Povo Munduruku ameaçado com a construção de hidrelétricas na bacia do Tapajós


A bacia do Tapajós, no Pará, pode ser invadida por 43 hidrelétricas.

A maior delas é a de São Luiz do Tapajós, que tem 7,6 km de cumprimento e 543 m de altura. A sua barragem terá um reservatório de 729 km² (extensão maior do que a cidade de Salvador). Caso seja construída, provocará a destruição de 14 lagoas sazonais e perenes, mais de 7 mil hectares de área de pedrais – importante para abrigar diversas espécies de peixes, aves e morcegos –, 320 ilhas e 17 corredeiras.

Devido a esses , levantados pela ONG Greenpeace, mais de cem Munduruku estiverem no rio Tapajós, considerado sagrado pelo seu povo, para protestarem com faixas que diziam, em diferentes línguas, “Barre a barragem. Mantenha o rio Tapajós vivo”.

O Tapajós simboliza a cultura dos Munduruku e é uma fonte fundamental para o seu sustento, além de ser rico em biodiversidade. Caso a usina de São Luiz seja instalada na sua bacia, inundará cerca de 178 mil hectares da terra indígena Sawré Muybu, pertencente ao povo Munduruku. O processo de demarcação das suas terras foi interrompido por causa do interesse do governo em instalar na região a hidrelétrica.

“Se essa usina for construída, os impactos ambientais serão muito grandes e vão além da inundação da floresta. Os peixes que hoje vivem no rio morrerão, várias plantas não vão resistir e animais não terão o que comer. Uma coisa está ligada à outra. Quando um rio morre, muita coisa morre com ele. Se o rio Tapajós morrer, nosso povo ficará ameaçado”, diz Adauto Akay Munduruku, chefe do povo indígena.

A região do Tapajós tem uma biodiversidade muito rica, pois nela vivem espécies como o boto-cor-de-rosa, a onça-pintada, o tatu-canastra, que precisam circular livremente para procriar e se alimentar. Com a hidrelétrica, 376 km² de floresta vão desaparecer sob as águas.

Segundo Danicley de Aguiar, da Campanha Amazônia do Greenpeace, “ao insistir na construção de grandes hidrelétricas na Amazônia, o Estado brasileiro atropela direitos e ignora os riscos que o barramento dos principais rios da bacia amazônica pode causar ao equilíbrio ambiental de todo o bioma, ameaçando uma biodiversidade inestimável e vasta riqueza cultural dos povos indígenas da região. O reflexo disso será sentido por todos os brasileiros”.

De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), encomendado pelo Greenpeace, há problemas considerados graves que inviabilizam a avaliação dos efeitos que a construção de São Luiz do Tapajós pode causar. O Ibama realizou uma análise de mérito sobre o EIA e apresentou cerca de 180 pontos a serem complementados.

A Amazônia não pode ser destruída a qualquer preço. Existem alternativas “limpas” para a geração de energia, como a solar e a eólica, que não destroem as florestas e seus povos.

Na opinião de Aguiar, o licenciamento da obra deveria ser negado pelo Ibama, pois, caso contrário, o governo estaria consentindo em destruir uma das mais importantes áreas de preservação ambiental da Amazônia.

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Fonte foto: youtube




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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