As lições de vida que aprendemos com o submersível Titan


Pronto, acabou a aflição mundial em busca de vidas milionárias. Já sabemos que o submersível Titan implodiu, ou seja, alguma falha fez com que a enorme pressão externa das profundezas oceânicas amassasse o pequeno submersível em um piscar de olhos. Bom, se assim fosse (vai saber!), provavelmente ninguém teria tido tempo de sofrer, ou de pensar sobre o que estava para acontecer. Mas nós, cá de fora, expectadores dessa tragédia anunciada, evitável ou bizarra, bem que podemos tirar algumas lições dessa história. Aqui vão algumas delas:

A ganância e a arrogância matam

Em entrevista ao National Geographic, James Cameron (diretor, roteirista e produtor de filmes como “O Exterminador do Futuro”, “Aliens”, “Titanic”, “Avatar”, etc) e Bob Ballard, um renomado explorador e cientista da National Geographic, conhecido por suas descobertas de naufrágios famosos, como o Titanic e o Bismarck – enfatizaram que o incidente do Titan é um caso atípico e não reflete o cuidado que os cientistas têm em seus trabalhos de pesquisa.

“Qual é a lição do Titanic?” perguntou Cameron.

“Atenção aos avisos. Não deixe que a ganância e a arrogância substituam seu melhor julgamento. Quero dizer, o capitão do Titanic era altamente experiente, altamente respeitado, e mesmo assim não deu ouvidos aos avisos e navegou a toda velocidade em um campo de gelo em uma noite sem lua. E 1.500 vidas foram perdidas como resultado. Essa é a lição.”

Ballard concorda. “Se você não estuda história, está fadado a repeti-la.”

Ao The Guardian, James Cameron diz que

“o Titanic nos fascina porque parece um fracasso colossal de algum tipo de sistema naquela época, e 1.500 pessoas pagaram o preço por isso… O capitão do Titanic recebeu múltiplos avisos de gelo à frente. Ele avançou em velocidade máxima em um campo de gelo desconhecido em uma noite completamente escura, sem lua. Se isso não é uma receita para o desastre, eu não sei o que é.”

Stockton Rush, o CEO da OceanGate, que foi morto a bordo do submersível Titan, repetidamente ignorou os avisos sobre a segurança do submarino, como mostram os e-mails entre Rush e um especialista em exploração submarina em mensagens vistas pela BBC. Rush descrevia as críticas às medidas de segurança do Titan como “mentiras infundadas” feitas por “atores da indústria”.

O perigo das novas tecnologias

O Titanic ensinou ao mundo sobre “os perigos da arrogância e do excesso de confiança na tecnologia. O final trágico desta expedição mostrou que essas lições ainda precisam ser aprendidas”, disse Charles Hass, presidente da Titanic International Society, uma organização americana sem fins lucrativos fundada em 1989 para preservar a história do Titanic.

A mesma opinião tem Michael Parfitt, piloto e documentarista, em uma coluna publicada no The Globe and Mail.

Segundo ele:

“O submersível Titan oferece uma lição arrepiante sobre os perigos das novas tecnologias”.

“As fronteiras extremas da inovação e exploração são sempre desafiadoras, impulsionadas por um entusiasmo corajoso e excesso de confiança, e marcadas por erros, tragédias e, às vezes, triunfos avassaladores. Isso não é uma desculpa. É a natureza humana. Em tragédias, culpamos o comportamento arriscado, e em triunfos, elogiamos a audácia.

Mas também é vital reconhecer que trazer o conhecimento nascido dessas fronteiras desafiadoras para o resto de nós requer exatamente o que os críticos irritados estão exigindo: regulamentação, regras, rigor e, sim, burocracia.”

Note que essa questão sobre regulamentação está sendo muito falada sobre a Inteligência Artificial que que está engatinhando, mas promete ser um monstro, inclusive ameaçando a humanidade:

Não subestime a natureza

O homem vai avançando na Terra acreditando que Deus é o Dinheiro, mas Deus é a natureza e a natureza é feroz, com a natureza não se brinca. O que é o dinheiro no escuro profundo dos oceanos? O que é o dinheiro perto da grandeza de um terremoto, um fenômeno aliás, ainda não previsível.

Respeite os mortos

Uma coisa que a mim, pessoalmente, ficou muito marcado nessa história é a vontade humana de rever tragédias, de querer reviver uma angústia que deve ter sido horrível para quem viveu. Se um acidente desse tipo tivesse acontecido em um turismo louco desses, mas para ver uma coisa bonita, talvez fosse mais fácil entendê-lo. Mas para ver os restos de um naufrágio carregado de arrogância e egoísmo humano? Para mim é um “passeio” macabro e desrespeitoso com os mortos.

Respeite os vivos

É verdade que o dinheiro é de cada um e cada um faz o que quiser com ele, principalmente se você vive em um sistema liberal, capitalista. Ótimo! Mas bom senso é tudo! Estamos na beira de uma revolução tecnológica que ameaça nossa humanidade e, se continuarmos assim, podemos já nos declarar derrotados. O ser humano na Terra avançou apenas na materialidade, espiritualmente é um fiasco!

Duras lições…

De um artigo publicado na Forbes, resumimos 7 duras lições sobre os riscos extremos da saga do submersível Titan:

  1. A necessidade de um equilíbrio entre audácia e imprudência ao buscar riscos extremos.
  2. A importância de uma análise responsável do risco e dos custos sociais da inovação e exploração sem restrições e não regulamentadas.
  3. Reconhecer a importância da preparação adequada e da busca por verificações independentes de segurança em empreendimentos arriscados.
  4. A compreensão dos riscos inerentes ao ambiente extremo, como as profundezas oceânicas.
  5. A necessidade de diálogo entre os responsáveis por inovações e empreendimentos que envolvem riscos extremos, considerando os impactos para a empresa, funcionários, fornecedores e comunidades envolvidas.
  6. A conscientização sobre os riscos potenciais e impactos da inteligência artificial e a importância de abordá-los de forma adequada.
  7. Reconhecer que a criatividade, ousadia e inovação devem ser incentivadas, mas é essencial avaliar se os riscos associados podem ser gerenciados sem um custo excessivo.

E você? Conta pra gente o que aprendeu com essa história…

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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