É preciso mesmo saber “Que Horas Ela Volta”: o filme de Anna Muylaerte


O novo longa-metragem de Anna Muylaerte está dando o que falar. Claro, o filme é de uma mulher que fala sobre a vida de uma outra mulher, uma empregada doméstica, mas não só isso. Fala da nossa sociedade ainda escrava ainda retrógrada com tantos “problemas” para resolver com aquela que faria parte da nossa família, só que não faz. Daquela que tem seu quartinho arquitetonicamente planejado para que os papeis sejam bem distintos dentro de uma casa. Mas não só isso. O filme ainda fala mais.

Fala sobre a emancipação do trabalho da empregada doméstica no Brasil, mas esse não é apenas “o ponto”. Tanto não é que o filme recebeu dois prêmios internacionais (melhor atriz em Sundance e melhor filme do público em Berlim). E o que os norte-americanos e europeus sabem sobre o sistema trabalhista do empregado doméstico brasileiro?

O filme de Anna Muylaerte fala sobre um assunto universal e muito atual. Como tratamos o ser humano ao qual delegamos as tarefas mais vitais de nossas vidas, como o crescimento dos nossos filhos, por exemplo?

A criança pergunta: “que horas ela volta?” se referindo à sua mãe, moderna, que trabalha, que é super atarefada, que não tem tempo e muitas vezes nem vontade de estar com seu filho.

E como as crianças sabem tudo, pois sentem tudo, acabam percebendo tudo, ou seja, tudo o que uma criança precisa em detrimento de brinquedos e coisas materiais: o amor a dedicação, o cuidado, a atenção, lhe vem dado de uma pessoa que é da família, mora ali, acorda ali, dorme ali, faz tudo ali só que não é bem assim. Esta pessoa é uma empregada doméstica, à qual recebe salário para fazer o papel de mãe, de empregada, faxineira, às vezes de amiga e muro de lamentações.

Nós somos especialmente o país das empregadas domésticas com seus quartinhos de acesso através da área de serviço dos nossos prédios de classe média, resquício da escravidão. Mas o filme de Anna Muylaerte fez e ainda fará muito sucesso em outros países, cujos cidadãos abastados cada vez mais se veem diante da, geralmente estrangeira, que cuida dos seus filhos.

É um convite para pensar em como tratamos estas pessoas tão importantes, pessoas que cuidam de nossos filhos e da gente.

Confira aqui a programação do filme.

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Fonte foto: facebook




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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