Ameaçadas até por drones: comunidades tradicionais estão sendo invadidas pelo poder empresarial


Quatro comunidades tradicionais que vivem às margens do rio São Francisco estão sendo invadidas pelo poder empresarial. Até drones sobrevoam a região, segundo os moradores.

O enredo se assemelha bastante ao do filme Bacurau, de tanto que a realidade parece ter se inspirado na ficção. Os moradores das comunidades de Itacarambi, Cabaceiras, Croatá e Januária, no norte de Minas Gerais, acusam dois megaempresários de estarem disputando terras com quilombolas e vazanteiros (que plantam nas vazantes do rio nos períodos de seca).

Interesse pela posse de terras

Uma reportagem de Daniel Camargos para o Repórter Brasil apurou a denúncia e descobriu que existem muitos interesses pela posse dessas terras. O latifundiário Walter Santana Arantes, que também é sócio das três maiores redes de supermercado mineiras (EPA, BH e Mineirão), está em conflito pelas terras onde vivem as comunidades quilombolas de Croatá. Já o proprietário da Brasnica Frutas Tropicais, Yuji Yamada, está de olho nas terras das comunidades vazanteiras de Barrinha e Maria Preta, em Itacarambi.

Os moradores de ambas as comunidades já foram ameaçados várias vezes por capangas e vaqueiros que dizem que, caso não haja acordo, eles terão de sair de suas propriedades na “marra”. Além das ameaças, os moradores relataram à reportagem que são vigiados por drones que sobrevoam as suas casas e plantações.

A razão da disputa, segundo apurado pelo Repórter Brasil, é a água. A Brasnica Frutas Tropicais construiu uma barragem na lagoa do Juazeiro, que deixou de dar peixe e de fornecer irrigação para as plantações da comunidade vazanteira de Maria Preta.

Maria Preta e outra comunidade próxima, a de Barrinha, estão sendo afetadas por um projeto do governo mineiro chamado Projeto Jaíba, que atraiu para a região empresários do mercado de frutas com a promessa de que poderiam usar os canais de água provenientes do rio São Francisco nas plantações.

Reconhecimento x reintegração

Os moradores de ambas as comunidades estão à espera do reconhecimento de povos tradicionais, mas o processo de demarcação de margens está paralisado na Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Como os moradores não têm o Termo de Autorização de Uso Sustentável, eles estão em uma espécie de limbo – situação que os deixa ainda mais vulneráveis com a pressão de ruralistas e empresários que buscam judicialmente a reintegração de posse das terras.

Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, o líder comunitário Reinaldo Pereira da Silva diz que houve uma mudança no tom das ameaças:

“Eles [fazendeiros] vêm para cima, andam armados e mostrando que estão armados”.

Os fazendeiros teriam a seu dispor o poder de uma milícia rural chamada Segurança no Campo, que conta com a participação de policiais.

Veja a reportagem completa AQUI.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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