Por que os cães abanam o rabo? Uma pesquisa tenta revelar


Para que servem as caudas nos animais? Comuns a todos os vertebrados, as caudas evoluíram originalmente para a locomoção, equilíbrio e para afastar parasitas. Mas na evolução dos canídeos, as caudas passaram a não ser mais utilizadas para locomoção, e sim para a comunicação. Uma equipe de cientistas italianos liderou uma pesquisa internacional que propõe duas intrigantes hipóteses sobre a origem do comportamento de abanar o rabo em cães, que é considerado uma linguagem ritual complexa associada a diversas emoções.

©Helena Lopes/Pexels

Embora comumente associemos o movimento da cauda dos cães à alegria, especialistas reconhecem que é um comportamento complexo capaz de expressar uma ampla gama de emoções.

A cauda dos cães é uma extensão da coluna vertebral, mas pouco se sabe sobre como seus movimentos são controlados a nível neurofisiológico. A pesquisa realizada pela Universidade de Turim destaca, por exemplo, que o posicionamento, direção e movimento da cauda podem ter significados diversos de acordo com a direção do movimento, pois este é um comportamento assimétrico que sugere lateralização cerebral.

Ou seja, abanar o rabo para o lado direito é um reflexo dado pelo hemisfério cerebral esquerdo, sugerindo um valor emocional positivo, como ver seu dono, por exemplo. Pelo contrário, abanar o rabo para a esquerda, sugere ativação do hemisfério direito por estímulos que provocam retraimento (por exemplo, quando um cão desconhecido e dominante é mostrado ou em situações agressivas).

O que abanar o rabo significa

Nenhum estudo acompanhou o desenvolvimento do comportamento de movimentar o rabo ao longo da vida de um mesmo indivíduo, mas a análise comportamental de filhotes de cães e lobos indicou diferenças significativas entre as duas espécies, com filhotes de lobo abanando o rabo muito menos que os de cães.

Tanto o movimento quanto a posição da cauda transmitem informações nas interações entre cães e também nas interações cão-humano e cão-objeto.

Entre os canídeos, abanar a cauda com porte baixo é frequentemente usado como sinal visual de aquiescência, submissão ou intenção não agressiva. O abanar da cauda também é usado como um sinal de aquiescência nas interações cão-humano. Um estudo descobriu que durante situações de recusa de comida, os cães abanavam mais o rabo quando um humano estava presente do que quando não estava, sugerindo que abanar o rabo também pode funcionar como sinal de solicitação.

Mas como os canídeos desenvolveram esse modo de linguagem corporal?

O estudo liderado pela Dra. Silvia Leonetti, do Departamento de Ciências da Vida e Biologia de Sistemas da Universidade de Turim, propõe duas hipóteses sobre a origem desse comportamento. A primeira é a “síndrome da domesticação”, sugerindo que a seleção genética para a docilidade pode ter impactado a anatomia da cauda durante o desenvolvimento.

A domesticação é um processo de longa data que resulta em mudanças fisiológicas, morfológicas e comportamentais nas espécies domesticadas, é fundamental para entender o comportamento de movimentar o rabo em cães.

“As seleções iniciais para docilidade podem ter levado a alterações nas células da crista neural durante o desenvolvimento, impactando várias características fenotípicas, incluindo a anatomia da cauda”, explicam os pesquisadores.

A segunda hipótese, chamada de “abanar a cauda rítmica e mansa”, considera a atração humana por sequências rítmicas e sugere que os humanos podem ter favorecido cães que abanavam as caudas de maneira ritmada, contribuindo para a evolução desse traço.

Ambas as hipóteses indicam que a seleção para o comportamento de movimentar o rabo pode variar entre as raças de cães, demonstrando que essa característica é multidimensional e pode diferir com base em vários parâmetros. Apesar de ser um comportamento evidente, o movimento do rabo dos cães continua sendo cientificamente complexo e evasivo, e uma investigação mais profunda é necessária para compreender totalmente sua história evolutiva e seu papel nas interações humanas e caninas.

Os detalhes completos do estudo foram publicados na revista científica Biology Letters sob o título Why do dogs wag their tails?.

Talvez te interesse ler também:

Mito ou verdade: cães pequenos vivem mais que cães grandes?

Pegar o gato pelo cangote é um erro. Veja o porquê

Fitoterapia Veterinária: Alternativa Natural para a Saúde de Cães e Gatos




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...