Esquecidos e descartados viram obras de arte nas mãos de Hudesa Kaganow


Duas séries artísticas, uma mensagem poderosa: Hudesa Kaganow, uma talentosa artista plástica, arquiteta, designer e ilustradora, tem cativado o mundo da arte com suas criações únicas que transcendem materiais reciclados. As séries “A Metamorfose do Esquecimento” e “Ídolos Imperfeitos” destacam-se não apenas pela sua estética cativante, mas também pelo profundo significado ambiental que carregam.

Herança brasileira

O interesse da artista pelo reciclo de materiais é antigo. Herança brasileira?

“Sempre me dediquei à recuperação de materiais para a criação dos meus trabalhos. Essa recuperação está intimamente ligada à minha pesquisa sobre a memória, sobre as recordações pessoais e coletivas, temas presentes em quase todas as minhas obras. Creio que em países ou situações onde existe um menor poder aquisitivo, as pessoas tornam-se mais criativas reutilizando o que têm para produzir ou consertar coisas. Se substitui menos”, diz Hudesa.

Essa foi a inspiração que lhe deu origem as séries, ambas realizadas quase integralmente com reciclo de materiais, sobretudo papel e papelão.

Ídolos Imperfeitos

“Ídolos Imperfeitos” traz à luz as complexas relações entre consumo, desperdício e nossa busca incessante por satisfação material. Ao transformar embalagens de produtos de uso cotidiano em peças de arte provocantes, Kaganow nos lembra das consequências do consumo desenfreado e da nossa dependência por objetos transitórios.

Enquanto a série Metamorfose do Esquecimento é ainda in progresso, os Ídolos Imperfeitos, trabalho iniciado durante o confinamento de 2020, foi exposto em julho e agosto de 2023 em um ex-templo protestante em Saint-Sébastien d’Aigrefeuille, na região da Occitania, na França, suscitando grande interesse publico pela sua originalidade técnica e ética intrínseca.

Os Ídolos Imperfeitos materializam os efeitos de um sistema econômico atual global de produção cujas consequências fazem de nós as principais vítimas. A exploração desproporcional do ambiente e do trabalho humano, a substituição permanente de objetos considerados obsoletos por novos, a produção de lixo, etc., são alguns dos resultados do consumo frenético dos nossos dias.

No passado, a natureza, com suas forças inexplicáveis, era reverenciada e idolatrada. Hoje, o motor que muitas vezes empurra o ser humano para a inexorável antropização do nosso planeta é alimentado pela propaganda enganosa de desenvolvimento e bem-estar.

Essa série de ídolos contemporâneos representa simbólica e ironicamente esse processo. Estas obras, nascidas exclusivamente do agrupamento de embalagens de produtos de uso quotidiano, são testemunhas de um consumo irreprimível e sobretudo de um packaging exagerado que acompanha cada coisa que compramos.

Essas pequenas construções arquitetônicas irregulares, retorcidas, inclinadas ou danificadas na superfície, robustas na aparência, mas frágeis na composição, escondem dentro delas a realidade do nosso precário presente, onde nós, seres também imperfeitos, continuamos a adorar coisas efêmeras que muitas vezes substituem os verdadeiros valores humanos.

A Metamorfose do Esquecimento

A série “A Metamorfose do Esquecimento” emerge como uma representação visual de conceitos ligados à memória humana, recente ou mesmo  de “vidas passadas”. Para produzir essas obras, a artista utilizou sobras de materiais usados em suas obras anterioresMateriais esquecidos ou  descartados como retalhos de papel, tecido barbantes, etc., deram e dão vida  à obras bidimensionais que representam conceitos filosóficos  como a metempsicose, as possíveis reminiscências de vidas passadas e a evolução anímica.

Quem é Hudesa Kaganow

A trajetória de Hudesa Kaganow é tão rica e diversificada quanto suas próprias obras. De origem brasileira, russa e francesa, a artista traz consigo uma perspectiva única moldada por diferentes culturas e experiências de vida. Sua formação em arquitetura e urbanismo desempenha um papel essencial na disciplina e na estrutura de suas criações, enquanto sua abordagem autodidata permite que ela explore novas técnicas e materiais de maneira muito original.

Ao mergulhar nas obras de Hudesa Kaganow somos convidados a contemplar não apenas a beleza visual, mas também as profundas mensagens que emanam de suas criações. Através da reciclagem de materiais e do poder da expressão artística, ela nos convida a refletir sobre a nossa interação com o meio ambiente, sobre o comportamento da nossa sociedade de consumo e nos interroga sobre quais são os nossos verdadeiros valores.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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Este artigo possui 3 comentários

  1. Jean-Pierre
    Publicado em 23/08/2023 às 4:11 pm [+]

    Boa matéria. Porém, sugiro o uso de um corretor ortográfico:
    “próprias”; “filosóficos”; “reminiscências”, além do espaçamento de algumas palavras.
    Uma bela alegoria artística sobre sobre a transmigração da alma.
    Lembranças e desejo de sucesso para a artista.


  2. Daia Florios
    Publicado em 31/08/2023 às 1:34 pm [+]

    Obrigada pela sugestão Jean-Pierre. Fizemos as melhorias sugeridas <3


  3. Jean-Pierre
    Publicado em 01/09/2023 às 4:15 pm [+]

    Maravilha! Agradeço a atenção.


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