Atriz de ‘Roma’ indicada ao Oscar, é alvo de críticas e preconceito


O filme Roma tem dado o que falar. Também pudera! O filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón rompeu uma série de paradigmas para espectadores e em premiações internacionais.

O drama se passa em Roma, bairro de classe média alta da Cidade do México, e, sinteticamente, trata das relações sociais entre patrões ricos – e brancos – e seus empregados – indígenas.

Cuarón conseguiu um grande feito com o seu filme: criou uma obra de crítica social bela sobre as suas reminiscências de infância em preto e branco, na qual as personagens falam espanhol e mixteco, língua de um dos povos nativos mexicanos.

Além disso, o diretor conseguiu que a Netflix produzisse um filme com todas essas qualidades consideradas nada atraentes pelas produtoras cinematográficas internacionais. Isso lhe propiciou ter seu filme divulgado nesse poderoso streaming, levando-o para a casa de milhões de pessoas em todo o mundo. Dificilmente o filme de Cuarón – em preto e branco e em espanhol e mixteco – conseguiria espaço nas salas de cinema que não fossem cult.

Mas a polêmica não termina aí. A atriz Yalitza Aparicio, indígena inexperiente em cinema, encantou os espectadores por sua atuação autêntica e sensível como a protagonista de Roma, o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz.

Parece que o sucesso e o reconhecimento advindos do seu trabalho não agradaram alguns de seus compatriotas, evidenciando que as questões sociais tratadas no filme – que se passa na década de 1970 – ainda são atuais na sociedade mexicana. Críticas como “Não é atriz”, “não tem vocação nem futuro na área” e tem a “sorte das feias” partiram do ator Sergio Goyri em um vídeo no qual reclama terem “nomeado uma índia” ao Oscar – uma declaração clara de racismo.

Como resposta, Yalitza disse:

“Estou orgulhosa de ser uma indígena oaxaqueña e só lamento que haja pessoas que não sabem o significado correto das palavras”, informa o G1.

Um grupo de atores tentou evitar que a Academia Mexicana de Artes e Ciências escolhesse Yalitza como melhor atriz no prêmio Ariel. A coordenadora do Festival Internacional de Cinema Morelia, Rossana Barro, disse em seu Twitter:

“Soube que há um grupo de atrizes mexicanas que está se organizado para pedir à academia de cinema que Yalitza Aparicio não seja considerada para a categoria de melhor atriz. É a coisa mais medíocre, patética e vil que já escutei. Não direi mais nada”.

A dor de cotovelo desse grupo de atores é manifesta em frases como “ela não atuou” e “ela teve sorte”. Antes de tornar-se famosa por sua atuação em Roma, Yalitza era professora de pré-escola em Tlaxiaco, na província de Oaxaca.

Além de comentários que desmerecem o trabalho de Yalitza, vários deles são racistas, pois ofendem a origem indígena da atriz.

A resposta de Yalitza Aparicio às críticas foi:

“Eu não conhecia muito sobre cinema. Eu me afastei totalmente do cinema porque considerava que não me pertencia, que era um mundo de sonhos a que eu não podia aspirar, porque nenhuma mulher que eu via nas telas se parecia comigo“, afirmou em uma entrevista à imprensa.

Ou seja, a questão da representatividade é fundamental. Os povos indígenas no México passam pelos mesmos problemas que os daqui do Brasil e, também, no nosso país a população negra. Os exemplos bem-sucedidos nessas sociedades desiguais vêm sempre de pessoas brancas.

Yalitza acrescentou ainda que:

“Comentar sobre esses comentários é dar a eles maior importância. Respeito a opinião de cada um. Eu sempre me alegro com a vitória dos outros, não costumo criticar. Mas todas as opiniões são bem-vindas”.

Roma concorre a dez categorias no Oscar 2019, além de ter ganhado o Leão de Ouro na categoria “melhor filme”, no Festival de Cinema de Veneza, além de vários outros prêmios cinematográficos importantes.

Estamos torcendo por você, Yalitza!

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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