Índice
Uma boa notícia que esconde uma triste. O Brasil, campeão de reciclagem de alumínio, ganha esse título não por suas ações sustentáveis, mas porque sua população é pobre e recolhe latinha para ajudar na renda.
Dentro dessa disparidade, o Brasil conquista pelo sétimo ano consecutivo a posição de campeão mundial em reaproveitamento desse tipo de lixo, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL).
O elevado índice de reciclagem que o nosso país apresenta não é proveniente da aplicação de políticas de desenvolvimento sustentável, mas vem do contexto social e econômico da nossa população.
Como há uma enorme desigualdade social no país, muitas famílias encontram nas latinhas uma fonte de renda, de acordo com as declarações do presidente da ABAL, Henio de Nicola.
No Brasil, os números ligados à reciclagem geram um volume de dinheiro bastante alto. Somente no ano de 2007, a atividade movimentou aproximadamente 1,8 bilhão de reais. Desse total, cerca de 523 milhões são provenientes da coleta das latas, atividade de geração de renda para aproximadamente 180 mil brasileiros.
Em 2021, das mais de 414 mil toneladas de latas comercializadas, 409 mil toneladas foram recicladas, 98,7% das latas comercializadas em todo o país foram reutilizadas, o maior volume da história.
Esta reportagem do Jornal da Record mostra que o Brasil é o país que mais recicla latinhas de alumínio no mundo, movido pelo cenário social dos milhões de catadores brasileiros. Confira esta notícia:
No que diz respeito ao lado bom da reciclagem de latas, entre 2019 e 2021, esta ação proporcionou redução de 70% no consumo de energia, 65% no consumo de água e queda de 70% nas emissões de gases de efeito estufa
Para cada um quilo de lata reciclada são poupados cinco quilos de bauxita, mineral utilizado para a produção de alumínio.
Somente em 2021, foram economizados dois milhões de toneladas de bauxita, promovendo benefícios ambientais.
Em 2020, a assinatura de um acordo entre o Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente, com a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas) ampliou a coleta e permitiu um aumento nos números de reciclagem de latas.
Foi lançado no Brasil o programa Cada Lata Conta com os seguintes objetivos:
De acordo as informações da pesquisa do Salario.com.br, junto aos dados oficiais do Novo CAGED, do eSocial e do Empregador Web, baseados em um total de 4.384 salários de profissionais admitidos e desligados pelas empresas no período de janeiro a dezembro de 2022, os catadores receberam em média uma renda mensal de R$ 1.464,32 para uma jornada de trabalho de 44 horas semanais.
A atividade de catar latinhas é a principal forma de sustento de cerca de 800 mil catadores e catadoras em atividade no país, segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
Apesar de servir como sustento para muitas famílias brasileiras, a reciclagem das latas de alumínio precisa avançar muito nesse quesito, porque há a necessidade de se criar melhores condições de trabalho para os catadores, além de aumentar o valo pago por cada latinha.
Para se ter uma ideia, de acordo informações do Estado de Minas, a venda do quilo da latinha de alumínio pelo catador para empresas de ferro-velho, varia de R$ 2,40 a R$ 3,70, em média.
Segundo a ex-catadora, Maria do Socorro Soares, hoje presidente da Associação Montes Claros de Catadores de Recicláveis (Montesul), apesar desta profissão ser de extrema importância, ainda se paga muito pouco.
Cada quilo de latinha recolhida pelos catadores, e que a associação vende, rende de R$ 7 a R$ 8. E é desta venda que ela paga os catadores.
“A gente paga o catador aqui por quinzena. Já teve quinzena que conseguimos pagar R$ 250 por família. Sei que é pouco, mas é para sobreviver mesmo”, afirma ela.
Por esse contexto, a ex-catadora defende que os catadores precisam ser mais valorizados tanto pelo poder público quanto pela sociedade, pois são importantes na manutenção da limpeza da cidade.
Ela ainda defende que a estrutura do galpão de reciclagem poderia ser melhor e que a renda dos catadores seria bem maior, se não tivessem que vender o material reciclável para atravessadores.
“A gente sempre vende para um ferro-velho aqui na cidade, justamente porque não conseguimos imprensar o material, e ele só pode sair prensado para as fábricas”, lamenta.
De acordo, com Maria do Socorro, quando tudo está prensado e triturado, o valor do reciclável sobe.
“A gente ganharia bem mais, porque também evitaria o atravessador…”
Infelizmente, muitos catadores vivem em vulnerabilidade social e são carentes do básico para viver com dignidade.
A dura rotina do catador precisa ser reconhecida e valorizada, porque este serviço é fundamental seja para a sociedade que para a preservação ambiental. É um trabalho que merece ser recompensado com um bom salário.
Fontes:
Saiba mais sobre os catadores de recicláveis em:
Catadores são responsáveis por reciclar quase 1 milhão de toneladas de lixo
Cataki: O aplicativo para reciclagem que conecta catadores à pessoas que querem se livrar do lixo
Catadores de sonhos: Documentário da vida dos catadores no lixão de Aurá, Belém
Politécnica da USP oferece curso para catadores de lixo. Um luxo!
Usar latinha de alumínio como cinzeiro prejudica o trabalho dos catadores. Entenda
Categorias: Sociedade
ASSINE NOSSA NEWSLETTER