Jainismo, a religião que ensina que não é só o ser humano que tem Alma!


Existem religiões que são milenares, algumas delas tem raízes na Índia tais como o Hinduísmo, o Budismo e o Jainismo ou Jinismo. Neste conteúdo será abordado especificamente o Jainismo, uma religião que, embora seja muito antiga, aqui no Ocidente não é tão conhecida. Mas vale a pena saber mais sobre essa interessante religião e suas peculiaridades. Talvez você até se identifique com os preceitos dela.

Diferente do Budismo, o Jainismo não tem caráter missionário, por isso ficou concentrado na Índia. O Jainismo baseia-se em princípios como o respeito a todos os seres vivos, a não-violência e o desapego das coisas materiais.

Assim como o Hinduísmo, a religião Jainista possui simpatizantes no Ocidente.

Saiba mais informações interessantes e curiosas sobre essa religião.

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Fundamentos do Jainismo

A palavra Jainismo tem as suas origens no verbo sânscrito jin que significa “conquistador”.

Os adeptos do Jainismo buscam “vencer” as paixões da matéria visando a libertação do mundo.

No Jainismo, a matéria e a mônada vital, ou jiva, possuem naturezas distintas e ao longo da vida o ser vivente, seja humano ou animal, vai tingindo sua mônada de acordo com suas ações.

A religião jainista propõe a purificação através do ascetismo e da doutrina da não-violência, ou Ahimsa.

Para o Jainismo, tanto pessoas, animais, plantas, rochas, montanhas, rios, lagos, nascentes, mares, cachoeiras têm jiva, ou seja Alma ou, Princípio Vital.

Assim, todos os seres têm igual valor e estão interligados na corrente da existência por elos kármicos.

Origens

O Jainismo surgiu na Índia por volta do primeiro milênio a.C., em 599 a.C – 527 a.C (data tradicional apontada pelo Jainismo) ou 540 a.C – 470 a.C. (segundo os acadêmicos).

Mahavira é o fundador do Jainismo, ele nasceu perto de Patna, hoje o estado do Bihar.

Ele pertencia à casta dos xátrias, formada pelos guerreiros, casou, viveu no luxo e na riqueza, até que por volta dos trinta anos, se despojou do que possuía e se converteu em um Asceta.

Mahavira foi um contemporâneo de Buda, tendo pregado na mesma região geográfica do Mestre do Budismo. Não existem indícios de que Mahavira e Buda tenham se encontrado.

Em seu processo espiritual, Mahavira, viveu como um Asceta até obter a iluminação, consagrando os restantes dos trinta ou quarenta anos da sua vida a pregar ensinamentos espirituais, que se tornaram a doutrina do Jainismo.

Esse Mestre faleceu em Pavapuri, no Bihar, e se tornou a partir daí, um dos principais locais de peregrinação do Jainismo.

Tirthankaras

Os Jainas acreditam que o Jainismo vem sendo transmitido por eras, sendo divulgado pelos Tirthankaras, palavra que significa “Atravessadores do Vale”, ou seja, quem ensina o caminho espiritual.

Os Tirthankaras são considerados Almas nascidas como seres humanos, que alcançaram Moksha, ou seja, libertação do ciclo dos renascimentos, através da renúncia aos prazeres da matéria e dedicação em transmitir os ensinamentos espirituais aos humanos.

Segundo o Jainismo, existiram 24 Tirthankaras, sendo que o último desses foi Mahavira, que os Jainas não consideram como o Fundador do Jainismo, mas como um Mestre que lhe deu a sua forma atual.

O 23.º Tirthankara e penúltimo foi Parshva, que que viveu cerca de três séculos antes do Mahavira.

Os Princípios do Jainismo

Os Princípios do Jainismo são:

  • Não fazer mal à qualquer ser vivo
  • Ser verdadeiro
  • Jamais furtar
  • Isentar-se das possessões materiais

Os Ensinamentos Jainistas

A vivência do Janaismo consiste na prática dos seguintes Ensinamentos:

Não-posse / Aparigraha: a posse e o domínio de algo ou alguém é vista como forma de violência. A origem da violência está no desejo de possuir, explorar, dominar, controlar e explorar. Os ascetas Jainas se desprendem de possuir seja o que ou quem for. A possessividade é o oposto do amor e equanimidade incondicional.

Não-absolutismo / Anekantavada: o conceito de não-absolutismo no Jainismo faz referência à verdade de forma mais abrangente e livre, sem dogmas e verdades absolutas. Essa ideia é representada pela parábola dos homens cegos e do elefante, na qual vários cegos tocam partes do elefante, como as orelhas, as pernas e outras partes e as descrevem. Cada um sente uma parte do elefante, partindo desse pressuposto, a parte não é o Todo e nem a verdade completa. O conceito de “Syadvada” diz que que a verdade está em toda a parte, mesmo que de forma parcial. Os pontos de vista parciais da verdade são chamados de “Naya”. Segundo o princípio chamado de “Nayavada”, através das diversas partes da verdade, pode se ter uma visão mais abrangente, isto é Naya.

Não-violência / Ahimsa: a não-violência é a base do Jainismo e o seu ponto central. A violência pode ser agressão intencional ou não-intencional.

Os Jainistas evitam a agressão em todas as suas formas, seja por ações, palavras ou pensamentos, à qualquer ser vivo ou ecossistemas. Os Jainas praticam e defendem o Veganismo. Eles têm cuidado para evitar danos até aos pequenos insetos, por isso colocam um pano sobre as suas bocas para não os aspirarem ou varrerem o chão à sua frente quando andam, para evitar pisoteá-los.

O tempo: para os Jainas, o tempo é infinito e cíclico, como uma grande roda dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente, que é Utsarpini; a outra um movimento descendente, que é Avasarpini. Cada uma destas partes da roda divide-se em seis eras ou Ara.

No período ascendente, os seres humanos progridem em seu nível do saber, estado interior e felicidade. Já o período descendente é marcado pela degeneração humana e do mundo, pelo distanciamento do espiritual e pelo excesso de complexidade e problemas da existência humana. Segundo os Jainas, vivemos em um período de movimento descendente, em uma era de infelicidade ou Dukham Kal, que começou há 2500 anos e que durará 21 mil anos.

O universo e os cinco mundos: pelo Jainismo, o Universo é dividido em cinco mundos e cada um deles é habitado por determinado tipo de seres. Para os Jainas, o Universo faz pare da Eternidade que tudo move, impulsiona, cria e transforma. No Jainismo não há nenhum Criador e Ente superior. No topo do Universo existe a morada suprema ou Siddhashila, local onde habitam as Almas liberadas ou Siddhas que alcançaram a iluminação e libertação. Abaixo a essa dimensão, encontram-se os trinta céus, habitados por seres celestiais, alguns dos quais prestes a ir para a morada suprema.

O mundo médio ou Madhyaloka é constituído por vários continentes separados por mares e em seu centro encontra-se o continente Jambudvipa, o único continente no qual as Almas podem alcançar a liberação.

Os seres humanos povoam este continente, bem como um segundo continente ao lado deste e parte de um terceiro continente. O mundo inferior ou Adholoka é formado por sete infernos, onde os seres convivem com demônios, em um ambiente de tormento. Abaixo do sétimo inferno está a base do universo ou Nigoda, habitada por uma diversidade de formas inferiores de vida.

Karma: assim como o Hinduísmo e o Budismo, o Jainismo alega a existência do karma, só que de uma forma diferente. No Janaísmo, o Karma não é só um processo de ação e reação, mas é uma substância que se agrega à Alma. As partículas de Karma estão no Universo e se agregam à uma Alma devido às ações dela.

Segue um exemplo para ficar mais claro: quando uma pessoa, rouba ou mata, esta agrega a substância do Karma à sua Alma. A quantidade e qualidade destas partículas do Karma determinam a existência que essa Alma terá, e a felicidade ou infelicidade que estará sujeita. Quando a Alma alcança a libertação, fica livre dessas partículas de Karma. O processo de libertação das partículas de Karma da Alma é o Nirjara, e é constituído de práticas como:

  • jejum
  • retiro em locais isolados
  • meditação
  • a vivência dos princípios Jainistas

Preceitos do Jainismo

Os Jainas que não são monges seguem alguns preceitos, tais como:

  • a prática absoluta e irrestrita de Ahimsa (não-violência), não comendo carne de nenhum tipo e não usando nenhum produto de origem animal
  • não consumir certos tipos de alimentos como tubérculos, cebola e alho, pois são considerados de origem inferior e por isso produzem o efeito de agitar a mente, dificultando a prática da meditação
  • não se alimentar à noite
  • não ingerir bebidas alcoólicas nem substâncias consideradas alteradoras da consciência, como a cafeína (café), teobromina (cacau), entre outras
  • praticar a caridade a todos os seres vivos
  • ler sobre a vida e os ensinamentos dos Tirthankaras
  • recitar o Navkar Mantra

Objetivos e Propósitos do Jainismo

Em suma, os aspectos marcantes do Jainismo se baseiam na conduta de uma vida pacífica com todos os seres, o desprendimento das posses materiais e o desapego com a matéria, tendo como o objetivo a liberação do Karma e a realização espiritual.

E aí? Você se identificou com os princípios dessa religião?

Fonte imagem: Ahiṃsā Paramo Dharma (o princípio da não-violência)




Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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Este artigo possui 2 comentários

  1. Humberto F. C.
    Publicado em 19/05/2021 às 9:49 pm [+]

    Sim, me identifiquei.
    Acredito que a medida humana está no seu desprendimento. Somos tão enraizados em nossas vontades e vaidades que não vemos o outro.
    Estamos cegos.
    Parece radical mas é uma verdade que não pode ser contestada. Nossa verdade adquirida é uma nuvem leve, essa verdade parece ser uma cumulus que se apresenta. Ótima matéria. Texto leve, não depreciativo e repleto de conteúdo. Parabéns.


  2. Daia Florios
    Publicado em 21/05/2021 às 7:54 am [+]

    Agradecemos <3 imensamente


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