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Não há nada, penso eu, que justifique qualquer tipo de atrocidade. Menos ainda, nada que possa justificar a incitação a tal ódio tamanho. O 1º de Maio de 2017, foi dia de genocídio no sertão do Maranhão – mataram os Gamela, etnia indígena que luta por suas terras ancestrais.
Esta luta é longa – a etnia Gamela (sertão do Maranhão) reinvindica, desde 2014, a posse de suas terras ancestrais atualmente ocupadas por fazendeiros e grileiros. Segundo essa reportagem d’O Globo são 14 mil hectares de terras indígenas ocupadas por fazendeiros e que estão em conflito.
As notícias de que o ataque seria eminente correram pelas redes sociais – os Gamela se retiraram pois estavam em muito menor número e seus oponentes, que eram muitos, estavam bêbados e sedentos de sangue: “Estavam bêbados. Já tínhamos nos retirado da casa, estávamos tomando o caminho de volta. Chegaram atirando e dando com pau e facão. Foi muito rápido, muito rápido”, diz um indígena ouvido pela equipe de comunicação do Cimi.
O ódio vai sendo disseminado pelas redes sociais e até em púlpitos de igrejas (no caso, a denúncia afirma que a Universal participou do chamado) e, a impunidade acontece em um estado que não defende a vida, assim como não defende os direitos humanos, ambientais, de sobrevivência em detrimento da propriedade privada, qualquer que ela seja. Mas, quem estava aqui nesta terra antes de chegarem os colonizadores, afinal?
É caso de polícia – mas, a polícia diz que não sabia, ou sequer que, sabendo, iria intervir. Aliás, a polícia alegou desconhecer que os Gamela fossem indígenas mesmo: como se importasse sua origem étnica para se coibir, ou permitir, seu assassinato, não?
Na reportagem do Congresso em Foco fica evidente que a polícia não fez nada:
“No momento do ataque, de acordo com os Gamela, a Polícia Militar estava no local e não interveio. Por volta das 20h30, o delegado Mário, de plantão da Delegacia Regional da Polícia Civil de Viana, afirmou por telefone à equipe do Cimi que não sabia ao certo o número de feridos Gamela por entender que na região eles não são vistos como indígenas“. E ao CIMI – Centro Indigenista Missionário, esse mesmo delegado afirmaria que “Tem uma questão aqui, que eles (Gamela) não são aceitos pela população local como sendo indígenas. Tem uma grande questão aqui sobre isso, eu mesmo não sei se eles são indígenas ou não são, até agora a gente não sabe, entendeu?”, disse o delegado. O Governo do Estado foi informado do ataque contra os Gamelas por intermédio da Secretaria Estadual de Direitos Humanos.
“Botou gasolina na fogueira que acenderam pra queimar o nosso povo. Não teve responsabilidade com as nossas vidas. As notícias que chegavam eram de uma concentração cada vez maior de fazendeiros pra nos atacar. Mobilizaram por celular e pelas rádios. Pegaram gente de outras regiões. Pensávamos que seria na (aldeia) Cajueiro, mas quando percebemos que seria no Povoado das Bahias, não tinha como ficar lá com tão pouca gente. Olha, foi um massacre”, destaca um outro Gamela presente na hora do ataque e que sofreu apenas escoriações.
O resultado deste massacre em Povoado das Bahías foi, até o momento, de 13 índios feridos, dois deles tiveram as mãos decepadas e cinco baleados:
“Estávamos nos organizando para recuar, quando os atacantes entraram por um portãozinho que dá acesso a casa [da fazenda] e foi tiro, pau, pedra e facão. Eram mais de 200 pessoas nos atacando. Ficamos cinco feridos de facão e arma de fogo. Um teve as duas mãos decepadas. Outros levaram tiro, corte de perna, tentativa de arrancar a perna. Eu levei um tiro no lado esquerdo da cabeça. Outro levou chumbo no rosto. Outras pessoas levaram paulada, então o número de feridos é maior. Esse ataque teve caráter de linchamento. A intenção era nos matar“, segundo realto do indígena Inaldo Kum´tum Akroá Gamela, 43, uma das lideranças do povo Gamela, ao Amazônia Real.
O líder Inaldo Kum´tum Akroá Gamela conta que, “o território tradicional da etnia foi alvo de grilagem na década de 70 e vendido a vários fazendeiros da região com conivência de cartórios dos municípios de Viana e Matinha nos anos seguintes. Desde os anos 70 nosso território tem sido invadido e grilado por fazendeiros que têm criação de búfalo, bode, gado. Já aconteceram outros embates. Justiça, polícia e políticos são todos contra nós em favor da grilagem. O resultado é que ficamos praticamente morando na beira da estrada“.
“Nossos lugares sagrados foram invadidos por fazendeiros e colocados pasto para gado neles. Não temos acesso aos recursos naturais para fazer os artesanatos, as cestarias. Há um processo aberto na Funai que está parado. Já fomos várias vezes lá e nos disseram que se encontrássemos profissionais para fazer o relatório antropológico adiantaria o processo. Apresentamos dois nomes de antropólogos, mas nada foi feito até agora”.
E você? O que pensa disso? Qual sua posição de humano perante o genocídio dos povos indígenas do nosso país?
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Categorias: Informar-se, Povos da Floresta
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