A imagem do som: documentário brasileiro participará de premiação em Portugal


As grandes cidades produzem uma pluralidade de sons impossível de ser distinguida pela maioria dos seus habitantes, distraídos com a correria do dia a dia.

Em São Paulo, dentre os cenários sonoros que fazem parte do cotidiano da cidade estão as estações de metrô, a Catedral da Sé, os músicos de rua, as conversas entre as pessoas, as sirenes das ambulâncias e dos carros de polícia, os bordões dos vendedores ambulantes, o canto dos pássaros perdido em um jardim qualquer e o até o canto gregoriano dos monges do Mosteiro de São Bento.

Todas essas vozes, inaudíveis para grande parte dos moradores de São Paulo, foram ouvidas e captadas por dois estudantes da faculdade de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Catarina Cavallari e Luís Felipe Paschoal Nogueira.

Os alunos do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA filmaram o filme Silêncios, um curta-metragem de 10 minutos e 44 segundos selecionado para se apresentar, em 14 de maio, no 16º Encontro de Cinema de Viana do Castelo, em Portugal, onde concorrerá ao prêmio PrimeirOlhar, uma mostra de documentários poéticos.

“A ideia de produzir o filme veio a partir de um trabalho curricular para a disciplina Documentário do curso de Audiovisual, e contou com a orientação do professor Henri Gervaiseau, docente responsável pela material. Foi proposta para os alunos a produção de documentários com a temática Lugares da Cidade. Surgiu, então, a ideia de elaborar um roteiro diferente e explorar o silêncio e os sons da cidade”, conta Nogueira.

A referência para fazer o curta veio dos filme Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio, e Paisagens Musicais no Centro de São Paulo, de Marilia Senlle, Raoni Costa e Theodoro Condeixa. A prioridade foi buscar nas imagens os sons que elas traziam da metrópole, silenciadas pela confusão de vozes. “Nós estamos tão acostumados com a poluição sonora no nosso dia a dia que pouco refletimos sobre ela. Assim, o filme é o passar de um dia em diferentes lugares da cidade, explorando as paisagens sonoras, suas mudanças no passar das horas e o contraste entre elas”, explica Catarina.

O filme foi gravado durante sete dias. “Esse documentário nos deu a oportunidade de conhecer lugares que normalmente não teríamos a oportunidade de visitar. O maior exemplo é a torre do sino do Mosteiro de São Bento”, lembra Luís.

Os dois comentam que ficaram “na expectativa dos planos que iríamos fazer, do que viria pela frente. Quando se grava um documentário, o acaso pode ter um peso decisivo.”

Os estudantes acreditam que este momento é muito promissor para a produção audiovisual no Brasil, devido ao barateamento dos custos em função da tecnologia digital.

“Além disso, os editais são uma opção para viabilizar não apenas a produção, mas também a distribuição das obras. E tem a televisão também, que, com a Lei do Cabo, representa um incremento importante para o audiovisual no Brasil. Nesse contexto, a ECA pode funcionar como grande centro de formação de profissionais e como pólo de novas ideias para a expansão da linguagem”, destaca Luís.

Silêncios foi gravado com os equipamentos da própria ECA e com a criatividade dos jovens cineastas, que perceberam a poesia nas vozes do cotidiano de São Paulo.

Talvez te interesse ler também:

POESIA NAS PRISÕES: PALAVRAS PODEM MUDAR A VIDA DOS PRESOS

TRABALHO ESCRAVO: UM DOCUMENTÁRIO MOSTRA O QUE ACONTECE NA MAIOR PRISÃO DOS EUA

Fonte foto: jornal.usp




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...