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O bem e o mal não apenas coexistem: mais que isso, um depende do outro, assim como todos os outros antagonismos da vida. Não se trata de uma noção esotérica de equilíbrio Yin e Yang, pois talvez seja assim também na física e na matemática. Como algo pode existir se não houver um seu oposto que o valide? Para a psicanálise a ambivalência é regra, é o E em vez do OU, é incluir e não excluir é o abrir e não se fechar para as possibilidades. Mas vamos a alguns exemplos para clarear o conceito.
Olha que interessante o título de uma reportagem recém-publicada na BBC: “O menino que teve ‘infância perfeita’ sem saber que o pai era um dos criminosos mais procurados do planeta“. A reportagem conta a história de Nick Reynolds, filho de Bruce Reynolds, um dos criminosos mais procurados pela Interpol, o mentor de um dos roubos famosos e ousados história — o assalto ao trem pagador.
Nick teve uma infância perfeita, cheia de amor e bem-estar material. Seu pai era para ele um herói, tanto que o dia em que seu mundo caiu e a casa de Nick foi invadida por policiais, o menino acreditou que o pai estivesse sendo protegido, não capturado. Bruce Reynolds ao mesmo tempo que era um marido excelente e um pai exemplar, era um cruel mafioso, capaz de planejar e levar a cabo crimes dos mais violentos possíveis.
Quem conhece um pouco da teoria psicanalista não teria se surpreendido com essa história. Todos nós carregamos o bem e o mal, o ego e o super ego, o desejo e a regrinha, a moral, a ética e os bons costumes. Isso é o ser humano.
Um outro exemplo “recente” podemos verificar no filme “A Zona de Interesse”, cujo roteiro é baseado em uma história real, a do comandante do Campo de Concentração de Auschwitz, Rudolf Höss. Rudolf também era um pai e um marido exemplar, ao mesmo tempo que planejava como matar milhares de judeus por dia, em uma fábrica de massacre em série.
Mas aí depois dessas histórias, alguém ficou com medo do vizinho, do parente e até de si mesmo. Pois sim, somos todos ambivalentes embora não precisemos ir de um extremo ao outro, encarnado a Santa Madre Teresa de Calcultá e um serial killer no mesmo corpo. Contudo, aceitar nosso lado sombra é importante para entendermos as guerras e buscarmos soluções factíveis em vez de tampar o sol com a peneira, colocando a culpa, o mal, o erro no outro, sempre no outro.
O ser humano é ambivalente por natureza, por constituição. Freud explica isso em várias de suas obras, mas na carta que ele envia a Einstein em resposta à pergunta “é possível livrar a humanidade da ameaça da guerra?“, a questão pode ser resumida de forma bem didática.
Para o pai da psicanálise, os instintos humanos são de dois tipos: o de conservação e o de destruição, estes coexistem e mais que isso, são indispensáveis um ao outro. Por que? Porque é da atuação conjunta ou contrária de ambos que surgem os fenômenos da vida. A vida se dá através da luta entre estas forças.
O que Freud quer dizer é que não adianta fingir que somos bons por natureza, mas a propriedade, o capitalismo nos corrompeu (teoria rousseauniana). Somos bons e maus ao mesmo tempo. Os impulsos destrutivos e cruéis dos homens estão mais próximos da nossa natureza do que nossa resistência a eles. Para Freud, não existe a possibilidade de abolir as tendências agressivas do ser humano. O que podemos fazer, além de aceitá-las, é domá-las. Como? A psicanálise é uma possibilidade lembrando, para finalizar, que o homem quando não direciona sua pulsão destrutiva para fora, a direciona para dentro.
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