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Há, aproximadamente, 3.000 anos a.C., o I Ching teve sua origem e raízes na China, no reinado de Fu Hsi, fundador da Civilização Chinesa. É hoje um livro conhecido mundialmente, e muito usado como oráculo, mas o I Ching é muito mais que isso, é um livro sobre sabedoria. Acompanhe!
O primeiro lendário imperador Chinês, Fu Hsi, que governou entre os anos 2852-2737 a.C. foi oinventor dos oito trigramas (pa-kua) que representam o fundamento do sistema do I Ching.
Conhecido também como Livro das Mutações, o I Ching (I= Mudança e Ching=CLássico) é uma obra composta por vários ideogramas (símbolos gráficos).
Quatro sábios, respectivamente, Fu Hsi, Rei Wen, o Duque de Chou e Confúcio, são citados, na literatura chinesa, como autores do Livro das Mutações.
Com o Rei Wen, antecessor da dinastia Chou, o I Ching passou à ter a atual compilação dos sessenta e quatro (64) hexagramas, ele acrescentou julgamentos (explicações) breves à cada um deles, foi ele quem deu o nome de “Livro das Mudanças.”
O I Ching, antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.) era um conjunto de oito Kua, figuras formadas por três e seis linhas sobrepostas.
Por volta de 1150 a.C., o Rei Wen, senhor da província de Chou, que era muito respeitado por seu governo, foi invejado, perseguido e preso pelo Imperador Shang Chou Hsin. Na prisão, Wen elaborou os julgamentos que acompanham os hexagramas do I Ching. Após um período de lutas e revoltas, a província de Chou passou à ser governada pelo filho do Rei Wen, chamado Wu, que derrotou a dinastia Shang, dando início à dinastia Chou.
Wu, conhecido como o Duque de Chou, percebeu a importância cultural do I Ching, desenvolvido por seu pai na prisão e deu continuidade à obra, acrescentando os 384 comentários nas linhas mutáveis (ou móveis).
O oráculo do I Ching, durante a dinastia Shang (1766-1122 a.C.) e o primeiro período da dinastia Chou, era consultado através de varetas de caule de milefólio (planta conhecida, também, com o nome de mil em rama).
Para consultar o oráculo se jogava as varetas e se desse um número par ou impar, se definia se a linha era inteira ou cortada. Após, jogar seis vezes, o hexagrama estava formado definindo o resultado.
Muito tempo depois (Século VI a.C), o Livro das Mutações ou O Livro das Mudanças, foi acrescido de comentários e parte dos Apêndices, atribuídos a Confúcio (adaptação ocidental do nome K’ong Fu-Tse/551-478 a.c) e alguns de seus discípulos.
Confúcio escreveu dez comentários sobre este clássico, chamados “As Dez Asas”, transformando um texto de predições numa das melhores obras da filosofia.
Aos 50 anos de idade, Confúcio declarou:
“Se o céu me pudesse dar outros 50 anos de vida, os dedicaria ao estudo do I Ching e, quiçá, então aprenderia a manter-me afastado dos problemas”.
Pu Shang, um seguidor de Confúcio, passou à difundir os conhecimentos milenares conservados no livro, desenvolvendo todo um estudo filosófico, envolvendo as Dez Asas do I Ching (Coletânea de Tratados referentes ao I Ching).
Posteriormente, o livro do I Ching se tornou inspiração para os Taoístas, entre eles, Chuang Tzu e Lao Tsé, e para vários e diferentes filósofos e estudiosos.
O Livro das Mutações escapou da queima de livros ordenada pelo tirano Ch’in Shih Huang Ti, na época, era considerado um livro de magia, o que levou a escola de magos das dinastias Ch’in e Han, a acrescentar “A doutrina do yin-yang” ao conteúdo do I Ching.
Mais tarde, O sábio Wang Pi resgatou o I Ching como livro de sabedoria.
O I Ching sobreviveu às guerras, às várias dinastias e à queima das bibliotecas, atravessou os séculos até chegar ao Ocidente, no século XIX.
James Legge, trouxe os textos e comentários do I Ching para o ocidente, o traduzindo para o inglês, através de seu livro The Sacred Book of the East (O Livro Sagrado do Oriente), editado em 1882.
Ele utilizou, pela primeira vez, os termos trigrama (três linhas dispostas de forma vertical ) e hexagrama (símbolos do I Ching), posteriormente, adotados em todos os escritos sobre o tema.
Contudo, o grande responsável pela divulgação do I Ching no ocidente foi Richard Wilhelm, através de sua obra I Ching – O Livro das Mutações (publicado no Brasil pela Editora Pensamento).
No ano de 1923, depois de longas pesquisas, o sinólogo (estudioso da cultura chinesa) Richard Wilhelm traduziu o I Ching para o alemão durante os muitos anos que viveu na China, inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi cercada.
Richard Wilhem teve a colaboração de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao ser concluída a tradução.
Wilhelm traduziu também outro clássico chinês, o Tao Te Ching.
Outro colaborador da difusão do I Ching no Ocidente foi, o eminente psicólogo suíço, Carl Gustav Jung, um admirador dessa obra que dedicou parte de sua vida ao estudo e compreensão desse oráculo milenar.
Jung fundamentou suas argumentações sobre o inconsciente coletivo e a sincronicidade, nos estudos desse oráculo chinês.
Na década de 1940 o I Ching começou a assumir importância significativa como um livro de sabedoria, graças à Jung, que abraçou seus conceitos filosóficos.
A partir de então, os filósofos e intelectuais do Ocidente, foram descobrindo e percebendo a grande sabedoria contida nas mensagens do I Ching, que revela, de forma inovadora, como lidar com a vida e o ser humano.
A profundidade filosófica da obra passou à ser igualada aos textos de Platão e Sócrates e aos livros sagrados da humanidade, como a Bíblia, Alcorão e a Torá.
O I Ching pode ser usado tanto como um oráculo quanto como um livro de sabedoria.
Nos governos de Hitler, Stalin e Mao Tsé Tung, o I Ching passou à fazer parte da lista de livros proibidos.
Apesar de tudo isso, os ensinamentos do I Ching sobreviveram e foram levados adiante, sendo transmitidos oralmente pelos ciganos, que por serem nômades, escaparam do controle dos governantes.
Quando fluímos com as circunstâncias, evitamos o choque e a resistência: esse é o caminho do sábio.
Tanto o taoismo como o confucionismo, as duas linhas da filosofia chinesa, absorveram os ensinamentos do I Ching.
Os oito trigramas, do I Ching, expressam tudo que acontece sob no céu e acima da terra e que, continuamente, estão em mutação.
Cada hexagrama representa um processo da natureza.
O I Ching, como todo oráculo, necessita para sua consulta: silêncio, concentração, reflexão, respeito e a formulação precisa da pergunta.
Segundo a tradição chinesa, o oráculo não falha, quem falha é o consulente. Se a pergunta não for clara e precisa, a pessoa reflete que não tem clareza sobre o que busca saber.
Toda as etapas de consulta do I Ching têm a função psicológica de desenvolver o foco e a atenção do consulente.
Para o I Ching existe uma Ordem Universal ou Cósmica, o “Tao“, que se traduz como “Caminho,” representa um modo de viver em harmonia com essa Ordem Universal.
O I Ching fornece conselhos e orientações para a melhoria de nossa vida, promovendo uma visão do presente e dando indicações sobre como lidar com momento atual que estamos a vivendo.
Na maior parte das vezes, a obra serve somente como um guia, mostrando qual direção seguir ou indicando os desafios e conquistas de cada caminho.
A consulta, pela forma mais antiga e tradicional do oráculo, é feita com 50 varetas, em sua origem eram feita de milefólio (um tipo de árvore, que na China é considerada mágica).
A consulta desse oráculo, em sua forma original, com a utilização de varetas envolvia uma série de rituais, fazendo com que cada consulta durasse mais de uma hora, o que a tornava cansativa e exigia tempo e momentos exclusivos para sua realização.
Com o passar do tempo, o método de consulta do I Ching foi sendo simplificado e para se obter os trigramas, para formar os hexagramas, passou-se a utilizar moedas (veja como consultar com moedas logo mais abaixo).
Inicialmente, as linhas (trigramas) que compõem os hexagramas do I Ching eram traduzidas da seguinte forma:
uma linha inteira (––), representava um SIM, com o tempo passou à estar associado a ideia do YANG (ativo/positivo)
e uma linha quebrada (– –), um NÃO, mas com as tranformações que foram ocorrendo no I Ching, o significado se tornou relacionado a ideia do YIN (negativo/passivo).
No início, essas respostas serviam para perguntas simples.
Com o passar do tempo, foram desenvolvidos um conjunto de símbolos mais profundos e complexos.
Os trigramas possuem nomes que refletem aspectos da filosofia chinesa do yin e yang:
O Criativo,
O Abissal,
O Receptivo,
O Incitar,
A Suavidade,
O Aderir,
A Alegria,
A Quietude.
Ao se juntarem, eles compõem os 64 hexagramas que formam o corpo do I Ching.
Cada hexagrama traz o melhor caminho para as ações.
A interpretação dos hexagramas parte de que tudo está interligado: a terra, o homem e o céu precisam estar em harmonia para que possamos estar bem conosco e com os demais.
Esse método consiste em escolher três moedas que serão jogadas, ao mesmo tempo, cada lado terá um valor numérico, costuma-se atribuir o valor 3 (yang) para cara e 2 (yin) para coroa.
Após 6 jogadas, o hexagrama estará formado e a resposta pode ser procurada consultando o Livro das Mutações.
Quando acontece de uma linha do hexagrama conter em si somente yang (3+3+3 = 9) ou yin (2+2+2 = 6) é considerada móvel e, nesse caso, forma-se um hexagrama oposto, uma linha yin passa a ser yang e vice-versa.
Além do hexagrama inicial, surge um outro apontando para o rumo dos acontecimentos. E, mais uma vez lembrando, segundo a tradição milenar chinesa, quando a resposta se torna obscura é porque o consulente não formulou a pergunta corretamente.
Todas as barreiras para decifrar o I Ching estão em nossa mente
Para compreender melhor o I Ching, precisamos ter em conta que os simbolismos contidos nesse oráculo têm relação com a Natureza, pois, desde a Antiguidade os chineses, que viviam da agricultura e dependiam da terra , buscavam observar as estações, os períodos favoráveis para o plantio, estabelecendo, à partir daí, a importância da interação e comunicação entre o homem e natureza.
florescer/secar;
ascensão/decadência;
progresso /declínio;
nascimento/morte
e assim por diante.
O I Ching traduz as relações entre as forças e energias que compõem o homem e a criação.
Outro ponto exposto no I Ching é que os acontecimentos se originam no plano das ideias, manifestando-se no mundo material.
Essa visão foi transmitida por dois maiores pensadores chineses, Confúcio e Lao Tsé, e mais tarde, assimilada por Jung em suas pesquisas na Psicologia.
No I Ching o ser humano tem a capacidade de mudar o curso dos acontecimentos, o oposto da visão de boa parte das culturas e religiões, que estabelecem que o homem está sujeito aos desígnios do destino.
No Livro das Mutações o conhecimento das forças yin (negativo) e yang (positivo), torna o homem cocriador do seu destino, em consonância com as forças do Universo e da Vida, permitindo que assuma a responsabilidade de suas ações.
Faz, por volta, de três mil anos, que o Livro das Mutações teve sua origem e, ainda assim, apresenta uma abordagem atual da vida e das relações entre os seres.
Princípios esses que, na atualidade, constituem a Visão do Ser Humano como um TODO.
Muito antes dos autores, estudiosos e terapeutas contemporâneos afirmarem que o homem deveria ser visto de forma integral. Os sábios chineses, através do TAO e do I CHING, traçaram um caminho prático para isso e portanto O Livro das Mutações, muito além de um oráculo, é um livro sobre sabedoria.
Categorias: Arte e Cultura, Viver
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