Já vimos aqui em GreenMe que, na antiguidade, as diferenças entre homens e mulheres não existiam. Com o passar dos anos, especialmente no Ocidente, tais distinções solidificaram-se e formaram a visão que temos hoje, do masculino e do feminino. Olhamos para um homem e, automaticamente, esperamos que certos estereótipos e comportamentos se mostrem verdade; o mesmo com as mulheres – seja quando pensamos na cor do quarto do recém-nascido ou do brinquedo que a criança irá preferir, seja quando refletimos sobre a orientação sexual de jovens e adultos.
Foi com o objetivo de debater tais questões que se produziu o documentário Kumu Hina, que acompanha a trajetória de Hinaleimoana Wong-Kalu (“Hina”), uma professora (“Kumu”) do Havaí que se enxerga como “mahu”: um indivíduo “mahu” é alguém cuja identidade de gênero está entre o feminino e o masculino. Hina se apresenta, na vestimenta e aparência, como mulher, mas afirma abraçar os gêneros masculino e feminino igualmente em sua identidade. O documentário adota como ponto de vista o de Hina para explorar o papel das pessoas “mahu” na sociedade havaiana.
Nas tradições havaianas, há várias expressões artísticas que colocam a questão do gênero e da sexualidade como partes essenciais da experiência humana. Muitas canções tradicionais carregam significados profundos que abordam o amor e os relacionamentos de modos que não condizem com nossa interpretação atual dos papéis dos gêneros. Isso começou a mudar com a chegada dos missionários cristãos no Havaí, por volta de 1800, que baniram elementos da cultura havaiana que consideravam profanos. Desde então, o próprio conceito de “mahu” – e, claro, os indivíduos que se identificam como tal – vem lutando por espaço e aceitação.
O interessante é notar que o documentário, mesmo tendo como foco acompanhar o caminho percorrido por Hina para tornar-se quem ela é, em nenhum momento limita o retrato da professora à sua identidade de gênero. Pelo contrário, busca apresentá-la, simplesmente, como alguém que persegue uma vida autêntica e conectada às raízes culturais de seus ancestrais e de seu país.
Uma página interessante da história de Hina é como ela aproveita seu papel de educadora para transmitir sua ligação às tradições culturais do Havaí e sua vivência como “mahu” a seus alunos. Um, em particular, Ho’onani, chamou sua atenção ao também se identificar como “mahu”. A experiência se mostrou uma ótima oportunidade para Hina cultivar o respeito às diferenças e a construção de um ambiente acolhedor e confortável para Ho’onani, fazendo com que se estabelecesse, para os demais alunos, um novo “normal” que compreende a complexidade, não só dos “mahu”, mas da questão dos gêneros no seu todo.
O documentário, na íntegra, pode ser comprado ou alugado no site, assim como uma versão reduzida criada especificamente para servir como recurso didático para educadores e professores que queiram descobrir maneiras saudáveis de abordar o tema nas salas de aula.
Em tempos de intolerância e conservadorismo crescentes, é um privilégio conhecer essas histórias e poder colocar em cheque alguns de nossos principais paradigmas, não só quanto à ideia que temos do masculino e do feminino, mas também em relação à necessidade de abraçarmos nossa identidade – e aceitarmos a identidade dos outros!
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Fonte foto: kumuhina.tumblr.com
Categorias: Arte e Cultura, Viver
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