Caiçara, povo litorâneo, de mar e terra, serra e restinga é povo que sabe cultivar a terra tirando dela seu sustento sem agredir a natureza. O caiçara é aquele que, originário dos portugueses colonizadores, se estabeleceu no litoral brasileiro, entre Rio de Janeiro e Santa Catarina. A cultura caiçara é sustentável.
Trago hoje para a sua leitura um trecho do meu livro “Cultura Caiçara – resgate de um povo“, livro este que resultou de uma pesquisa de campo, em 2000, nos municípios do litoral sul do estado de São Paulo. É importante de se resgatar os traços culturais de comunidades tradicionais pois, não só como curiosidade cultural mas também como conhecimentos específicos que permitiram à essas famílias, distantes de qualquer ajuda, se estabelecerem e retirarem da terra seu sustento. E, principalmente, é importante que reaprendamos as técnicas usadas, hoje reconhecidas como agroecológicas, por sua capacidade de preservar os recursos naturais.
Sobre a forma de cultivo usada pelos caiçaras, a roça de toco ou coivara, muitos estudos existem. Se você se interessa, dê uma olhada aqui neste material e veja a importância que têm essa técnica para a preservação do solo e da paisagem florestal em todo o seu equilíbrio.
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“O caiçara se alimenta de produtos da terra cultivada (mandioca,arroz, feijão, milho etc), de produtos coletados na mata atlântica (frutas,raízes e folhas,mel e caça) e da pesca nos rios e no mar. Povo da beira dos rios e estuários do litoral paulista, o caiçara vive em consonância com o movimento das águas, cultivando a terra e coletando na mata. O respeito aos indicativos naturais – movimentos das marés, das cheias dos rios e das fases da lua – são o fundamento deste modo de vida não agressivo, perfeitamente sustentável. As técnicas de cultivo usadas pelo caiçara, o plantio direto no restolho da mata, a coivara e a roça de toco como sistema de cultivo, o plantio e uso da mandioca, o cerco para peixes nos rios mansos, todas estas formas de viver e estar com a natureza o nosso caiçara herdou dos indígenas, seus vizinhos, muitas vezes inclusive seus parentes. A coivara e a roça de tocos – forma indígena de cultivo da terra na qual o terreno é parcialmente limpo pela derrubada das árvores, as galhadas são queimadas e os tocos e restos são deixados sobre o solo– foram sistemas de cultivo indígena adotados pelo caiçara adequando às necessidades da vida mais sedentária (o indígena utilizava a coivara mantendo seu nomadismo característico, mudando de lugar com grande frequência, o que proporcionava longos períodos de repouso à terra, já o caiçara aplica alguma rotatividade de cultivos, sem grandes expansões do espaço ocupado, perde-se a característica nômade)”.
Nas fotos acima pode-se ver aspectos da roça de toco, coivara, e a roça já mais crescida na mata, condição que mantêm o equilíbrio do ecossistema.
“A generalidade dos grupos tribais da floresta tropical especializou-se na horticultura de raízes ou agricultura de coivara caracterizada pelo cultivo através de mudas e não por semeadura. Na escolha das terras destinadas ao cultivo davam preferência aos solos argilosos e áreas com declives, de modo a permitir a drenagem da água e evitar o apodrecimento das raízes. É interessante notar que, apesar do conhecimento europeu sobre formas de cultivo mais “modernas”, o caiçara prefere o o uso do chuço – pau de ponta aguçada – para penetrar a terra e incorporar a semente a ser plantada. O uso deste instrumento possibilita a manutenção da roça de tocos na qual um arado não tem como agir adequadamente.
A preservação desses conhecimentos é legado da maior valia para a humanidade que, cada vez com maior urgência, precisa reaprender a respeitar a natureza, seu próprio meio ambiente“.
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Categorias: Arte e Cultura, Viver
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