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Desde pequenos, na escola, celebramos em 19 de abril o Dia do Índio. Mas será que aquilo que aprendemos na escola reflete mesmo o conhecimento que deveríamos receber diretamente dos indígenas brasileiros?
O primeiro passo nessa direção é descolonizar o conhecimento que “aprendemos” sobre os indígenas no Brasil, o que equivale a ressignificar o signo “índio”. O índio é uma criação do branco colonizador para criar um Outro, que funciona como seu antagonista.
O indígena é o sujeito, mas que foi colonizado como objeto, ou seja, aquele que foi representado como índio e nunca teve voz para falar em seu próprio nome.
A teórica feminista Gayatri C. Spivak, ao colocar a questão “Pode a subalterna falar?”, nos chama a atenção não somente para a voz que não é ouvida mas, sobretudo, para a ausência de espaços onde ela possa ser articulada. A noção de falar diz respeito àquilo que não se pode falar em seu próprio nome, algo que se estabeleceu dentro dos regimes opressivos do colonialismo, do racismo e do patriarcado na América.
O projeto colonial se estruturou no binarismo primordial humano/não-humano para justificar outros, como: civilizado/primitivo, cultura/natureza, sujeito/objeto, razão/emoção.
Todos os binarismos representam um polo positivo, representado pelo homem branco europeu, e um polo negativo, representado por negros, indígenas, mulheres, que não apenas foram dominados, subjugados e vitimados por um violência brutal, como foram dessubjetivados, para serem silenciados desde a sua humanidade.
Essa data não foi escolhida ao acaso para ser o Dia do Índio no Brasil. Ela remete a protestos dos povos indígenas de todo o continente americano, na década de 1940, que levaram à organização de um congresso no México no qual foram debatidas medidas de proteção aos indígenas.
Segundo a BBC, foi entre os dias 14 e 24 de abril que o Congresso Indigenista Interamericano foi realizado em Pátzcuaro, Michoácan, sob a negativa de participação de representantes indígenas que acreditavam que não teriam voz nas reuniões.
Nos primeiros dias do congresso, o evento sofreu um boicote dos indígenas. Foi apenas no dia 19 de abril que eles decidiram tomar as rédeas das discussões, razão pela qual a data foi escolhida para representar os indígenas sendo sujeitos de sua própria história.
No Brasil, foi apenas em 1943 que o governo do então presidente Getúlio Vargas decretou a data comemorativa. O responsável por essa articulação política foi o General Marechal Rondon, que esteve à frente, em 1910, da criação do Serviço de Proteção ao Índio, que depois se tornaria a atual Funai (Fundação Nacional do Índio).
O dia 19 de abril é uma data para celebrar a diversidade dos povos indígenas, mas, principalmente, para que escutemos as suas narrativas e passemos a respeitá-las. Respeitar os indígenas significa, entre outras coisas, entender os seus modos de vida e coexistir com eles.
Respeitar os povos indígenas começa por escutar o que eles têm a dizer. Atualmente, a internet facilitou muito a vida de nós todos que vivemos na sombra da ignorância sobre quem são os indígenas brasileiros. Podemos acompanhar as suas lutas e histórias através de seus líderes, que são aguerridos representantes da luta indígena, que passa, inclusive, pela defesa do meio ambiente.
Se você quer conhecer mais e ter a sua própria visão sobre quem são os indígenas brasileiros, para celebrar o dia 19 de abril, busque informação com os próprios. Ailton Krenak, Sônia Guajajara, Davi Kopenawa são só alguns nomes de indígenas que militam por seus povos e que têm muito a nos ensinar sobre quem eles são – e sobre nós também.
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Categorias: Povos da Floresta
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