Tudo começou com a ideia de uma arquiteta, Carina Guedes, de que, ensinando as mulheres a construir suas próprias casas, a fazer suas reformas, estaria criando um novo nicho para seu trabalho. Paralelamente, veio o empoderamento das mulheres, uma conclusão natural.
A experiência, um projeto que chama-se “Arquitetura na Periferia“, começou em Belo Horizonte, na Comunidade Dandara, um terreno de periferia, famílias muito pobres, mulheres sozinhas e a vontade de melhorar a situação das casas. Uma gente acostumada a trabalhar em mutirão, a pegar no pesado, sem medo de escangalhar as costas.
O papel de Carina é o de prestar assistência técnica às mulheres de baixíssima renda na cidade. Juntou um grupo – só de mulheres, para não colidir com o “sei fazer” que é natural nos homens, mais experientes nisso de empilhar tijolos e assentar pisos.
O primeiro curso aconteceu entre setembro de 2013 e junho de 2014 – neste estavam 3 famílias: se formaram as primeiras “mestras de obras”, desenhos foram feitos, casas foram reformadas.
O projeto levou, para cada uma das participantes, um “kit levantamento” básico: pasta, trena, prancheta, lápis, caneta, borracha, apontador, papel branco, manteiga e vegetal, bloco de notas, etiquetas, um roteiro de trabalho e uma máquina fotográfica. Com este material elas aprenderam, treinaram e, também desenharam suas obras.
Os valores necessários – sempre há essa questão, não é? – vieram de um empréstimo que Carina fez (e que as alunas pagam religiosamente) e de mais um tanto que as famílias economizaram. Só para material pois, a mão de obra foi toda delas mesmas.
O curso também teve dois dias de trabalho prático com a pedreira Cenir quem lhes mostrou algumas técnicas de construção – aprenderam a proporção de cimento e areia para o reboco, a peneirar areia, a forma certa de usar o prumo, o movimento certo para jogar o reboco na parede, enfim, os macetes da profissão nova.
Uma segunda fase do projeto “Arquitetura na Periferia” já conta com o apoio da associação Arquitetos Sem Fronteiras e da ONG Brazil Foundation. Agora o trabalho se amplia e se direciona para a transformação social pela arquitetura, novos horizontes.
“Eu desenhei minha casa, estou me admirando por isso. Quando levei o desenho na loja de cerâmica, o rapaz até me perguntou se tinha feito curso”, diz Flávia dos Santos, 36 anos, da turma atual do projeto.
“Não posso dizer que é impossível ter despejo, mas hoje a Dandara está muito mais consolidada do que outras ocupações. No começo as pessoas tinham esse medo, mas estamos mais confiantes”, afirma Ana Paula.
Este é um belo exemplo de que, se queremos, podemos. Não só as mulheres da periferia, que se empoderaram. Não só a arquiteta que, sozinha de início, meteu mãos à obra e pés no barro. Mas, as pessoas, em seus lugares, mudaram suas condições, ampliaram seus horizontes. Isso é que é bonito, não?
Veja o vídeo do projeto:
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Fonte e foto: BBC-Bruno Figueiredo
Categorias: Bioarquitetura, Morar
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