“O mundo está investindo muito dinheiro para implementar políticas públicas de combate às mudanças climáticas, ajudar na conservação e restauração. Mas essas políticas são feitas nos escritórios por especialistas técnicos com pouco ou nenhum conhecimento da Terra,” disse nesta terça-feira o líder indígena Tuntiak Katan, da etnia equatoriana Shuar.
Em entrevista ao periódico britânico The Guardian, ele afirmou que a humanidade tem uma escolha a fazer: confiar na expertise dos povos tradicionais ou enfrentar a catástrofe.
A declaração de Katano vai ao encontro do que a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos acaba de revelar. Em artigo publicado esta semana, os pesquisadores apontam que as zonas da floresta amazônica atualmente sob a administração dos povos indígenas são mais eficientes no sequestro de carbono da atmosfera do que as áreas com pouca proteção, o que resulta em menos desmatamento e degradação.
A fala do líder – que é vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), um coletivo que representa 9 países integrantes da Bacia Amazônica – também se sintoniza com as recentes descobertas do Woods Hole Research Center do Massachusetts. Um novo estudo do centro de pesquisa estadunidense demonstra que a expertise indígena segue sem concorrentes à altura: entre 2003 e 2016, 90% das emissões líquidas de carbono vieram de áreas externas às terras protegidas na Amazônia.
This Indigenous leader went to Washington DC to demand protection for the Amazon.
Tuntiak Katan, from the Indigenous Organization of the Amazon River Basin, went to Congress ahead of the UN climate conference in New York next week. pic.twitter.com/GJzbMiYHp7
— AJ+ (@ajplus) September 21, 2019
A reportagem do The Guardian também destacou que, na contramão do que recomenda não só a ciência, mas a ética humana mais básica, há no mundo um crescente sentimento anti-indígena. O jornal britânico citou, inclusive, a recente declaração de Jair Bolsonaro de que “os índios estão se transformando em seres humanos como nós”.
Enquanto o mundo desenvolvido dá respostas apáticas e pouco eficazes para a crise climática – como o demonstra o mais recente acordo esboçado pela ONU, alvo de crítica por todos os lados – Katan defendeu que os povos tradicionais do mundo inteiro, e não só na Amazônia, estão organizados e mais preparados que ninguém para enfrentar o maior desafio da humanidade hoje:
“Estamos bem coordenados com nossos irmãos e irmãs da Indonésia, do Congo, das comunidades do Ártico e do Pacífico. Temos discutido questões com nossos irmãos e irmãs de todas as partes do mundo […] Na Indonésia, por exemplo, eles também têm muito conhecimento sobre como gerenciar florestas tropicais. Mas a mesma história está sendo repetida aqui e em outras partes do mundo: a falta de reconhecimento do conhecimento tradicional e a falta de respeito pelos direitos humanos das populações indígenas”, declarou.
Talvez te interesse ler também:
Indonésia passa o manejo florestal para as mãos indígenas: VITÓRIA!
Como sair da crise econômica? Dando terras aos índios, diz pesquisa
O maior genocídio de todos os tempos não foi o Holocausto, mas o dos povos indígenas
Categorias: Povos da Floresta
ASSINE NOSSA NEWSLETTER