Os produtores de cachaça da cidade de Abaíra, na Chapada Diamantina, interior da Bahia, receberam com entusiasmo o anúncio do novo acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Para eles, trata-se de uma oportunidade para expandir os negócios e ver seu produto reconhecido mundialmente, uma vez que a parceria com os europeus prevê a proteção de 36 produtos tipicamente brasileiros. Entre eles, a cachaça, claro.
A Cachaça Abaíra representa uma tradição de mais de 200 anos, mantida viva por pequenos produtores da cidade e arredores.
O queijo Canastra, a linguiça Maracaju e o café Alto Mogiana são outros produtos tipicamente brasileiros que entraram na lista.
O reconhecimento da indicação geográfica de cada um deles visa não só à sua valorização, como os protege de imitações mundo afora: são vetadas, pelo acordo, expressões como “tipo”, “estilo” e “imitação”.
Hoje, os produtores artesanais da cachaça local andam desmotivados, segundo um de seus representantes. Apesar da cooperativa faturar mensalmente entre 45 e 50 mil reais, essa cifra poderia ser bem maior e a atividade, gerar muitos postos de trabalho. Dificuldades na distribuição e escoamento da produção são alguns dos entraves que enfrentam, impedindo o funcionamento a todo vapor.
“Isso [o acordo] ainda é uma coisa que é nova e estamos ainda com o pé atrás. No entanto, a nossa expectativa é voltar a exportar, coisa que a gente não faz há cerca de 15 anos, por conta das dificuldades desse processo. O nosso maior problema hoje em dia é justamente escoar o produto e, se a gente conseguir virar esse jogo e ainda exportar, não tenho dúvidas de que nossa produção pode aumentar em até 10 vezes”, afirmou para o Jornal da Chapada, Junael Alves de Oliveira, presidente da Cooperativa dos Produtores de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaíra (Coopama).
Segundo Juanel, atualmente, o alcance da distribuição se limita a grandes cidades baianas, como Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, e alguns estados como São Paulo, Minas Gerais e Sergipe.
“Se a gente conseguir aumentar o escoamento, retomar as exportações ou mesmo aumentar as vendas no mercado brasileiro, eu garanto que a nossa produção pode ser até 10 vezes maior e vamos gerar muito emprego. Hoje, exportar é um negócio complicado. Para a gente exportar, teria que ter alguém afinado no ramo para fazer essa ponte para a gente recomeçar a vender lá para fora “, destaca Junael.
A aproximação com o mercado europeu é vista como um estímulo para que outros produtores voltem a fabricar o produto. A Europa é um dos principais consumidores mundiais da cachaça brasileira e tem a fama de valorizar produtos artesanais autênticos.
“A partir do momento que o mercado europeu reconhece que esse produto, ele o tem como confiável e esse mercado se abre. Esse reconhecimento tem o objetivo de proteger os elos, da cadeia produtiva e do consumidor. O consumidor, ao adquirir o produto, sabe que está comprando um produto típico. O pacto, por tanto, fortalece a possibilidade de exportação porque torna o produto diferenciado no mercado. E os europeus valorizam muito os produtos autênticos, de origem controlada”, afirma o assessor jurídico da cooperativa e da associação dos produtores de cachaça de Abaíra e região, Felipe Toé.
Mas o estreitamento de laços com a União Europeia ainda gera muitas dúvidas e divide opiniões no Brasil. Há o receio de que o acordo beneficie mormente as grandes empresas interessadas na exportação. De qualquer forma, as medidas de proteção dos produtos artesanais brasileiros, celebrada pelos produtores de cachaça, ainda precisa ser aprovada por todos os países membros do bloco europeu. Caso se chegue a um modelo justo de negociação, poderá servir de exemplo, com a tradição caminhando de mãos dadas com o desenvolvimento econômico.
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Categorias: Green Economy, Informar-se
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