Indígenas recusam vacina contra Covid: altera DNA, tem chip do diabo


A desinformação durante a pandemia de coronavírus no Brasil – muitas delas propagadas por representantes do governo federal – tem afetado a vacinação dos povos indígenas.

Muitos deles receiam tomar a vacina porque ela poderia alterar o seu DNA. A fala sarcástica do presidente Jair Bolsonaro de que não há garantias de que a vacina possa levar alguém a se transformar em um jacaré faz sentido na cosmologia ameríndia.

A antropóloga da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Reijane Pinheiro, explicou a El Pais que:

“A mentira de que a vacina contra a Covid-19 pode alterar o DNA é um dos principais argumentos que têm feito com que indígenas se recusem a se imunizar”.

Um levantamento feito com várias comunidades no norte do estado do Tocantins mostra que as fakes news das vacinas têm impactado negativamente o êxito da vacinação, porque muitos indígenas acreditam na teoria de que estariam sendo usados como cobaias.

Os indígenas somente foram considerados grupo prioritário na campanha de vacinação após forte mobilização de lideranças na Justiça. Dados do Ministério da Saúde registram 620 mortes de indígenas por Covid-19, mas não considera aquelas ocorridas fora de territórios homologados. A Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) calcula que esse número é muito maior, podendo chegar a 1.020 óbitos.

Chip do diabo

As informações falsas que circulam nas redes sociais não são as únicas fontes de descrédito das vacinas entre os indígenas. As rádios comunitárias também têm contribuído para esse desserviço. Segundo apurado por El Pais, muitas aldeias da região amazônica são visitadas por pastores evangélicos que pregam que a vacina contém um “chip do diabo”. Em apenas uma aldeia, 85 pessoas recusaram-se a receber a vacina por medo desse tipo de mentira.

A situação também é preocupante na região onde há a maior concentração de povos isolados do mundo, o Vale do Javari (AM), onde três comunidades foram abordadas por missionários e pastores evangélicos que levaram a narrativa de que a vacina colocaria a saúde dos indígenas em risco.

O coordenador-geral da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Paulo Kenampa Marubo, relata que um pastor evangélico está enviando fake news pelo WhatsApp para aldeias que têm acesso à internet. Junto com outras lideranças, ele passou a acompanhar as equipes de saúde para explicar sobre a segurança do  imunizante:

“Quando chegamos com a vacina, mesmo algumas lideranças de aldeia gritavam ‘meu Deus, eu não quero morrer, não posso tomar essa vacina porque não posso morrer agora!’ Foi difícil explicar que a vacina é justamente para não morrer”.

Historicamente, as vacinas sempre foram fundamentais para a sobrevivência dos povos indígenas, mas a razão de desconfiança, agora, tem embasamento, devido à judicialização da questão. De acordo com Pinheiro:

“A memória histórica das epidemias entre os povos indígenas é muito dolorosa, há traumas coletivos que ressaltam entre eles o caráter destruidor do contato com o mundo não-indígena, com o mundo dos brancos”.

A Apib, junto com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), lançou a campanha Vacina, parente! no intuito de conscientizar os indígenas sobre a importância da vacinação no combate ao coronavírus.

Não basta apenas a vacina chegar às aldeias, ela tem que estar acompanhada da conscientização.

Talvez te interesse ler também:

É possível injetar microchip através da vacina?

Ser contra o lockdown é diferente de ser contra a máscara

O capitalismo quer se livrar das pessoas porque não precisa mais delas




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...