Sonia Guajajara, liderança indígena e coordenadora de Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, foi convidada para abrir o IV Simpósio Internacional sobre Análise do Discurso, que ocorreu em Belo Horizonte de 14 a 17 de setembro. Sonia foi convidada para abrir o evento para falar sobre as vozes silenciadas das nações indígenas.
Em sua palestra, Sonia apresentou os seguintes dados: no Brasil, existem 305 povos indígenas e 274 línguas maternas, além de existirem mais de 80 povos autônomos, que escolheram viver no isolamento. 13% do território brasileiro são de terras indígenas, sendo que 98% desse percentual estão localizadas na Amazônia. Os indígenas que vivem nesses 98% das terras amazônicas encontram-se em situação de vulnerabilidade. Essas terras são comumente criticadas por parte da sociedade como improdutivas, mas elas são um espaço de preservação cultural, natural e de diversidade. A relação dos indígenas como a terra não é só de moradia, mas de sobrevivência.
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Segundo dados do CIMI, em 2014, 70 indígenas foram assassinados, 135 se suicidaram e 785 crianças foram a óbito. A violência contra os indígenas não é apenas por falta de terra para eles viverem, mas também porque lhes faltam saúde, educação e segurança. Outra forma de violência se dá pelo discurso, como a PEC 215, de autoria do ex-deputado Almir Sá, que quer transferir a responsabilidade da demarcação do Executivo para o Legislativo. O perigo dessa PEC é que, hoje, no congresso brasileiro, grande parte dos deputados é contrária à ampliação e à regulamentação de terras quilombolas, indígenas e de unidades de conservação.
Segundo Sonia, há 182 medidas tramitando no congresso sobre a questão indígena, incluindo a flexibilização das questões ambientais para legalizar a exploração econômica e retirar os direitos dos indígenas, que são amparados pela Constituição.
Outro problema comentado por Sonia é a fragilização da FUNAI, que hoje atua em condições precárias. Para agravar a situação, a instalação da CPI da FUNAI, para fiscalizar a suspeita de desvio de recursos no órgão, foi uma manobra de congressistas para incitar a violência contra os povos indígenas. A líder indígena alerta que a violência incentivada por parlamentares é executada por pistoleiros e respaldada pelos veículos de comunicação, que colocam a sociedade contra os indígenas. Isso só faz aumentar a discriminação sofrida por eles, que são colocados como os vilões que impedem “a ordem e o progresso”.
Sonia terminou a sua fala dizendo que as ações de resistência acontecem diariamente em Brasília, na FUNAI, em reuniões com governantes e representantes do agronegócio e nas aldeias. Há mais de 500 anos os povos indígenas brasileiros vêm sofrendo sucessivos golpes. Entretanto, são eles que, atualmente, mais contribuem para o clima com o seu modo de viver e, também, na atuação política, como forma não só de defender o planeta, mas a vida.
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