos se tocam…
Já dizia Júlio César: divide, e impera: o que significa: fiquem aí brigando entre vocês.
Putin ou Zelensky? Palmeiras ou Corinthians? Devemos apoiar isso ou aquilo? E todos têm respostas prontas na ponta da língua. O problema disso é a polarização: de um lado, X, do outro, Y.
A vida é feita de contrastes. O contraste é fundamental para a análise das diferenças e semelhanças que moldam nossas concepções e ideias sobre o mundo e a existência.
MAS a vida também é marcada pela ambivalência. O contraste, afinal, é uma forma de ambivalência, pois não existe contraste sem ambivalência. Há luz porque há escuridão. Há vazio porque há plenitude. Há o lado escuro porque há o lado claro…
Ou seja, a dualidade de opostos está intrinsecamente ligada à natureza da ambivalência. A ambivalência envolve a coexistência de elementos contraditórios ou opostos em um único contexto.
Nossa sociedade ultimamente tem operado muito na matemática da divisão: ou isto ou aquilo. Não podemos ser isto E aquilo porque a dúvida, em si mesma, muitas vezes é vista como falta de opinião, falta de informação ou falta de coragem para se POSICIONAR.
Como diz a Cecília Meireles:
“Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!”
Mas Cecília é poesia. Na vida real, somos ambivalentes; somos luz e sombra, alto e baixo, direita e esquerda, Palestina e Israel.
É importante aliviar a pressão do “isto ou aquilo” ou, pelo menos, reconhecer que podemos ser “E” em vez de “OU” antes de emitir pareceres apressados ou dar aquela velha opinião formada sobre tudo.
Pense nisso antes de se POSICIONAR sobre algum assunto.
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Categorias: Sociedade
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