Índice
Muitas pessoas já ouviram falar do escritor russo Liev Tolstói, mais conhecido em português como Leon Tolstói. Entretanto, nem todas tiveram a alegria de percorrer os caminhos da sua escrita. Ainda mais em um tempo no qual dividimos a atenção entre tantos artefatos e nos “ocupamos” com tantas coisas, sentir o peso de Guerra e Paz, ao primeiro contato, pode assustar muita gente.
Bom, há a opção de começar a leitura de Tolstói pelos contos, pois ele foi, também, um grande contista, literária e quantitativamente. Tolstoi é um escritor que construiu uma obra, de vida e literária.
Ele nasceu em 1828, na fazenda Yasnaya Polyana, na cidade de Tula, próxima a Moscou. Embora seja notoriamente conhecido como um dos maiores escritores da literatura ocidental, um outro lado seu é desconhecido. Ou melhor, outros lados, porque o homem Tolstoi era muitos. Grande pensador, experimentou em vida várias formas de existir, erigindo condutas e valores.
A Gazeta Russa até brinca com o título de uma matéria, que diz “Tolstói era hipster e você não sabia (nem ele)”.
Tolstói vivia em sua fazenda, isolada no meio da natureza. Repleta de bosques, caminhos verdejantes, a casa em que viveu Tolstói é modesta, mas dentro dela estão os seus maiores tesouros: os resquícios do escritor, como a sua enorme biblioteca, a sala com um piano e quadros pintados da família, a escrivaninha, uma casa anexa com fotografias e objetos pessoais dele…
O enraizamento, que se dá pelo contato com o natural, é uma forma de conexão mais profunda, como a experimentada pela personagem Liev, de Anna Karenina. Será coincidência o nome da criatura e do mestre?
No livro, encontramos pérolas como: “Acaso sou feliz porque me contento com o que tenho e não me aflijo pelo que me falta”.
Parece extremamente moderno, no século XIX, alguém cogitar ser vegetariano, não é mesmo? Pois esse modelo alimentar foi conhecido por Tolstói a partir de um colega inglês vegetariano que o visitou na sua terra natal.
Como Tolstoi não parava de escrever, o vegetarianismo tornou tema do tratado “O primeiro degrau” (1891), conhecido, também, como a “Bíblia do vegetarianismo”. A tese da obra se desenvolve em torno da adoção pelo vegetarianismo ser uma conduta moral.
Ele deu uma entrevista, em 1908, na qual revelou ser vegetariano desde 1883, ano em que redigira o livro que influenciou uma geração vegetariana na Rússia.
Mas acabou que o escritor russo voltou a comer carne anos depois.
Tolstói era de origem nobre, mas adotou uma forma de vida simples, mas sem nunca descuidar da mente e do corpo. Ele ganhou uma bicicleta Rover, em 1895, da Sociedade de Ciclistas de Moscou. Ele também fazia outras atividades esportivas: caminhadas, ginástica, natação, equitação e corrida. Tolstói quebrou o estereótipo do “nerd fraco” e mostrou que é possível, sim, ser intelectual e cuidar da saúde e do corpo.
No seu sistema de pensamento, Tolstói previu uma forma de educação alternativa para crianças camponesas. O princípio da pedagogia Tolstói era não haver restrições. Algumas aulas eram dadas pelo próprio Tolstói, sem seguir um roteiro rígido e cronometrado, cujo objetivo era levar as crianças a pensarem com independência.
Em Anna Karenina, uma das personagens diz: “Para educar o povo se necessitam três coisas: escolas, escolas e escolas”.
Tolstói ajudava as pessoas, não lhes dando dinheiro, mas ensinando-as a fazerem algo ou oferecendo-se para contribuir de alguma forma. Poderia ser na colheita, consertar alguma coisa…
Além disso, Tolstói praticava o desapego. E com os seus livros! A sua biblioteca tinha cerca de 22.000 periódicos e volumes, em 1910. Talvez por isso mesmo, Tolstói deixava seus convidados livres para levarem o livro que quisessem. Na verdade, o escritor russo rejeitava a ideia de propriedade pessoal.
Tolstói morreu aos 82 anos. A história de sua morte não podia ser menos interessante do que a história de sua vida. Já idoso, Tolstoi fugiu de casa, abandonando a família e a sua Yasnaya Polyana. O frio que guardou a sua fuga fez com que ele contraísse pneumonia, vindo a falecer em decorrência da doença.
Deixou como legado uma vasta obra, com romances que marcaram várias gerações. Não se deixe assustar pelos grossos volumes dos livros de Tolstói. Em suas páginas, há grandes tesouros: personagens complexas, belas descrições sobre sensações, pensamentos, discussões filosóficas e a antecipação de muitas questões que estão, hoje, em debate.
Tolstói, além de ser um grande escritor, foi um importante pensador sobre o seu tempo e sobre o homem, por isso, sua obra é atemporal. Apaixonante!
MANOEL DE BARROS: O POETA QUE RESSIGNIFICA AS COISAS PEQUENAS
POESIA NAS PRISÕES: PALAVRAS PODEM MUDAR A VIDA DOS PRESOS
Foto: Wikipedia
Categorias: Arte e Cultura, Viver
ASSINE NOSSA NEWSLETTER