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Há algumas décadas a ideia de embarcar na carreira de escritor era algo que beirava a idealização, aos olhos de quase todas as pessoas. “Ninguém consegue viver de literatura no Brasil” era uma frase tão disseminada, que parecia uma verdade imutável. No entanto, a restrição ao mercado editorial, a ausência de escolas especializadas, e o baixo índice de leitores brasileiros não impedem que uma geração de escritores siga publicando e construindo uma rede literária, que vai muito além do que o grande mercado oferece.
Quer um bom exemplo? Maria Nilda de Carvalho Mota, ou simplesmente Dinha. Ela acaba de publicar “Onde escondemos o ouro“, uma reunião de poemas de amor.
Dinha faz parte do coletivo de mulheres Edições Me Parió Revolução, que edita livros artesanais e semiartesanais e tem em seu currículo livros como “Onde estaes Felicidade”, de Carolina Maria de Jesus, “Canções de Amor e Dengo”, da cronista Cidinha da Silva, entre outros.
Todo o trabalho de publicação editorial é feito com bastante empenho e boa vontade, tendo em vista que grupos, como os de Dinha, costumam contar com verba limitada. Ainda assim, o coletivo disponibiliza em seu site, gratuitamente, ebooks de livros.
Todo o trabalho é feito por financiamento coletivo, e Dinha conta que está cada vez mais difícil fazer impressões, sem verba.
O que o Me Parió Revolução enfrenta é comum a muitos escritores e coletivos independentes. Desde a década de 70, quando surgiu a denominada literatura marginal, como forma de driblar a censura, difundindo obras de forma clandestina; esse nicho literário vem ganhando força, principalmente por meio da união entre os integrantes. “A melhor forma de fortalecimento pessoal é o trabalho coletivo. Então pertencer a coletivos permite que se some forças e que os integrantes se fortaleçam mutuamente”, explica a escritora.
Ela conta que sentiu necessidade de unir-se a coletivos como forma de fortalecimento, tendo em vista seu trabalho como poeta e crítica literária.
Dinha é cearense e veio para São Paulo ainda bebê. Atualmente é doutoranda na área de Estudos Comparados pela USP. É poeta, autora dos livros “De passagem, mas não a passeio” (2006/2008), “Onde escondemos o Ouro” (2013/2017) e “Zero a Zero – Quinze poemas contra o Genocídio da População Negra”.
Essa reedição da obra “Onde escondemos o Ouro” veio da necessidade de editar em maior escala para fazer o livro circular melhor. A primeira edição, de 2013, era composta por três livros – “O Guardião”, “O Ouro” e “Bichos” e contava com capa de tecido e impressão caseira.
Dinha representa, atualmente, uma cena literária que anda produzindo muito.
“Acredito que a literatura marginal periférica veio para ficar e revolucionar os espaços normativos da Literatura. Revolucionamos os sujeitos, objetos da literatura e estamos revolucionando também a forma de publicar – mercadologicamente eficaz, porém liberta da necessidade de grandes editoras, além de sermos mais democráticas”, avalia Dinha.
Por isso quem quiser conferir, colaborar ou até mesmo fazer parte, já sabe que a máxima de que ser escritor no Brasil é para poucos não faz mais sentido. Essa geração certamente está entre as que mais produz literatura. E Dinha é um excelente exemplo.
Parabéns!
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Categorias: Arte e Cultura, Viver
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