A humanidade tem uma escolha a fazer: confiar na expertise dos povos tradicionais ou enfrentar a catástrofe ambiental


“O mundo está investindo muito dinheiro para implementar políticas públicas de combate às mudanças climáticas, ajudar na conservação e restauração. Mas essas políticas são feitas nos escritórios por especialistas técnicos com pouco ou nenhum conhecimento da Terra,” disse nesta terça-feira o líder indígena Tuntiak Katan, da etnia equatoriana Shuar.

Em entrevista ao periódico britânico The Guardian, ele afirmou que a humanidade tem uma escolha a fazer: confiar na expertise dos povos tradicionais ou enfrentar a catástrofe.

A declaração de Katano vai ao encontro do que a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos acaba de revelar. Em artigo publicado esta semana, os pesquisadores apontam que as zonas da floresta amazônica atualmente sob a administração dos povos indígenas são mais eficientes no sequestro de carbono da atmosfera do que as áreas com pouca proteção, o que resulta em menos desmatamento e degradação.

A fala do líder – que é vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), um coletivo que representa 9 países integrantes da Bacia Amazônica – também se sintoniza com as recentes descobertas do Woods Hole Research Center do Massachusetts. Um novo estudo do centro de pesquisa estadunidense demonstra que a expertise indígena segue sem concorrentes à altura: entre 2003 e 2016, 90% das emissões líquidas de carbono vieram de áreas externas às terras protegidas na Amazônia.

A reportagem do The Guardian também destacou que, na contramão do que recomenda não só a ciência, mas a ética humana mais básica, há no mundo um crescente sentimento anti-indígena. O jornal britânico citou, inclusive, a recente declaração de Jair Bolsonaro de que “os índios estão se transformando em seres humanos como nós”.

Enquanto o mundo desenvolvido dá respostas apáticas e pouco eficazes para a crise climática – como o demonstra o mais recente acordo esboçado pela ONU, alvo de crítica por todos os lados – Katan defendeu que os povos tradicionais do mundo inteiro, e não só na Amazônia, estão organizados e mais preparados que ninguém para enfrentar o maior desafio da humanidade hoje:

“Estamos bem coordenados com nossos irmãos e irmãs da Indonésia, do Congo, das comunidades do Ártico e do Pacífico. Temos discutido questões com nossos irmãos e irmãs de todas as partes do mundo […] Na Indonésia, por exemplo, eles também têm muito conhecimento sobre como gerenciar florestas tropicais. Mas a mesma história está sendo repetida aqui e em outras partes do mundo: a falta de reconhecimento do conhecimento tradicional e a falta de respeito pelos direitos humanos das populações indígenas”, declarou.

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Gisele Maia

Jornalista e mestre em Ciência da Religião. Tem 18 anos de experiência em produção de conteúdo multimídia. Coordenou diversos projetos de Educação, Meio Ambiente e Divulgação Científica.


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