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Você já ouviu falar em charlatanismo, mas provavelmente não sabe do que se trata, afinal, no Instagram é uma das coisas que mais tem. Pessoas que prometem cura disso, cura daquilo, receitas de bolo para melhorar de vida…
É claro que muitos conteúdos de cura são grátis, mas como vimos no documentário The Social Dilemma, “quando o serviço é grátis, o produto é você”. Vamos entender o que é charlatanismo para você não cair no conto do vigário. Com uma escuta atenta, muitos filtros e um pensamento crítico, você pode desfrutar de qualquer conteúdo das redes sociais sem se enganar. Mas vamos por partes: O que significa charlatanismo?
Charlatanismo vem do italiano ciarla, ciarlare, que significa falar e nos remete aos habitantes de Cerreto di Spoleto, Itália, conhecidos por venderem falsas curas nas feiras medievais. Esses vendedores ambulantes, muitas vezes o único contato com o mundo exterior, inventavam histórias e se passavam por outras pessoas. O termo evoluiu para designar qualquer indivíduo que finge ter habilidades ou conhecimentos que não possui, enganando os outros para obter vantagens, através da fala.
Falar, contar, prometer, explicar, enfim, aquele blablablá sem fim sobre “como se tornar uma pessoa de sucesso”, “como perder 5 quilos em uma semana” ou “como se livrar de uma relação tóxica” podem ser temas interessantes que todo mundo quer saber, afinal, não custa nada abrir o Instagram e ouvir os conselhos de pessoas mundialmente desconhecidas (algumas bem conhecidas). O problema não é esse. O problema é perder tempo ouvindo coisas que no final irão fazer com que você se sinta um idiota porque não perdeu 5 quilos, não se livrou da relação tóxica e não se tornou alguém de sucesso. Aí vem a depressão porque se a receita foi passada e você não pegou a visão, o problema é teu. Você é burro, você não performa, você não sabe inovar como os outros, que até conseguem fazer contato com o além.
Vejamos alguns exemplos típicos de charlatanismo:
1. Leitura de Tarot: A leitura de tarot pode ser divertida e simbólica, mas não deve ser levada a sério. As cartas de tarot representam situações da vida cotidiana e sobretudo, humana. Você pode abrir um baralho e ler tarot para qualquer pessoa com grandes chances de acertar porque as cartas falam da vida de qualquer um, e na vida de qualquer um tem o mesmo: dor, perda, alegria, etc, etc. Veja bem, se a taróloga diz que seu amor te trai. Bingo! A maioria trai mesmo! Aí você gasta com um detetive e descobre que é traído ou traída. Final da história, você está triste e mais pobre, pois detetive deve custar caro. Até aí, tudo bem se você tiver dinheiro para jogar pela janela, mas se se o tarólogo for um charlatão, ele irá vender serviços absurdos como poções ou feitiços, explorando a tua vulnerabilidade.
2. Um outro exemplo: Cura espiritual e espiritualidade em geral. Olha, esse campo é mais vasto que o universo. Muita gente falando mais do mesmo usando linguagens diversas. É extraterrestre, seres de luzes de outras galáxias, física quântica para atrair energias, meditação do agradecimento, thetahealing, enfim… Tem muita coisa! Nós também gostamos e falamos sobre essas técnicas inclusive, mas sempre em caráter informativo, pois promessa de cura é outra coisa. Na verdade um médico, formado, experiente pode cometer crime de charlatanismo porque o problema não é o meio, mas o fim: enganar, prometer o que não se pode assegurar.
Você pode fazer mapa astral, numerologia, pode fazer o que quiser, mas desconfie sempre das promessas por trás.
Ouça o que o outro tem a te vender, mesmo que o “vender” seja grátis, seja apenas o seu like. Ouça tudo, seja curioso, pergunte, investigue, use filtros e perceba as incoerências no discurso. Por exemplo, eu estava assistindo no YouTube uma mulher que se dizia paranormal. Ela tinha uma história de vida interessante e tudo mais. Em um certo ponto, essa mulher diz não temer a morte porque “sabemos” que a morte não existe. A entrevista continua e, em outro momento, ela conta um episódio em que estava esperando se conectar com seus parentes intergalácticos e sentiu medo de morrer porque estava chovendo raios. Veja bem, primeiro ela diz que a morte não existe e depois estava com medo de morrer. Alguém vai pagar para se curar com uma pessoa assim? Talvez ela não seja charlatã nem queira enganar ninguém, mas o fato é que ela já enganou a si mesma.
Essas nuances mostram que a história é uma e o discurso é outro. Ouvir essas coisas por curiosidade pode ser legal, pode até ajudar, mas acreditar que certos discursos vão te curar é problemático. No máximo, eles podem te ajudar na cura, mas o mérito é teu. Se não curar, cuidado para não deprimir, porque, se a cura é tua, a doença também o é e, na verdade, as coisas acontecem sem que possamos controlá-las, embora algumas religiões e espiritualidades digam o contrário, ou seja, que é você quem atrai as coisas para si.
Acredite no que quiser, pois esse é um direito seu, mas não se deixe convencer nem convença os outros de coisas que não têm garantia. Afinal, charlatanismo é crime.
Charlatanismo é crime no Brasil. Segundo o art. 283 do Código Penal: “Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível” é crime de charlatanismo, cuja pena é de detenção de três meses a um ano, e multa.
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