Os governos brasileiros têm como tradição incentivar a indústria automobilística. Esse dinheiro empregado chega ao ponto de ser quase o dobro do que é destinado às obras de mobilidade urbana e transporte coletivo – subsídios à gasolina e redução de IPI para automóveis somaram R$ 19.38 bilhões, enquanto os investimentos de transporte são da ordem de R$ 10.2 bilhões.
Isso gera um quadro de asfixia do sistema de transportes, com cada vez um maior contingente de pessoas se amontoando em metrôs, trens e ônibus superlotados e de péssima qualidade.
A frota de carros e motos cresceu, nos últimos 16 anos, 175% e a população 28.5%. o ritmo de aumento de carros é assustador: ano após ano são colocados nas vias públicas, em média, mais 3.7 automóveis. E a indústria automobilística no Brasil só faz crescer, com 3 vezes mais produção, nas últimas duas décadas.
A mobilidade urbana ganhou importância graças às manifestações de junho de 2013 e da Copa do Mundo, onde os governos tiveram de investir de forma acelerada nessa área.
As empresas, como visam lucro, jamais estão satisfeitas, e começaram a fazer um lobby intenso pró- continuidade da redução do IPI para 2015 – a previsão para o final do desconto é no último dia de 2014 – conforme foi visto na abertura do Salão do Automóvel em SP.
Curiosamente, a proporção de carros por habitante no país é modesta: 2 a cada 10 pessoas; na Alemanha, 6 a cada 10 têm carro. A grande questão, na verdade, se desdobra em duas: falta de engenharia de tráfego – com a estrutura viária das grandes cidades pouco se modificando no passar do tempo – e a ausência de ações efetivas a respeito do transporte coletivo e/ou alternativo – como bikes e afins.
Na época das manifestações, o governo de Dilma Rousseff anunciou um Pacto da Mobilidade Urbana; contudo, de todo o montante a ser investido, pouco se sabe, precisamente, sobre o que foi efetivamente aplicado em ações de mobilidade urbana.
Para completar, mesmo com todos os divulgados e conhecidos benefícios das bicicletas o governo não isenta esse produto de IPI, para encorajar sua aquisição. Além disso, as ciclovias ainda estão distantes de cobrir de maneira generosa os ambientes urbanos brasileiros.
Junta-se a isso a baixíssima eficiência energética dos carros produzidos no Brasil, com direito até a campanha do próprio Greenpeace, que luta para que a indústria automobilística aplique no Brasil a mesma tecnologia que faz uso nos países desenvolvidos, que faz com que menos combustível fóssil seja consumido e menos emissões sejam geradas para a atmosfera, suavizando o aquecimento global.
E se em vez de tanta publicidade de carros tivéssemos uma campanha maciça sobre o uso da bici e dos meios de transporte coletivos, a coisa não mudaria de figura? Falta mesmo muita vontade política. Enquanto isso, haja engarrafamento, estresse, poluição e doenças respiratórias.
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Fonte foto: freeimages.com
Categorias: Carro, Locomover-se
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