O que é Cultura do Cancelamento, como se manifesta e prejuízos que causa


As redes sociais são o lugar perfeito para o debate democrático, mundial e aberto. Mas, podendo se esconder em perfis falsos ou, de qualquer forma, estando por trás de uma tela, as redes acabaram se tornando a praça pública ideal para julgar, sentenciar e apedrejar quem quer que tenha cometido qualquer deslize. Vamos falar da perigosa Cultura do Cancelamento.

O que é a Cultura do Cancelamento?

A Cultura do Cancelamento é um fenômeno social recente que envolve a rejeição pública e o boicote de indivíduos, empresas, produtos ou ideias consideradas ofensivas, prejudiciais ou politicamente incorretas.

Na Cultura do Cancelamento as pessoas que expõem e denunciam determinado comportamento são frequentemente chamadas de “canceladores” e a pessoa ou instituição que está sendo exposta é considerada “cancelada”.

Essa prática tem sido cada vez mais comum nas redes sociais e tem gerado muitos debates sobre sua eficácia e impacto na liberdade de expressão e na diversidade de opiniões.

Características da Cultura do Cancelamento

As características da cultura do cancelamento incluem:

Foco em erros do passado

Muitas vezes, as pessoas são canceladas por algo que disseram ou fizeram há muito tempo, mesmo que tenham mudado suas opiniões ou comportamentos desde então.

Pressão social

Os cancelamentos geralmente são realizados por meio de pressão popular nas redes sociais, sem a possibilidade do devido processo legal.

Ausência de espaço para o diálogo

Em muitos casos, os cancelamentos são feitos sem dar a oportunidade para a pessoa ou empresa cancelada, de se defender ou de explicar suas ações.

Danos irreversíveis

Os cancelamentos podem ter efeitos profundos e duradouros na vida e na carreira da pessoa ou empresa envolvidas.

O dois lados da Cultura do Cancelamento

Por um lado, a Cultura do Cancelamento é vista como uma forma legítima de responsabilizar as pessoas por suas ações e encorajar a mudança: uma espécie de justiça popular. Já por outro, é uma forma de censura e uma ameaça à diversidade de opiniões.

O lado que irá prevalecer na Cultura do Cancelamento, dependerá de como se usa as redes sociais para defender um ponto de vista ou uma causa.

Como ocorre a Cultura do Cancelamento?

A Cultura do Cancelamento tornou-se mais comum com o crescimento do ativismo nas redes sociais, onde as pessoas podem se unir para ampliar suas vozes e chamar atenção para questões que consideram importantes. No entanto, o cancelamento também é alvo de críticas por sua natureza punitiva e muitas vezes radical.

O radicalismo pode levar à promoção de discursos de ódio e ao linchamento virtual, provocando  consequências prejudiciais para a liberdade, respeito e diálogo aberto e construtivo.

Como surgiu?

A Cultura do Cancelamento é um fenômeno relativamente recente que se originou principalmente nas redes sociais na última década.

Embora não haja um momento específico ou local definido para o surgimento dessa cultura, alguns estudiosos apontam que ela começou a se difundir a partir do movimento #MeToo em 2017, realizado por atrizes estadunidenses contra o assédio e abuso sexual, e que propunha a exposição e o boicote de abusadores e assediadores.

Esse movimento e outros posteriores têm marcado a Cultura de Cancelamento nas redes sociais e o ativismo online.

Apesar de o objetivo inicial fosse chamar a atenção para comportamentos considerados problemáticos ou prejudiciais, essa prática se tornou controversa por sua tendência a se tornar punitiva e por seus métodos de humilhação online, linchamentos virtuais e falsas acusações.

Mídias socias: Tribunal Virtual

As mídias sociais têm se tornado uma espécie de Tribunal Virtual, onde as pessoas se colocam como juízes para absolver ou condenar quem quer que seja.

O advento da Cultura do Cancelamento tem provocado embates ideológicos, divisões, discriminação, exclusão de indivíduos e grupos de pessoas.

A quantidade de internautas que usam as redes sociais para apedrejar virtualmente é enorme, e nunca foi tão fácil convocar grupos para participar de polêmicas, julgamentos públicos online, acusações e ataques morais aos cancelados.

Alerta: cuidado, você pode estar sendo vigiado e julgado

Quando se trata de mídia social, a credibilidade, reputação e integridade de uma pessoa pode estar em jogo toda vez que ela publica algo online, pois fica sujeita ao crivo e à crítica de outras pessoas.

Qualquer deslize, seja do presente ou do passado, se torna público e é divulgado de uma forma tão rápida nas mídias sociais que pode virar um escândalo e, por consequência um cancelamento, destruindo a imagem do cancelado.

O pior de tudo é quando a informação é enganosa ou falsa, desencadeando uma imensa injustiça ou calúnia, que pode ser tarde demais para consertar, levando a resultados desastrosos, ferindo a dignidade do cancelado e provocando o remorso de quem fez o cancelamento.

Efeitos da Cultura do Cancelamento

Ultimamente, o que mais estamos vendo na Internet são influencers, artistas, políticos, partidos, produtos, marcas ou organizações serem “canceladas” . E para piorar não existem fundamentos e  formas de moderação eficazes para evitar extremismos e injustiças.

O estrago da Cultura de Cancelamento nas mídias sociais pode assumir um caráter contínuo e permanente, já que uma postagem pode ser compartilhada inúmeras vezes e, com isso, fica difícil ter controle e interromper o fluxo de uma divulgação, mesmo que seja falsa.

Corrigir uma injustiça provocada pelo cancelamento virtual pode ser muito difícil, porque pode assumir uma proporção gigantesca e incontrolável e levar à anulação, desmoralização e marginalização do cancelado.

Linchamento Virtual

O advento da Cultura do Cancelamento promove frequentes movimentos que visam tirar o status de personalidades em evidência, influencers, celebridades ou a credibilidade de uma pessoa, empresa ou grupo de indivíduos, com base em comportamentos considerados errôneos, ofensivos ou censuráveis.

O que precede o movimento do cancelamento é uma espécie de tribunal online, com a diferença que não há leis, um juiz, advogados e um jurado, o que pode provocar arbitrariedade e erros de julgamento contra pessoas inocentes.

O resultado desse julgamento pode até se converter no apedrejamento virtual, no qual as pedras são os comentários e postagens dos internautas contra aquele que está sendo condenado.

Exemplos da Cultura de Cancelamento

Devido à toda problemática apontada acima, a Cultura do Cancelamento vem fazendo muito mal para a sanidade das pessoas, por desencadear embates psicológicos, desgaste de energia emocional e ataques morais.

Um exemplo da cultura de cancelamento, foi o ocorrido durante a pandemia, no qual a postura do podcaster Joe Rogan sobre as vacinas levou alguns músicos a boicotar o Spotify, que hospeda o programa de Rogan.

E aqui, no Brasil, um exemplo atual é o caso:

Necessidade de um melhor gerenciamento virtual

A relação das mídias sociais com a Cultura do Cancelamento leva à necessidade urgente de um gerenciamento e uma política abrangente por parte de cada rede social para proteger a reputação de quem pode ser alvo de injustiça desse tipo de fenômeno contemporâneo.

Desinformação, erros e fake news podem causar rapidamente graves problemas, por isso urge a necessidade de estratégias e normas para evitá-los.

Os comentadores de plantão devem ter sempre em mente que podem estar cometendo injustiças, e pensarem mil vezes antes de julgar qualquer pessoa ou situação.

Se não tem estômago, não tenha rede social

O influencer, médico e fisiculturista Paulo Muzy, expõe na entrevista abaixo a sua visão sobre as redes sociais, com um alerta para os internautas. Confira:

@nelborges O @paulomuzy “nunca erra” Como não parar para ouvir!!! #autoconhecimento #sabedoria #evolua #entendimento #muzy ♬ som original – Nelminha🦋

Infelizmente, o alerta do médico Paulo Muzy tem razão de ser e se faz necessário. Quanto mais conhecido você se torna, maior a probabilidade de virar alvo de antipatias, críticas e ataques à sua reputação. Até por isso, o influencer adverte: “Precisa ter estômago para compartilhar sua vida nas redes sociais”.

Campo de Batalha Virtual

As redes sociais também se tornaram um campo de batalha virtual. O que era para ser entretenimento, espaço para compartilhar ideias e se conectar às pessoas, virou lugar de:

  • fofocas
  • intrigas
  • maledicências
  • brigas virtuais
  • guerras online
  • difamações
  • difusão de preconceitos
  • cancelamentos
  • propagação de violência verbal

Como evitar cancelamentos injustos nas redes sociais

Enquanto não existe um gerenciamento eficaz, por parte das redes sociais para evitar a propagação de difamações e fake news com o consequente cancelamento injusto de pessoas, cada um de nós pode fazer sua parte para evitar injustiças com as seguintes condutas:

  • Verifique a veracidade da informação
  • Veja se a notícia é atual
  • Pese os dois lados da questão, ou seja, considere também os bons feitos da pessoa
  • Não compartilhe ou comente se for fazer o mal, provocar discórdia e fomentar a maldade, a injustiça e a violência
  • Antes de cancelar alguém, lembre que somos humanos e passíveis de erros
  • Tenha em conta que cancelar quem quer que seja, pode provocar até uma tragédia. Pois, existem casos de ataques físicos a pessoas canceladas e suicídios de quem foi alvo de cancelamento
  • Antes de julgar, coloque-se no lugar da pessoa, isto pode ajudar a refletir melhor sobre a conduta dela e evitar condenações extremistas.

E por fim, em vez de contribuir para a Cultura do Cancelamento, vamos nos unir para  fortalecer a Cultura de PAZ, pois a humanidade está carente de pacificadores!

Fontes:

  1. Wikipédia
  2. Pew Research Center
  3. Fast Company
  4. Nel Borges
  5. Bíbliaon

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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